MotoGP, 2020, Áustria: A KTM pode manter o ritmo em casa?

Por a 13 Agosto 2020 15:00

Desde 2003 que não havia uma primeira vitória para um fabricante na classe rainha, mas foi exatamente isso que a KTM conseguiu em Brno, quando Brad Binder (KTM Red Bull Factory Racing) dominou no circuito checo para escrever não um, nem dois, mas uma série de capítulos nos livros de recordes.

O estreante, que venceu apenas na sua terceira corrida de MotoGP, junta-se a Marc Márquez, Jorge Lorenzo e Dani Pedrosa na lista de rookies recentes que conseguiram esse feito, e tornou-se o primeiro vencedor Sul-africano da classe rainha a fazê-lo. Antes, tinha havido nomes vencedores dessa região, como Gary Hocking ou Jim Redman, mas de nacionalidade Rodesiana. O momento dificilmente poderia ter sido melhor para levar a KTM ao primeiro degrau do pódio pela primeira vez, já que agora nos dirigimos para o seu território de casa, no espetacular Red Bull Ring.

Apostar contra a possibilidade de Binder e KTM alcançar o feito a dado momento na época teria sido fútil: o Sul-africano nunca deixou de impressionar com o seu impecável recorde nas corridas de Grande Prémio, e a fábrica austríaca tem vindo a avançar para os corredores desde que se juntaram à grelha de MotoGP a tempo inteiro, às vezes por décimos e centésimos, outras vezes em saltos que serviram de aviso para o resto do plantel. Mas fazê-lo pela terceira vez juntos é realmente algo. Agora, a questão é, se o podem fazer de novo?

No canto laranja, há Binder, entusiasmo, e um monte de dados de testes recentes. Acrescente-se a isso a experiência de Pol Espargaró (KTM Red Bull Factory Racing), o primeiro finalista no pódio para a marca, e o Miguel Oliveira (KTM Red Bull Tech 3) sempre em melhoria, que obteve o seu melhor resultado da época no ano passado no GP da Áustria, e é improvável que tenha sido um acaso. Mas, mesmo se a KTM vão correr para ganhar e sabem que podem, há alguns nomes no seu caminho na Áustria.

A Ducati venceu aqui sempre, desde que o MotoGP corre na pista e o homem que levou metade dessas vitórias lidera o canto vermelho: Andrea Dovizioso (Ducati Team). O ataque na última curva do ano passado para vencer foi um dos grandes momentos da história do MotoGP, e a pista é feita para a marca.

2020 está a revelar-se uma temporada de corridas mais difíceis até agora, no entanto, com a fábrica de Borgo Panigale em maus lençois para replicar a sua forma das últimas temporadas. Se há uma pista para dar a volta por cima, seria a Áustria! Então, pode Dovizioso voltar ao topo? Pode Danilo Petrucci (Ducati Team) voltar à luta pela freente? E Jack Miller (Pramac Racing), que só perdeu um pódio à justa no GP de Espanha e estava na luta na Andaluzia antes de um acidente? Brno terá sido um mau momento para eles?

Se foi, certamente não foi para Johann Zarco (Ducati Avinti Esponsorama).

O francês fez o primeiro pódio da equipa, voltou à luta pela primeira vez desde a Malásia em 2018, e fê-lo a partir da pole e depois de uma Penalidade de Volta Longa. Um dos momentos mais espetaculares da corrida, que não se diz muitas vezes, Zarco não deixou que isso o atrapalhasse. E na Áustria, ele está na moto que ganhou no ano passado…

Depois temos o canto azul, e a Yamaha. O Red Bull Ring não joga com os pontos fortes da marca de Iwata, que nunca terminou aqui acima do terceiro lugar. Qual será a sua abordagem? Fabio Quartararo (Yamaha Petronas SRT) certamente passou por momentos mais difíceis em Brno, quando chegou a casa em sétimo lugar, o seu pior resultado desde a Malásia no ano passado, mas o francês manteve-se, assumiu os pontos e, por isso, ainda aumentou a sua liderança no Campeonato. Não houve quedas ou erros tolos, apesar da luta ser difícil, e é apenas a sua segunda temporada. É também um dos pilotos da Yamaha que levou o melhor resultado de terceiro lugar na Áustria.

O seu companheiro de equipa Franco Morbidelli, entretanto, deu a volta por cima e subiu ao seu primeiro pódio de classe rainha em Brno, fugindo da linha e desafiando o resto a apanhá-lo se pudessem. Infelizmente para o italiano, Binder conseguiu, mas foi o melhor que vimos dele. E o que pode fazer Valentino Rossi (Yamaha Monster Energy)? Mostrou alguma velocidade no Red Bull Ring, de vez em quando, pois tem estado na primeira fila desde que o MotoGP regressou ao recinto, e subiu ao primeiro pódio da Yamaha na pista em 1996… e ainda há Maverick Viñales (Yamaha Monster Energy)…

O espanhol foi segundo atrás de Quartararo nas duas primeiras corridas do ano, e está no ritmo do Campeonato. Mas Brno foi um Domingo muito difícil, com o número 12 eventualmente cruzando a linha em 14º. “Voltar à luta” será um chavão na Áustria, mas em termos da luta pelo título até agora, é Quartararo que precisa de estar atento a uma pista mais difícil para a Yamaha.

Para a Honda, a Áustria poderia provavelmente revelar-se um local melhor do que Brno, onde os quatro pilotos pareciam em dificuldades. Depois daquele fim de semana difícil e ainda sem Marc Márquez, que é novamente substituído por Stefan Bradl, será interessante ver o que podem fazer.

Takaaki Nakagami (Honda LCR Idemitsu) tem sido o homem da frente até agora, mas poderá o colega de equipa Cal Crutchlow (Honda LCR Castrol) recuperar? E o que pode Alex Márquez (Honda Repsol) fazer, sofrendo, como agora está, de um grave défice de pontos para o outro rookie Binder?

Finalmente, Suzuki e Aprilia vão enfrentar dois fins de semana diferentes pela frente. Para a fábrica de Hamamatsu poderia muito bem ser mais difícil, uma vez que a pista é um desafio no papel, dado os pontos fortes da sua moto, embora Alex Rins (Suzuki Ecstar) tenha dado espetáculo em Brno, apesar de ainda estar a recuperar de lesão e, evidentemente, não ficará parado.

O seu colega de equipa Joan Mir sofreu algum azar quando foi abalroado, mas a Áustria trará melhores memórias: conseguiu a sua primeira vitória em Grande Prémio em Moto3 aqui, e voltou a fazê-lo no ano seguinte.

Aleix Espargaró, da Aprilia Racing, vai tentar dificultar-lhes a vida, uma vez que Brno o viu igualar o melhor resultado em MotoGP para a fábrica de Noale na qualificação e depois ficar entre os dez primeiros. Com a sua máquina de 2020, o Red Bull Ring provavelmente parece bastante apetitoso para a Aprilia…

Numa era de surpresas, Binder não se inibiu em Brno para fazer história. Agora é recarregar parea a corrida em casa da KTM e mais um fim de semana de corridas incríveis está garantido…

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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