Miguel Oliveira – Porquê os maus tempos nos treinos?

Por a 3 Junho 2018 18:38

Como se explica que o piloto Miguel Oliveira arranque da 11ª posição da grelha de uma corrida que tem andamento para vencer?

Este é o tema que faz sentido abordar, pois a falta de resultados nos treinos livres leva a más posições na grelha de partida, o que “em principio” dificulta a obtenção de bons resultados na corrida.

Vamos relembrar as varias corridas desde que Miguel Oliveira ingressou na KTM na epoca de 2017:

(resultado qualificação /corrida) 2017  -2018

Qatar  (5º/4º)  – (4º /5º)

Argentina (1º /2º) – ( 7º / 3º)

USA  (7º / 6º) – (12º / 3º)

Jerez (4º /3º) – ( 14º – 2º )

França ( 17º /17º) – ( 10º / 6º )

Itália (9º /5º) – (11º / 1º )

Catalunha ( 6º / 3º)

Assen ( 4º / 5º)

Alemanha (6º /2º )

Rep. Checa ( 2º / 3º)

Austria (8º / aband)

Inglaterra ( 8º / 8º)

San Marino ( 8º / aband)

Aragon ( 1º / 3º)

Japão ( 5º / 7º )

Australia ( 3º / 1º)

Malásia ( 2º / 1º )

Valencia (4º / 1º )

Analisando as primeiras  5 corridas confirma-se que a performance em qualificação de 2018 piorou substancialmente face a 2017, enquanto que os resultados em corrida melhoraram francamente.

Ora esta situação não tem lógica. E significa obrigatoriamente que os resultados em corrida poderiam ser ainda melhores caso o piloto estivesse a conseguir partir mais avançado na grelha.

O que aconteceu hoje em Mugello é um caso raro. As corridas de motos têm destas coisas, impossíveis.

Miguel Oliveira partiu de 11º e na entrada para a 1º curva estava em 5º e chegou a 3º durante a primeira volta.

Se tivesse partido de 5º lugar na grelha eventualmente não teria conseguido fazer melhor do que fez, mas sabemos que nem sempre se consegue uma perfeição como a de hoje. É verdade que Miguel Oliveira já fez o impossível em 3 ocasiões este ano, em Austin, em Jerez e em Mugello. Aliás os seus melhores resultados em corrida foram obtidos nas situações em que estava pior classificado na grelha. Talvez essas situações de desvantagem na partida estejam a provocar momentos de verdadeira inspiração que permitiram a Miguel Oliveira fazer arranques excepcionais e inicio de corrida muito agressivos com muita coragem e habilidade para concretizar ultrapassagens que lhe têm permitido chegar ás primeiras posições logo nas primeiras voltas, podendo assim disputar toda a corrida comes tivesse partido da frente.

Mas todos sabemos que os momentos de grande inspiração não se repetem eternamente.

É importante que Miguel Oliveira consiga resolver este problema que, quer queiramos quer não, é uma desvantagem e pode impedir a vitoria do campeonato.

O final épico da epoca de 2017 fez com que todos os portugueses sonhassem com uma mais que certa vitoria no campeonato em 2018. E penso que é até um sonho bastante bem fundamentado e com uma elevada probabilidade de se concretizar.

A KTM havia dado provas de grande competitividade em 2017 e certamente que em 2018 estaria ainda em melhor nivel, face á experiência entretanto acumulada.

E é certo que a KTM tem demonstrado, em corrida ter andamento para as Kalex que entretanto também evoluíram positivamente em 2018.

O Miguel Oliveira já demonstrou que tem um andamento fortíssimo em corrida, uma impressionante capacidade de concretizar ultrapassagens, uma enorme consistência e segurança que fazem com que sofra poucas quedas, e tem uma fantástica sensibilidade para gerir o desgaste dos pneus. No fundo é tudo o que distingue um verdadeiro campeão dos outros pilotos comuns.

Miguel Oliveira tem mesmo a fibra dos campeões e foi por isso que a KTM o contratou mesmo após uma terrível primeira época em Moto2, inserido numa equipa que apesar de campeã do mundo em Moto3, nunca conseguiu estar ao nível das equipas da frente. Foi uma época desastrosa para Miguel Oliveira e mais ainda para Danny Kent que praticamente aí arruinou a sua carreira. Pelo contrario, Miguel Oliveira sai da Leopard Racing com um contrato oficial da KTM que decidira entrar em Moto2 através da Ajo Motosport para quem Miguel Oliveira já pilotara em Moto3 em 2015.

