Moto GP, história: Quase, quase, Luca Cadalora

Por a 29 Abril 2020 16:00

Outro piloto pouco lembrado, embora agora apareça na MotoGP como “coach”, nomeadamente ao lado de Valentino Rossi, Luca Cadalora, que nasceu a 17 de Maio de 1963 em Modena, na Emilia Romagna, competiu em Grand Prix de 1984 a 2000. Apesar de nunca ter ganho o Mundial de 500, foi vice-Campeão em 1994, dai a sua inclusão nesta lista dos quase-quase. Porém, Cadalora ganhou corridas nas 3 classes de Grande Prémio e é tricampeão mundial de velocidade, com um título na classe de 125 e dois na classe de 250.

Cadalora iniciou a sua carreira profissional de motociclismo em 1984, montando uma MBA no campeonato mundial de 125cc. Em 1986, venceu o Campeonato Mundial de 125cc enquanto pilotava para a equipa oficial da Garelli. O seu sucesso valeu-lhe uma promoção à classe 250cc com a equipa de fábrica Yamaha Marlboro de Giacomo Agostini em 1986.

Em Julho de 1989, com as praias de Misano Adriatico repletas de veraneantes e os hotéis esgotados, os Fórmula 3 estavam a correr no circuito local. Por volta das 12h30, porém, um silvo emocionante, que não tinha nada a ver com o barulho de um Fórmula 3, entrou no circuito.

Era uma moto, para ser preciso uma Yamaha YZR 500 do Team Agostini, e tinha um muito jovem Luca Cadalora a conduzir. Ago confiou-lhe a moto de Freddie Spencer, que Luke iria substituir em Donington Park duas semanas depois. E em apenas 38 voltas, o jovem campeão de Modena igualou os tempos dos melhores pilotos dos 500. Duas semanas depois, em Donington Park, onde a sua primeira e única experiência da temporada foi consumada, terminou a corrida em oitavo lugar, logo atrás do lendário Ron Haslam e à frente do muito mais experiente Rob McElnea.

Que o Luke era um dos maiores talentos do motociclismo estava fora de questão, mas poder chegar ao limite um 500 em tão poucas voltas era “coisa séria”, e nesta realmente surpreendeu toda a gente. Olhando para trás, o próprio não podia acreditar que o tinha feito na altura, mas permaneceria nas 250 ainda algum tempo.

Em 1991, Cadalora mudou-se para a equipa da Honda Rothmans e venceu o Campeonato do Mundo de 250cc a bordo de uma Honda NSR250, afinada pelo mítico Erv Kanemoto. Depois, defendeu com sucesso o título com a Honda em 1992, conquistando o seu terceiro título mundial.

Nas quarto de litro era inegavelmente o número um e, por conseguinte, a mudança para as 500 era quase inevitável.

Campeão do mundo de 125 em 1986 com a Garelli do Team Italia, e duas vezes campeão do mundo nas 250 com a Honda de Kanemoto em 1991 e 1992, Luca voltou a montar uma 500 oficial em 1993, quando foi escolhido por Kenny Roberts para flanquear, na YZR 500, o tricampeão mundial Wayne Rainey.

Logo, em 1993 subiu à divisão de 500cc, como companheiro de equipa de Rainey na equipa Yamaha Roberts. Durante anos, ganhar o título da classe rainha era o seu único objetivo, mas por uma razão ou outra nunca conseguiu alcançá-lo.

O piloto de Modena entrou na primeira classe pela porta da frente, na Yamaha Marlboro, embora numa posição desconfortável como companheiro de equipa do monumental Wayne Rainey, que já tinha vencido três títulos consecutivos com a equipa de Kenny Roberts, e era a referência absoluta para a Yamaha.

Nesses anos, dominar uma 500 era uma questão de estilo, mais do que pilotagem. Travar no limite, atirar a moto para a curva, endireita-la e acelerar a fundo o mais cedo possível… Se correr bem, funciona, caso contrário são quase 200 cavalos a dar-nos uma chicotada que nos cospe por cima do guiador e atira a dois metros de altura.

O estilo correto para lidar com isso vinha das pista de terra, dai o domínio americano, e a configuração da moto passava por torna-la o mais rígida possível com suspensão muito dura, que opor sua vez desgastava os pneus prematuramente, dando uma pronunciada queda de desempenho nas últimas voltas.

Em resumo: condução violenta e cheia problemas (como Roberts impôs e Rainey seguiu) foram os mantras dos anos 80 e 90.

Para Cadalora, uma 500 assim tinha tudo para não funcionar. O Italiano era um purista, com estilo suave, preciso, atravessando a moto pouco ou nada lateralmente, dependendo de orientação técnica na afinação e não força bruta.

Sabia que tinha razão, sabia que com a moto certa e afinada de forma correta, podia ganhar! E depois do acidente do Rainey em Misano, naquele maldito verão de 93, os factos provaram-lhe que estava certo. Convenceu Roberts a afinar a moto como queria e não como a equipa decidira que devia ser, e as vitórias vieram.

