Crónica: ASO com decisão acertada… desta vez

Por a 3 Janeiro 2016 18:03

As fortes tempestades que assolaram a região argentina de Córdova misturaram chuvas intensas com trovoada e impediram que os helicópteros da organização do Dakar levantassem voo, impedindo assim que a ASO levasse a cabo a primeira verdadeira etapa da prova, que deveria ligar Rosário e Villa Carlos Paz.

Imperou o bom senso perante condições dantescas mas, por outro lado, é lícito perguntar se a organização tinha mesmo alguma alternativa a partir do momento em que os helicópteros não podiam voar. É que abundam no passado exemplos de etapas disputadas em condições de segurança muito discutíveis…

Vem à memória imediatamente a tirada de 2015 no Salar de Uyuni, a maior planície salgada do planeta, igualmente assolada por uma tempestade que provocou uma pequena rebelião entre os motards. Muitos deles abanavam a cabeça perante as câmaras de TV no momento do arranque mas não tinham alternativa se não cumprirem as obrigações para com as suas equipas e os seus patrocinadores. O certo é que essa etapa na Bolívia provocou problemas em grande parte do pelotão e foi aí, por exemplo, que Joan Barreda Bort perdeu a liderança para o eventual vencedor, Marc Coma.

Em 2014 a ASO optou por cumprir a quinta etapa no Chile com temperaturas ambiente que chegaram aos 47º C (!) e que levaram vários concorrentes a terem de ser resgatados de helicóptero devido a desidratação extrema e alucinações devido ao calor. Foi nesse dia que a Honda de Paulo Gonçalves ardeu perante o desespero do piloto português e foi nesse dia também que o belga Eric Palante perdeu a vida, ao que tudo indica devido ao calor extremo.

Bom senso

Nos meandros do Dakar, é conhecida a tática da ASO de colocar etapas de dureza extrema logo na primeira semana também para reduzir o pelotão da prova logo nessa fase, reduzindo o esforço logístico de ‘levar’ centenas de concorrentes para a segunda semana.

Não tenhamos dúvidas: esta é a mais dura e exigente prova de TT do mundo. Fazer um Dakar não é para todos, como ficou comprovado pelo acidente da chinesa Guo Meiling, uma milionária da indústria farmacêutica da China que ‘comprou’ um lugar na MINI/X-Raid sem nunca ter feito uma verdadeira preparação para o Dakar. Infelizmente, os resultados estão à vista…

Mas, mesmo sem esquecer o enorme desafio humano que é o Dakar, também é verdade que muitas vezes se ultrapassa o limite do admissível. Esperemos que o facto da direcção desportiva estar agora entregue a alguém como Marc Coma, que conhece estas exigências como ninguém, contribua para que o bom senso impere nesta e noutras decisões. É que a lista de tragédias no Dakar já vai longa…

Ricardo S. Araújo

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