Foi precisamente essa experiencia de 2015 que levou á contratação em 2017. A KTM não brinca em serviço e fez questão de assegurar os serviços dos melhores pilotos, para garantir sucesso ao seu projecto.

Tudo isto para tentar compreender o que se está a passar com Miguel Oliveira durante as sessões de treinos em praticamente todos os GP de 2018, e podemos mesmo pensar que o problema se está a agravar.

É certo que o nível de andamento no Moto2 é impressionantemente equilibrado, como ainda ontem aconteceu, ao estarem 20 pilotos dentro do mesmo segundo. O facto de os motores serem idênticos em todas as motos, faz com que as diferenças passem a ser responsabilidade dos quadros e suspensões. Mas se a KTM tem demonstrado ter o andamento suficiente em corrida porque é que não o tem nos treinos?

Será que tem a ver com o peso ? As sessões de qualificação são realizadas com pouca gasolina nos depósitos, enquanto que as corridas se iniciam com depósitos cheios. Mas se assim fosse, ou seja se a KTM fosse mais competitiva com deposito cheio, e fosse perdendo eficácia á medida que a gasolina fosse sendo consumida e o peso baixasse, então a moto perderia competitividade a partir de metade da corrida e isso não é o que parece estar a acontecer. Ainda hoje se comprovou o excelente ritmo de Miguel Oliveira no final da corrida em Mugello.

Poderá então ser uma questão de dificuldade de afinação da moto, que demora a ser encontrada ao longo das 4 sessões?

Ou será uma questão psicológica por parte de Miguel Oliveira que não consegue realizar uma volta ultra rápida no momento certo, ou seja no momento em que tudo tem que acontecer perfeito ?

Confesso que me custaria muito a aceitar que pudesse existir uma explicação deste gênero, pois trata-se de um piloto psicologicamente muito forte, que sendo rápido, ainda o é mais em situações de grande risco e dificuldade como são as primeiras voltas de uma corrida, em que além da coragem, da capacidade de compreender as oportunidades que vão surgindo, há que ser capaz de se ser criativo para criar situações que lhe sejam favoráveis.

Miguel Oliveira é um piloto excepcional, daqueles raros, que vão ficar na historia. é um piloto completo e sobretudo muito seguro e consistente como qualquer equipa gosta de ter nas suas linhas.

Mas tem um problema para resolver, e era importante que o conseguisse fazer nos tempos mais próximos, para que as vitorias não surjam com tanto esforço, mas sim com a consistência que ele já nos mostrou ter no final das épocas  de 2015 e 2017.

Miguel Oliveira tem que estar consistentemente no top 5 de todas as qualificações tal como está no top 5 no final de todas as corridas. É natural que assim seja, e é isso que desejamos que aconteça.

Força Miguel!

 

 

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Pedro Mendes
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FanMotores
FanMotores
6 anos atrás

Caro Jorge, tenho criticado algumas vezes os seus textos, mas desta vez tenho que reconhecer a pertinência deste artigo e a forma como o coloca. claro que quando lemos artigos em publicações especializadas, assinados por jornalistas supostamente especialistas, esperamos respostas e não perguntas. Em todo o caso, como o assunto sempre me intrigou, vou entrar nele na expectativa de que os foristas habituais ajudem a esclarecer esta questão. vou dar o meu palpite.
O Miguel é sempre dos 1ºs a fazer um bom tempo, mas depois, há medida que os outros vão evoluindo, ele evolui menos e vai ficando para trás. Não sabe afinar? o histórico de equipas/marcas que ele tem levado ao colo parece indicar o contrário. São as equipas que não têm qualidade? pode ter acontecido com algumas, mas julgo que não podemos dizer isso da KTM Ajo. Este ano temos verificado uma situação nova, é que o Mig costumava dar “calendários” aos colegas de equipa e se em prova isso ainda acontece, nos treinos temos visto regularmente o Lowes, o Binder e até outras KTM satélites a ficarem numa ou outra sessão de treinos à frente do Miguel.
Eu tenho uma teoria, dado que as diferenças são mínimas (20 pilotos em menos de 1″) qualquer coisa conta. Nunca vi o Mig a apanhar uma boleia de aspiração, vejo sempre alguns na sua sombra e nessa altura saltam para os 1ºs tempos, mas ele vai sempre sozinho e bastaria 1 ou 2/10 duma aspiração para ganhar vários lugares. Nunca percebi porque a ktm não faz como por vezes se vê outras equipas a fazerem, que é terem os 2 pilotos juntos e uma volta um à frente, outra volta o outro.