Nesse ano, recolheu dois sucessos em Donington Park e Misano Adriatico, mas o sucesso de Misano foi também o mais triste da sua carreira. Foi, de facto, nesse dia 5 de Setembro, e na curva 1 de Misano, que Wayne Rainey perdeu o controlo da sua Yamaha e ficou numa cadeira de rodas para sempre.

Em três temporadas na Yamaha, mostrou flashes de brilhantismo, terminando como segundo atrás de Mick Doohan em 1994.

Meticuloso, como todos os maiores campeões da história, Luca sempre lamentou a falta de competitividade das Yamaha contra a Honda. Mas, acima de tudo, havia Mick Doohan na grelha, que a conduzir a Honda, parecia imparável. Cadalora além de ser um grande piloto foi também inteligente. Depois de três anos na Yamaha, ficou claro que para vencer Mick Doohan na Honda tinha de ter uma ele também.

Em 1996, através de um leasing, regressou à sela de uma moto da casa da asa dourada, mas os escassos recursos económicos não lhe permitiram lutar a par com a Honda oficial de Doohan.

O facto de a moto ter aparecido num esquema de cores totalmente branco, sem patrocinadores, levantou algumas suspeitas quando as cores das tabaqueiras eram o habitual… Mas a primeira corrida era ao virar da esquina e teve de ser. O início foi com um estrondo (no bom sentido!).

Na Malásia, na estreia, primeira vitória. Grande Luca! O campeonato continuou com um segundo lugar em Espanha, um terceiro em Itália e uma nova vitória na Alemanha. Quando estava em plena luta pelo título, porém, veio um banho frio: A Honda, supostamente por pressão de Doohan, fez pressão na Showa, que fornecia as suspensões, proibindo-os de assistir Cadalora.

Fim do jogo, apesar de ainda conseguir terminar a temporada no terceiro lugar a bordo da Honda Kanemoto.

Para a temporada de 1997, conseguiu um contrato como piloto oficial da Yamaha na nova equipa da Promotor Racing apoiada por um empresário austríaco. No entanto, após poucas corridas, a equipa falhou devido a problemas financeiros.

A WCM resgatou a equipa com a ajuda de um patrocínio da Red Bull e Cadalora terminou a temporada em sexto lugar.

Mesmo assim, no início da temporada de 1998, a WCM e Cadalora perderam o apoio oficial da Yamaha. Assim, Luca regressou à equipa de fábrica Yamaha Rainey para algumas corridas, a substituir o lesionado Jean-Michel Bayle, e depois ajudou a desenvolver a nova moto de corrida da MuZ.

Em 1999, voltou a estar com a MuZ de Karel Kouros. Finalmente, em 2000 , já com 37 anos e cansado das intrigas de paddock, Luca Cadalora terminou a sua carreira com a equipa Modenas de Kenny Roberts e retirou-se, com 34 vitórias em Grande Prémio em três classes diferentes.

Os números falam por Luca Cadalora: uma carreira com 34 primeiros lugares de 195 corridas. O rapaz de Modena subiu ao pódio 72 vezes, em média quase um pódio a cada duas corridas, fazendo uma aproximação. Foi um dos grandes, sem sombra de dúvida.

A notícia nos testes de inverno de 2016, era peremptória: Luca Cadalora juntava-se à equipa que apoia Valentino Rossi. Se alguém se perguntava o que um piloto como Rossi poderia ter encontrado neste tímido e reservado ex-Campeão de 50 anos, aqui estão algumas respostas: inteligência, sensibilidade, forma de olhar as coisas, abordagem científica, conhecimento técnico aprofundado… Chega?

Luca Cadalora foi um gigante numa era de gigantes. E isto, Valentino Rossi sabia-o bem. Além disso, Luca faz parte dum grupo de malucos da região do Adriático que inclui Rossi pai e filho, Loris Reggiani e outros, que fazem loucuras para se divertir numa pedreira abandonada, com buggys feitos pelo próprio Cadalora a partir de motores de Yamaha R1 com mais de 200 cavalos!

Meticuloso, como todos os maiores campeões da história, Luca sempre lamentou a falta de competitividade da Yamaha contra a Honda. Mas, acima de tudo, havia Mick Doohan que a conduzir a Honda, parecia imparável. Em 1996 regressou à sela de uma moto da casa da asa dourada, mas os escassos recursos económicos não lhe permitiram lutar a par com a Honda oficial de Doohan. Luca venceu duas vezes, em estreias na Malásia e no Nurburgring.

No ano seguinte regressou à Yamaha, mas a casa dos Três Diapasões estava numa situação difícil. E não melhorou com a Suzuki e a MuZ. Em 2000 também foi convocado pela Ducati para correr em Superbike, mas quando restava apenas uma corrida. As quatro tempos “pesadas” eram demasiado diferentes da leve e explosiva 500 que ele estava habituado a conduzir, a experiência foi difícil, e assim se retirou.

Pode não ter tido a mesma tenacidade de Campeões como Michael Doohan ou Valentino Rossi, mas quando se tratava de dar o litro, nunca se reteve. Basta lembrar o final ao sprint de Misano em 1991 quando ele e Helmut Bradl (pai de Stefan, actual piloto de teste da Honda em MotoGP) chegaram à meta à cotovelada!

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