Moto2, 2020: Jake Dixon em modo de confissão

Por a 19 Dezembro 2020 14:30

Apesar do caos, incertezas e perturbações ao longo dos últimos 12 meses, 2020 revelou-se um ano importante para Jake Dixon em Moto2, com um início promissor na equipa da Petronas SRT

“não treino, não saio da cama, a não ser para tentar ganhar o mundial…”

Reaprendendo as pistas a bordo da sua Kalex, o Inglês de 24 anos melhorou à medida que a temporada progredia, garantindo quatro top 10 e um melhor resultado de quarto, antes de uma dramática queda durante o primeiro TL2 em Valência, que terminou a sua época.

O pulso direito severamente fraturado do piloto de Kent foi operado em meados de Novembro para recolocar os ligamentos danificados, e com ferros a prender os ossos partidos, Dixon foi informado que qualquer movimento poderia descarrilar o progresso da recuperação.

“Não há muito que eu possa fazer de momento, com o pulso, além de me sentar em casa! Vou tirar os arames no dia 21 de Dezembro, estou ansioso por ver que tipo de movimento tenho no pulso direito!”

“O pulso ficou muito esmagado e contra isso, não posso fazer nada. Está em gesso, por isso não consigo dobrá-lo e os fios estão fora da pele, logo, não é o ideal!”

Dixon, filho do antigo piloto Darren Dixon (acima) é conhecido como um personagem enérgico e entusiasta, por isso, sentar-se em espera nunca foi realmente o seu ponto forte. Levando isso em conta, como está o seu horário de treino?

“Posso fazer a parte inferior do corpo, mas estou limitado ao que posso fazer porque não estou autorizado a suar! Treino até começar a suar e depois tenho de parar. Sinto que estou a engordar!”

“O bom é que temos muito tempo, acho que o meu primeiro teste é só 3 e 4 de Março, por isso tenho dois meses completos para me preparar, o que é suficiente.”

Lewis Hamilton, entre outros, tem sido muito vocal nos últimos anos sobre o estilo de vida vegan e os seus efeitos positivos nos seus níveis de energia, resistência e massa corporal. Dixon, da mesma forma, tem um modo de vida saudável graças à dieta à base de vegetais que segue com a mulher Sarah, mas que impacto teve isso no seu treino, condição física e convalescença atual?

“Acho que a forma de comer para mim, à base de vegetais, é normal e é obviamente melhor do que comer m***a. Geralmente sinto-me melhor, os meus níveis de energia estão muito mais altos, recupero mais depressa e a minha inflamação não é tão grave.”

 “O meu cirurgião estava a dizer como ficaram surpreendidos, porque depois de terem feito o gesso demasiado apertado e eu ter de voltar para o arranjar, quase não havia inchaços e nódoas negras.”

“Acho que nunca se sabe o que a nossa dieta está a fazer ao corpo e quando se tem uma lesão, a rapidez com que ela se cura é obviamente positivo. Faço-o porque gosto, e a comida da Sarah é muito boa, por isso para mim é uma situação em que todos ganham!”

Em 2020, Dixon mudou-se da Equipa Angel Nieto para a Petronas, um contrato que foi recentemente prolongado para 2021, e que Dixon considerou “muito bom, é a equipa mais profissional com quem já estive e está noutro nível. Só temos de ver o que eles fizeram no MotoGP também, ao longo das corridas, o maior número de vitórias veio da Petronas!”

“O Johan Stigefelt é um tipo fantástico, não podia pedir um chefe de equipa melhor, dou-me bem com ele e até do lado do MotoGP, o Wilco Zeelenberg, o Torleif Hartelman, (Analista de Pilotos), são tão solidários, por isso adoro o ambiente em redor da equipa.”

“O Fabio Quartararo é um tipo fixe e somos muito parecidos em idade, por isso é bom porque ele dá-me o seu conhecimento. Ele está no paddock há muito tempo e eu não, por isso ele dá-me sabedoria, (embora seja mais jovem do que eu!) para me ajudar. É muito positivo e nós apoiamos um ao outro, só o que falamos no dia-a-dia já é bom, toda a vibração na equipa é super boa.”

Dixon acha a vida no paddock de MotoGP, em comparação com o campeonato britânico, “totalmente diferente. É como se fossem dois desportos diferentes. O BSB é obviamente profissionalizado, mas o MotoGP está um nível mais acima, é o auge da modalidade, obviamente.”

