MotoGP, 2020: Portimão pode ser o decisor

Por a 18 Agosto 2020 14:00

Não resistimos a reproduzir aqui um excerto da mais recente crónica de Nick Harris, prestigiado ex-comentador de MotoGP agora reformado, que reflete sobre as suas visitas a Portugal a propósito do regresso da MotoGP ao nosso país no final do ano.

Como ele diz, não só o MotoGP regressa a Portugal, como a última ronda em Portimão pode muito bem decidir o Campeonato, se as primeiras quatro corridas incríveis forem uma indicação de como tudo vai estar próximo.

Depois de oito anos de ausência, Portugal faz um regresso bem-vindo em Novembro para continuar um património de corrida que, estranhamente, começou em Espanha há 33 anos.

De facto, os dois primeiros Grandes Prémios de Portugal não se realizaram em Portugal. O primeiro realizou-se nos arredores de Madrid, no circuito de Jarama, em Setembro de 1987. Foi uma corrida crucial e a última da temporada na Europa com as duas últimas rondas no Brasil e Argentina.

Não só foi uma corrida que teria influência no resultado do Campeonato, como me valeu uma viagem paga à penúltima ronda em Goiania, no Brasil.

Wayne Gardner terminara em quarto lugar na corrida de 37 voltas atrás de Eddie Lawson, Randy Mamola e Kevin Magee. Como consequência, o meu produtor da BBC em Londres, homem de poucas palavras, mandou-me uma simples mensagem para reservar voo para o Brasil.

É que Gardner tinha construído uma relação fantástica com os ouvintes da BBC com histórias das suas aventuras no Mundial. Como quando lesionou o pulso a fazer um braço-de-ferro no ferry para a Holanda e um médico do circuito receitou-lhe um supositório em vez de um analgésico, com resultados desastrosos que se podem imaginar durante uma corrida, para citar apenas uma.

O seu quarto lugar em Jarama deu-lhe a oportunidade de conquistar o Campeonato do Mundo de 500cc na penúltima ronda no Brasil e a BBC queria estar lá. Transformou-se na decisão perfeita, com Gardner a ganhar o título duas semanas depois, mas isso é outra história.

Na época seguinte, Portugal continuou no calendário do Mundial, mas num novo circuito e ainda não em Portugal. Jerez encenou a corrida, ganha novamente por Eddie Lawson.

Depois, tivemos uma espera de 12 anos antes do próximo Grande Prémio de Portugal mas, finalmente, aconteceu, no Autódromo do Estoril.

Conhecia a pista, a rota do aeroporto e os tempos de voo como a minha mão, porque tinha passado tanto tempo lá nos seis anos anteriores. Foi a pista de testes da Renault Williams Rothmans na Fórmula 1.

Lançámos a equipa lá em 1994 com Ayrton Senna e o talentoso piloto de motociclismo Damon Hill e foi lá que eu vi o David Coulthard ganhar o seu primeiro Grande Prémio.

Costumava dizer aos rapazes da F1 que precisavam de um Grande Prémio de MotoGP no Estoril para mostrar o verdadeiro potencial do circuito. Finalmente em 2000, o Estoril recebeu um Grande Prémio de MotoGP e Garry McCoy não nos desiludiu.

O australiano mal tocou no chão para conseguir uma vitória memorável na primeira corrida em solo português da história.

Nos 12 anos seguintes, o Estoril foi um dos nossos destaques da temporada. Quem poderia esquecer a queda de Pedrosa com Hayden em 2006 e a vitória de Toni Elias na mesma corrida depois de Kenny Roberts celebrar a vitória uma volta cedo demais?

O imperioso Jorge Lorenzo (na foto principal, Schwantz) venceu três vezes seguidas, enquanto Valentino Rossi venceu quatro consecutivas, ao dominar a perseguição ao título tanto na Honda como na Yamaha. Juntem a isso as atrações da costa atlântica, a vida noturna e os restaurantes de Cascais e ver o Benfica jogar futebol na sexta-feira à noite e foi quase perfeito.

Quem poderia esquecer o último Grande Prémio, em 2012, ganho por Casey Stoner na Honda? Portugal estava em crise e os organizadores baixaram os preços dos bilhetes, resultando num recorde de público.

Há cinco anos, voei para a fase final do Campeonato do Mundo de 2015, em Valência, via Lisboa. Foi o ano em que Miguel Oliveira estava mesmo a pressionar Danny Kent, para o título de Moto3 depois deste ter vencido seis Grandes Prémios quase de enfiada até Setembro.

Com Kent a vacilar no Outono, Oliveira aumentou a pressão com três vitórias. O piloto português venceu em Valência, e falhou por apenas seis pontos para impedir que Kent conquistasse o título. O voo para Lisboa, na manhã desta segunda-feira, não só incluía Oliveira como vários adeptos patrióticos, apaixonados e de ressaca do MotoGP português.

Lamento a perda do Estoril para estes adeptos, pois o país lutou com dificuldades, mas agora, foram recompensados. Portimão parece um magnífico circuito para herdar o manto do Estoril. O lugar de Oliveira num pódio de MotoGP não pode estar longe e a cereja no topo do bolo, é que o Campeonato do Mundo poderia muito bem ser decidido no Algarve a 22 de Novembro.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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