MotoGP, 2020, 10 factos que marcaram a época, 5: A primeira vitória da KTM

Por a 29 Novembro 2020 13:00

Além dos grandes acontecimentos que marcaram a época, desenvolvimentos nos bastidores a ver com marcas e pilotos também contribuíram, alguns mais que outros de forma indelével, para dar forma à época e ao resultado final

a primeira vitória não viria nem de Espargaró nem de Oliveira, mas de Brad Binder, apenas na sua terceira corrida em MotoGP

Destes, um dos mais importantes foi, sem dúvida, a melhoria de forma da KTM em MotoGP, que de marca da traseira do pelotão passou a ser uma marca a desafiar para o pódio regularmente e mesmo a averbar vitórias.

O mote foi dado logo na primeira corrida em Jerez, quando Pol Espargaró acabou em 6º e Oliveira em 8º, mas esses resultados ainda não viraram propriamente cabeças, especialmente quando o tema de conversa era a primeira vitória, finalmente, de Fabio Quartararo.

Enquanto todos mais ou menos lutavam com a combinação de obter tração do novo Michelin traseiro sem fazer ao mesmo tempo a frente derrapar, causa de muitas quedas, que foi o maior problema que prejudicou as Ducati e Yamaha toda época, a KTM acertou exatamente na fórmula certa, em grande parte devido a algum trabalho da equipa satélite Tech3, com a colaboração de Miguel Oliveira.

No entanto, a primeira vitória não viria nem do oficial Espargaró nem de Oliveira, mas, num extraordinário esforço que após um 13º e uma queda nas corridas anteriores nada faria prever, de Brad Binder, apenas na sua terceira corrida em MotoGP.

O sul-africano, que tal como Miguel Oliveira antes dele, tinha transitado das classes mais pequenas, passando pela Moto 3 e Moto 2 sempre pela mão da KTM, esteve simplesmente imparável na corrida de Brno, onde vindo da Q1 para um 7º lugar na terceira fila da grelha, saiu de trás com autoridade para vencer sobre Franco Morbidelli e Johann Zarco, num grande Prémio em que Miguel Oliveira também tirou um excelente sexto.

O significado para a KTM, uma pequena fábrica austríaca que fabrica cerca de 250.000 motos ano, não pode ser sobrestimado. Para colocar isso em perspetiva, é eclipsado só pela produção da Honda na Tailândia de 400.000 motos…

O resultado vindicou todo o considerável investimento da marca em MotoGP, fazendo decerto Pit Beirer e o CEO Stefan Pierer respirar de alívio e enfrentar o conselho de gestão da marca com renovada confiança.

As razões para esta subida de forma, culminando na vitória de Binder, eram várias, divididas em técnicas e humanas.

Se a KTM RC16 de MotoGP de 2020 era um moto melhor, muito melhor que a de 2019, não era, no entanto, isenta dos seus problemas.

As equipas, quer a de fábrica, quer a satélite Tech3, debatiam-se com problemas causados principalmente pela juventude da moto de 2020, praticamente toda nova, e claro, por o desenvolvimento estar congelado, e portanto não haver grandes alterações a fazer ao modelo homologado.

No entanto, como marca concessionada na altura, a KTM tinha mais motores à disposição e também foi capaz de realizar treinos privados logo no começo da época, onde logo se provou que, em termos de motor, era das mais rápidas e só faltava de facto resolver o problema do desgaste dos pneus nas fases finais das corridas para tornar uma candidata regular ao pódio.

Nos Grandes Prémios que se seguiram, a marca averbaria mais pódios com Pol Espargaró em 3º e uma vitória quase a seguir na Estíria com Miguel Oliveira, histórica tanto por ser a primeira da equipa satélite Tech 3 como de um português na Moto GP, e ainda de um piloto vindo do terceiro lugar na volta anterior, feito quase inédito.

Ao longo do resto da época, com a KTM agora sem concessões graças a duas vitórias, mas sem se ralar, até porque, a dada altura, Miguel Oliveira era o piloto que tinha usado menos motores, Brad Binder não mais pisaria o pódio, e teria um final de época muito em baixo de forma, enquanto Lecuona, na segunda moto da Tech3, apareceria a andar regularmente nos pontos até ser afastado pelo Covid, chegando a um melhor resultado de 9º no Grande Prémio de Teruel em Aragón.

Fosse como fosse, a marca acabaria a época em alta, quando Miguel Oliveira dominou a prova de Portimão e fechou a temporada com chave de ouro, para ele e para a KTM, e claro marcou a chegada em força da marca Áustria, que para o ano contará com Miguel Oliveira e Brad Binder na equipa principal e Danilo Petrucci na satélite três. O futuro tem de ser brilhante!

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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