Simoncelli
Simoncelli
6 anos atrás

Também estou de acordo que este tema merece ser discutido. E também preferia encontrar aqui as respostas a esta questão que está a intrigar todos os fãs…O seu artigo em vez de dar respostas, aponta possíveis explicações…Eu queria mesmo era perceber o que está mesmo a acontecer…. É verdade sim que o Miguel entra sempre na 1ª sessão e faz logo um bom tempo, gerando alguma expectativa…que depois não se cumpre. Os outros pilotos vão evoluindo e melhorando e o Miguel fica estagnado sem conseguir manter-se no topo da tabela. Este ano pelo que refere o artigo ele tem mesmo vindo a piorar: 4º / 7º / 12º / 14º /10º /11º !!! Só fez um tempo no top5 na primeira corrida, depois na segunda corrida faz um top10 e depois sempre abaixo de 10º, ora isto não faz sentido para um piloto deste nível, um piloto que depois chega á corrida e arrasa, parece um piloto perfeito ! Mas por outro lado não oiço o Vitor Martins e o Rui Belmonte na Sport TV a avançarem qualquer explicação….aliás eles nem tocam nesse assunto, fogem dele como o diabo da cruz é um tema TABU!!! é que se calhar pode ser mal recebido pelo Miguel Oliveira ( ou o pai) e depois ficam mal vistos…Na pratica ninguém avança com uma explicação credível para este problema que está a agravar-se, parece…Onde estão os especialistas?

joao
joao
Reply to  Simoncelli
6 anos atrás

De facto seriam expectáveis respostas e não questões. 1º Creio as KTM da Ajo serem modelos 2018 e as outras 2017, sendo que neste caso já estariam ‘mais desenvolvidas’ – ver últimas provas do ano passado; 2º Creio, esta versão 2018 ser de facto complicada, embora neste fim-de-semana, como por ‘milagre’, apareceram, ambas, mais competitivas para a prova.

Carvalho
Carvalho
6 anos atrás

Bons dias, este é o meu 1° comentário aqui e faço porque acho um assunto pertinente tendo a certeza absoluta que se um jornalista fizer essa pergunta ao Miguel ele terá todo o gosto em responder.
Na minha humilde opinião e como o jornalista não apresenta a causa destes piores desempenhos em qualificação vou tentar explicar o que acho ser a causa:
Nos testes de pre-temporada realizados em Jerez o Miguel Oliveira já tinha alertado para a dificuldade em obter uma volta rápida com esta KTM de 2018. O seu ritmo de corrida é bom mas aquele tempo canhão é difícil de obter.
O problema reside quanto a mim no chassis da sua moto e a na sua rigidez (ou a falta dela) quando são montados pneus novos com pouca gasolina no depósito e uma afinação de supensões optimizada para o máximo grip sacrificando a longevidade dos pneus, o “time atack”
Neste casos usam-se normalmente settings de suspensão mais rígidos para suportar a maior velocidade e agressividade do piloto mas o chassis tem de dar uma “ajuda” a suportar essa maior velocidade, agressividade e grip.
Pelos vistos este é o calcanhar de Aquiles da KTM comparativamente ao chassis Kalex e não tem nada a ver com o Miguel Oliveira que é extremamente rápido e basta ver isso mesmo pelo simples facto das Kalex dominarem as qualificações a seu belo prazer mesmo tendo a KTM pilotos explosivos como o Miguel Oliveira ou o Sam Lowes que contrariamente ao que foi escrito aqui corre com uma KTM de 2018 e não de 2017.
Visto que a KTM e o Miguel gerem de forma perfeita o desgaste dos pneus e os ritmos de corrida com o actual chassis a solução quanto a mim seria desenvolver outro chassis para a tal volta rápida e utilizá-lo apenas na qualificação numa 2.ª moto.

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