O lugar do mundo do ‘Road Racing’

Por a 23 Novembro 2017 17:11

Num ano que está a ser negro para o motociclismo de velocidade a manhã do último sábado trouxe consigo mais um capítulo triste para as duas rodas com o desaparecimento de Daniel Hegarty na corrida do Grande Prémio de Motos de Macau após uma violenta queda na Curva dos Pescadores.

Este infortúnio já não sucedia na antiga colónia portuguesa desde 2012. Aí foi o nosso Luís Carreira o vitimado e precisamente na maldita Curva dos Pescadores. O trágico desaparecimento de Daniel Hegarty fez rapidamente reacender o sempre polémico debate em torno das corridas de ‘Road Racing’ ou seja aquelas que não se disputam em circuitos permanentes.

Mais do que o mítico Grande Prémio de Macau, realizado anualmente no Circuito da Guia, o expoente máximo deste tipo de eventos é o Tourist Trophy da Ilha de Man, um certame de culto por terras de Sua Majestade e que tem uma dimensão, onde mesmo quem não é amante do desporto motorizado já pelo menos ouviu falar uma vez desta competição. Pode é não ter sido pelas melhores razões, mas adiante.

Em vez de puxar o gatilho, disparar um ódio visceral a este tipo de corridas e catalogá-las como um ‘convite para a morte’ é preciso tentar compreender um pouco melhor a ‘coisa’. Em primeiro lugar e talvez mais do que em qualquer outro campeonato de motociclismo ninguém é obrigado a participar nestes eventos.

Para além da questão do livre arbítrio é importante sublinhar que os pilotos que tomam o lugar à partida nas contendas de ‘Road Racing’ são na sua esmagadora maioria, homens muito experientes e que sabem melhor do que ninguém que o limite da máquina que têm em mãos é sempre superior ao seu próprio limite enquanto pilotos.

Falamos de homens que não procuram atingir o ‘Olimpo’ em termos monetários, mas acima de tudo pretendem ser distinguidos como alguém que coloca, em cada metro de asfalto, a sua paixão pelas corridas ao dispor dos apaixonados que vêem passar, literalmente à porta da sua casa, estes heróis dentro de uma arena sem delimitação.

É um Império dos Sentidos que provoca emoções ímpares em quem está a competir e também a quem tem o privilégio de pelo menos uma vez na vida assistir a tamanha demonstração. E isso é o que pretendemos atingir quando assistimos a um evento desportivo seja ele de que modalidade for. Sentir emoções com o que nos entra pelos olhos dentro, neste caso singular a alta velocidade.

Dirão os leitores que tudo isto é muito bonito, mas os perigos são mais do que muitos. Sim é verdade, mas estes não existem apenas nas provas em circuitos citadinos, pois nos traçados permanentes volta e meia, felizmente agora muito menos, surge um acontecimento trágico.

Quem não se lembra do fatídico acidente de Luís Salom durante o GP da Catalunha de Moto2, em 2016, ou a relativa facilidade com o que os pilotos lesionam alguma parte do corpo numa queda um pouco mais aparatosa num circuito permanente. Isto já para não falar do que sucede frequentemente nas  ditas disciplinas de off road.

Para finalizar recordo o que disse uma pessoa, com a qual tive o privilégio de trabalhar durante o início da minha carreira profissional como jornalista de desporto motorizado, e que sintetiza muito bem as linhas atrás escritas.

“Existem apenas duas opções quando estamos na linha de partida. Ou queremos ou não queremos. As corridas de motos são mesmo assim. Se não as sentimos, nem vale a pena”.

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