MotoGP: Um clássico intemporal: Sheene x Roberts em Silverstone

Por a 22 Agosto 2019 14:30

O Herói da casa Barry Sheene contra o Americano “King” Kenny Robers. Reino Unido contra os EUA, bicampeão mundial de 500cc contra o atual campeão mundial – que estava prestes a adicionar outro título ao seu nome. Silverstone, assim como hoje, sempre foi uma pista de corridas assustadoramente rápida.

Milhões de telespectadores britânicos, graças à BBC transmitir a corrida ao vivo naquele dia há 40 anos, tinham sintonizado para assistir a um Grand Prix de moto que nunca será esquecido.

Dois grandes nomes da classe rainha, que percorriam a reta até Woodcote a mais de 200 km/h, foram o suficiente para deixar os espectadores de TV, bem com o os das bancadas lotadas e praticamente toda a gente que assistiu à prova naquele dia, enfeitiçados.

Durante 27 voltas, Sheene e Roberts foram implacáveis. O britânico já não tinha hipótese de conquistar o título naquele ano, por isso derrotar Roberts na frente dos seus fans foi a única motivação. Chegando à última volta, o par encontrou pilotos atrasados. Roberts deu-lhes a volta com relativa facilidade, mas Sheene não pôde seguir o mesmo caminho logo e ficou retido quando tentou ir por fora.

No entanto, o duplo campeão iria produzir uma das voltas rápidas da sua vida para alcançar o seu inimigo e quando entraram em Woodcote na última volta, poucos metros separavam Sheene de Roberts.

O número 7 da Suzuki tinha o balanço, mas Roberts colocou a sua Yamaha no lado exterior da curva e não havia lugar para Sheene. Para evitar entrar pela relva a 200, Sheene perdeu o seu Grande Prémio de casa por uns escassos 0,03 segundos

“Bem, eu lembro-me de fazer um cavalo na volta de aquecimento e como o cavalinho foi muito longo, bloqueou a pressão do óleo, e rebentou um retentor de óleo”, diz Roberts, lembrando os eventos de Domingo, 12 de Agosto, 1979. “A minha moto estava toda coberta de óleo, cheguei à primeira direita e quase caí e foi “Uau, algo está errado ”, e quando vi o que era corri de volta para a linha de partida.”

“Lembro-me que até o Giacomo Agostini tinha um pano e estava a limpar óleo de mim e da moto. Kel Caruthers tinha uma chave de fendas e apressou-se a colocar o retentor de volta no sítio, e disse-me: “Não sei se vai agiuentar, por isso tens de ter cuidado.” Como ter cuidado? Eu não posso ver o óleo, então como vou ser cuidados, com quê? Acabei por ser cuidadoso no arranque e, de seguida, comecei a subir na ordem, a passar todos, até chegar ao Sheene. O Wil Hartog estava lá e um francês, eu esqueci-me de quem era. Estamos todos ao molho e, de repente, sou só eu e o Sheene.

“Bem, eu não ia deixar ele bater-me. Claro que era a Grã-Bretanha, e ele não queria perder na Grã-Bretanha. E nós continuámos lado a lado e chegou a um ponto em que eu sabia que não poderia vencê-lo de imediato. Eu tentei fugir, mas não dava. E ele sabia a mesma coisa. Mas quando fosse ele a liderar, iria abrandar um pouco, e então o 2º, 3º e 4º iam alcançar-nos. Então eu pensei: “Vai em frente! O que estás a fazer?” ”Então ele passou e foi quando ele começou a fazer o sinal de V. E eu estava a fazer isto” (um certo gesto feio).

“E é claro que o trabalho de câmara naquela altura não era assim tão bom como agora, mas toda a gente o viu a fazer o V nas costas. E eu mergulhei por baixo dele e passei-o na curva um. Ambos sabíamos que ia ser até à última curva da última volta e foi o que aconteceu. Por sorte, achei que tinha uma vantagem na curva antes da última e consegui ganhar alguns metros à frente dele. Eu sabia que ele viria tentar a ultrapassagem mas sabia que não iria passar por dentro.”

“O Barry era um piloto muito seguro, não fazia nenhum truque sujo. Se ele estava a vir por fora, tinha que me dar a volta, passar ao meu lado, do lado de fora. E eu cobri o lado de dentro, atirei-me a meio da curva e quando vi a berma, apontei a moto e dei gás. E eu sabia que ele estava a apontar para o mesmo sítio e foi aí que nos encontramos, mas ele foi empurrrado para a relva e eu venci a corrida. Poderia ter sido o oposto. Teria sido ótimo para ele, se tivesse vencido, mas isso teria sido um trabalho realmente difícil, bater-me na linha de chegada.”

Há 40 anos, duas lendas do MotoGP deram-nos um final de corrida clássico de todos os tempos. Poderá o novo Silverstone produzir outro final assim?

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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