Pit Beirer da KTM: “o homem do motocross”
O Diretor de Competição da KTM recorda algumas das suas maiores conquistas em Motocross, e fala do que é preciso para ser Campeão
Um dos tópicos que foram abordados numa entrevista da MotoGP foram os dias de motocross de Beirer. No final dos anos 90 e início dos anos 00, Beirer foi um dos melhores pilotos do palco mundial e o alemão discute como e porque entrou na modalidade.
“Ainda pensam que quero pôr pneus de terra ou algo assim na moto!“
“Para mim, era ficar nesta pequena aldeia na Alemanha, onde não havia outra opção senão trabalhar para a pequena empresa do meu pai, ou ir lá para fora e perseguir um sonho”, diz Beirer, que perseguiu e viveu o seu sonho. “Trabalhas tantos anos para te tornares piloto profissional, e quando assinas o teu primeiro contrato e consegues ganhar dinheiro, foi tão bom tornar-me profissional e viver disso. Estive uns anos entre os três primeiros no Campeonato do Mundo, ganhei bom dinheiro. Melhor do que num trabalho habitual. É uma parte da tua vida que é tão boa que nunca mais queres voltar ao normal. A satisfação de ser um desportista profissional, é algo com que as crianças devem sonhar, porque não se torna melhor do que isto. A fazeres o que gostas, nunca trabalhas um dia na vida. Fazer desporto ser pago por isso… que mais se pode pedir?”
Beirer debruça-se então no que é preciso para ser um multi-campeão mundial: “Quero dizer sobre o talento dos pilotos, como Vale e Marc, eu nunca fui um sobredotado, mas há muitos pilotos que trabalham duro e têm talento assim-assim, e outros com um enorme talento, e não estão prontos para se dedicar ao trabalho. Os grandes campeões têm as duas coisas.”
“Eles têm super talento e gerem tudo à sua volta, colocam-se no lugar certo no momento certo, mas também estão prontos para trabalhar mais duro todos os dias do que os outros. Caso contrário, não se pode ser campeão (…) se vires um campeão a sério, ele é campeão porque tem talento e porque trabalhou mais do que os outros.”
A conversa passa então para alguns dos momentos de que Beirer mais se orgulha na sua carreira de motocross que se estendeu de 1989 a 2003, e incluiu sete vitórias.
“Houve um momento em que ganhei em 1991, ganhei ainda miúdo, o GP de MX alemão. Ganhar um Grande Prémio de Motocross no teu próprio país e ouvir o hino nacional no final do dia são emoções que não se conseguem descrever. Queres rir, chorar, abraçar o mundo inteiro. Ganhar um GP, especialmente um GP em casa, é algo excelente que te seguirá sempre para sempre. Tive um par de vitórias em GP, outra grande na Alemanha alguns anos depois – estas vitórias no país de origem são tão especiais. Mas também recordo duas ou três corridas em que dominei o Motocross das Nações, a única altura do ano em que se pode conhecer todos os tipos dos EUA, juntamente com os europeus.”
“Ganhei em 1997, na Bélgica, por isso, vês estas datas e o nome da pista, mas esqueces-te de muitos dos outros. Mas é claro que há algumas corridas especiais e como eu não era um multi-campeão e vencedor nato, as vitórias de GP em casa são muito especiais. Quer dizer, havia campeonatos alemães, até havia um campeonato suíço, estava sempre a mudar-me para equipas que achei melhores para ganhar campeonatos. Estava sempre pronto para sair de casa e estar num lugar sozinho algures no campo, onde pensava que tinha as melhores possibilidades. Mas todas estas coisas não foram nada comparadas com ganhar um GP. Ainda é algo muito especial, sinto-me sempre emotivo na tarde de domingo quando vejo os pilotos no pódio. Eles conseguem algo especial e isto é algo muito bom.”
Beirer explica que ainda é chamado “o tipo do motocross” na boxe da KTM e como o seu passado de motocross o preparou para algumas das coisas com que tem de lidar no seu papel na fábrica austríaca.
“Sim, quero dizer, OK, ainda estou a lutar contra o facto de me chamarem o tipo do motocross. Ainda pensam que quero pôr pneus de terra ou algo assim na moto! Não sou o único no paddock, acho que um ex-piloto pode ser um bom manager, mas também direi que nem todos os ex-pilotos podem ser bons managers! Quer dizer, acho que é como gerir a minha própria equipa com o meu próprio pessoal, passar documentos na alfândega – acho que a maioria dos pilotos nem sabem o que é um carnet, mas eu tive de o fazer. Tive de preparar viagens ao exterior, embalar a moto, pagar aos mecânicos, cozinhar para eles, organizar um lugar para dormir, todas estas coisas ajudaram-me muito, pois é exatamente isso que estamos a fazer agora. Somos apenas muitas mais pessoas!”
“Se já se fez tudo sozinho uma vez, acho que isso ajuda muito do lado organizacional. Não era um piloto com empresário, que só vinha com a escova de dentes para as corridas e perguntava: “Onde está a mota?” Eu estava lá quando ajustávamos o motor, ou a trabalhar na suspensão. Por isso, olhando para trás, isso foi difícil para mim como piloto, já que não era um piloto com apoio de fábrica, mas acabou por ser melhor para o meu futuro ter passado por tudo isso. O piloto em mim ajuda a entender todos na garagem ou na pista de motocross, acho que sou um bom interface entre todos, mecânicos, pilotos, patrocinadores, porque é tudo sobre manter as pessoas felizes e garantir que todos estão na posição certa.
“Não preciso de saber construir a melhor moto, só tenho de ter o tipo certo para construir a melhor mota. Mas todos os melhores especialistas não são nada se não se encaixarem como uma equipa. Por isso, acho que aí tens uma vantagem como ex-piloto, sabes como é que um piloto se sente quando está a duvidar de alguma coisa, não o ajuda se lhe disseres: “Sim, mas o teu colega de equipa está mais rápido na mesma mota, vai para a pista e anda”. Não, tens de ouvir e dar-lhe o que ele precisa. E sim, acho que é uma vantagem ter sido piloto antes.”