MotoGP, 2021: As marcas em 2021, 4: A Yamaha

Por a 2 Março 2021 17:00

Ter conquistado o maior número de vitórias em 2020 deveria colocar a Yamaha no topo da tabela… o que poderá faltar então na M1?

A solução passa por “imitar” as configurações da Espec. A e esperar que, com alguns ajustes à aerodinâmica isso funcione…

Não só a Yamaha ganhou em 2020, mas foi a primeira a fazê-lo e fê-lo com uma equipa satélite. As duas vitórias de estreia de Quartararo em Jerez colocaram-no na liderança do Mundial boa parte do início da época, mas não esconderam outros problemas na máquina de Ywata.

Um, logo de caras, foi a inconsistência. Em vez de uma máquina sempre capaz de lutar pelo pódio como a Suzuki ou a Ducati, a Yamaha ora funcionava e era imbatível, ora exibia problemas de colocação da tração no solo e nem conseguia entrar no Top 5. Na Áustria, por exemplo, a melhor Yamaha foi a de Valentino Rossi, mas obviamente o fiasco da colisão Morbidelli /Zarco teve uma palavra a dizer.

Porém a seguir, na Estíria, quando Miguel Oliveira ganhou, Rossi voltou a ser a melhor Yamaha com um 9º. Seguiram-se dois bons resultados em Misano, com vitórias de Morbidelli e Viñales, e uma na Catalunha com Quartararo, e novo afundamento com Quartararo 10º e Viñales 9º… inconsistência prejudicada ainda pelo escândalo que entretanto rebentara do caso das válvulas ilegais…

Como pode uma moto ser a mais competitiva numa pista e lutar pelo Top 10 na seguinte? Aparentemente, devido ao infame Michelin traseiro. Após um período inicial desde a mudança da Bridgestone em que os pilotos se queixavam de ambos os pneus, a Michelin saiu para 2020 com um super-slick muito melhorado… Tão melhorado que, ao oferecer níveis de aderência sem precedentes, o elo mais fraco passou a ser o pneu dianteiro.

A Ducati, ou melhor, Dovizioso, foram os mais afetados, mas isto também repercutia na Yamaha, que com a frente a derrapar, tipicamente à entrada de curvas, se via privada da sua maior força, a velocidade de inserção… Se não conseguiam viver em proximidade com os rivais à entrada, de nada servia depois o pneu traseiro dar uma boa aceleração na saída, até porque, na tentativa de fazer a frente mais previsível, se estragava em parte a aderência traseira ao transferir o equilíbrio para carregar a frente.

Enquanto isto se passava nas M1 de fábrica, a moto de 2019 de Morbidelli provou ter uma combinação mais dócil e começou a vencer na parte final da época… muito pouco, muito tarde.

Para 2021, poderia parecer então que o motor de fábrica instalado no chassis de 2019 seria uma boa combinação… mas uma que estava vedada pois os pontos de montagem do motor ao quadro são ligeiramente diferentes…

A solução passa quase de certeza (ninguém sabe ao certo!) por “imitar” na moto de 2021 as configurações da Espec. A e esperar que, com alguns ajustes à aerodinâmica e a potencia do motor enfim libertada pela utilização fiável das válvulas corretas, isso funcione…

A M1 de 2021 está nitidamente mais arredondada e a entrada de ar frontal é mais estreita e elevada, o que pode indicar uma tentativa de aumentar a pressão e velocidade de admissão, jogando com os tais fatores periféricos já que o motor em si não pode ser modificado…

Assim, embora a Yamaha tenha feito uma pré-época a capitalizar no valor mediático da dupla ascensão de Quartararo à equipa oficial e passagem de Rossi à Petronas, o estado exato do pacote de Ywata para esta época vai permanecer uma incógnita por mais uns dias… e as sessões em pista para corrigir qualquer lacuna vão ser preciosas!

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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