“No início, achei muito difícil, e muito estranho por causa das viagens. A maior viagem no BSB são provavelmente cinco horas, mas depois tens uma autocaravana para viver. Enquanto que quando se voa é um pouco diferente, vais para diferentes países, maneiras diferentes de comer, para nós vegans pode ser super difícil, há pessoas que não compreendem!”

“Quando a equipa tinha a unidade de hospitalidade, então era muito melhor, o chef adora vegans e permite que a Sarah faça o que quer. No primeiro ano, com a Aspar, eram grandes comedores de carne, por isso foi muito duro.”

2021 verá Dixon ficar com a Petronas por um segundo ano, o que quer ele mudar ou melhorar para a próxima temporada?

“Tudo! Tudo! Não, acho que vou aceitar alguns aspetos deste ano porque têm sido bons, mas obviamente tenho que me adaptar, ver como está o meu pulso primeiro de tudo, que será o maior obstáculo para mim. Trabalhar na minha lesão para me preparar para a temporada, mas trabalhar noutros aspetos para estar mentalmente preparado.”

“Só corro há 10 anos, comecei em 2010 e 10 anos depois estou no Mundial de Grande Prémio, por isso tem sido uma boa progressão e não o fizemos da maneira típica, sabes. Não vim com dinheiro, não conseguimos comprar lugares, tem sido um caminho difícil, muitos altos e baixos, lesões, ser enganados, tem havido tantos desafios diferentes e ter que passar por tanta coisa.”

“Como o meu pai ter de gastar tudo para me levar onde estou, e ele não tem dinheiro, por isso, mesmo fazendo o que fez, tudo veio da maneira mais difícil mas está a começar a dar frutos.”

“O meu objetivo a longo prazo é garantir estabilidade financeira, porque a minha família é a minha maior prioridade. Tenho objetivos que quero atingir e, obviamente, quero ter a certeza de que todos estão seguros e saudáveis e fazer o melhor que posso para garantir que estão, e depois quero ter sucesso e, em última análise, quero ganhar campeonatos mundiais, fazer o melhor que puder!”.

“Se isso significa ganhar títulos mundiais que seja, mas se for só ganhar corridas, dei o meu melhor e é tudo o que posso fazer e contentar-me com isso. É para aí que estou a apontar.”

Um calendário condensado para 2020 viu inúmeros circuitos retirados do itinerário habitual, houve alguma pista que Dixon teve pena de perder este ano?

“O Japão. Adoro o Japão. Não sei porquê, mas gostava muito de ir ao Japão. Além disso, não que gostasse da Austrália pela pista, porque tive uma má experiência,  mas adorei o lugar… Adoraria viver na Austrália um dia, mas a experiência que tive lá não foi tão boa, mas isso pode ter sido  moto com que eu estava na altura.”

“Fui a muitas pistas este ano, como Misano e todos estes lugares diferentes onde não me dei bem na KTM porque era uma moto difícil, e depois vim para pistas este ano, como Misano, na Kalex e terminei em sexto que até à data era o meu melhor resultado, antes de ficar em quarto em Aragón.”

“Houve muitas pistas que perdi este ano, a Malásia é uma pista incrível, mas não é só a pista, é a atmosfera dos lugares aonde vais e a cultura que faz tudo, a experiência, tão boa e tão diferente, por isso havia muitos sítios que lamento termos perdido este ano.”

“Temos um teste em Portimão com a equipa na primeira semana de Março, o que será interessante. Na verdade, fiquei muito chateado por não poder ir lá, porque parece uma pista que se adequa ao meu estilo e é muito parecida com uma pista estilo BSB, quase como um Oulton Park ou Cadwell, mas maior e muito mais largo.”

“Gosto de qualquer pista a que vamos, mas quando vamos a pistas em que mais ninguém esteve, não sendo teimoso, mas acho que me vão ver brilhar mais porque toda a gente está em pé de igualdade. Normalmente vou a pistas que eles estão a fazer há anos e tenho de aprender os truques do ofício muito rapidamente e essa é obviamente a parte mais difícil, ter de descobrir tudo sozinho e por isso acho que nessas circunstâncias serei muito bom.”

A lesão e a operação são a principal prioridade neste momento, com reabilitação e treino a seguir no Ano Novo, mas como seria o 2021 ideal?

“Ganhar o campeonato! No fim de contas, não treino, não saio da cama, a não ser para tentar ganhar o título mundial…”

Quase que já posso andar dentro do top-5 e posso estar lá todos os fins de semana, em qualquer sessão, e em qualquer condição, por isso a minha próxima fase é, primeiro, conseguir um pódio, depois começar a ganhar, e sinto que no próximo ano será o ano para o fazer!”

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