MotoGP: Como vão os “rookies”?
Bagnaia, Quartararo, Oliveira e Mir são os “novatos” da MotoGP em 2019. Cada um mais que credenciado, pois Bagnaia foi Campeão Moto2 o ano passado, Mir de Moto3 em 2017, Oliveira vice-Campeão quer de Moto3 quer de Moto 2 e Quartararo é um duplo Campeão do CEV Repsol.
Bagnaia, por um lado, teve uma temporada impressionante em 2018. A primeira vitória na classe intermédia sob as luzes na ronda de abertura do Qatar abriu o caminho para o italiano ter um ano super consistente, com os números falando por si durante a sua segunda época de Moto2: 8 vitórias, 12 pódios e 5 poles, 301 pontos até chegar a Valência com o título assegurado.
Mir teve uma impressionante passagem pela Moto3, começando em Philip Island em 2015 uns incríveis três anos para o espanhol. Três pódios – incluindo uma vitória na Áustria – durante o seu período de estreia em Moto3 anteciparam uma sensacional vitória em 2017: 10 vitórias, 13 pódios, 1 pole e 341 pontos foram as estatísticas por trás da sua campanha vencedora do título.
Oliveira dispensa apresentações para nós. Antes de passar para o Campeonato do Mundo, o piloto português lutou no CEV Repsol contra Maverick Viñales até à última corrida da temporada 2010, acabando por terminar em segundo lugar com dois pontos de diferença. Em 2013, Oliveira ingressou na Moto3 e conquistou o primeiro pódio da Mahindra, com o seu 3º no GP da Malásia. Seguiram-se dois sólidos vice-campeonatos nas classes mais pequenas antes de realizar o seu sonho (e de muitos portugueses) de ser o primeiro português a ascender à classe rainha.
Em 2015, Oliveira juntou-se à KTM Red Bull Ajo, uma temporada que o levou a quatro vitórias e dois 2ºs nas últimas seis corridas. Seguiram-se três anos na Moto2, com um 2º na Argentina a marcar o primeiro pódio da Moto2 para o fabricante austríaco apenas na segunda corrida, seguida de cinco vitórias e mais 14 pódios em duas épocas brilhantes.
Quanto a Quartararo, depois de 2 CEV Repsol em 2013 e 2014, nem uma passagem fulgurante pelas Moto3 e Moto2 com pódios e poles poderia fazer antever o que estava para vir… As suas duas vitórias em Moto2- incluindo a prova de que mais tarde foi desclassificado no Japão – foram ganhas de forma cintilante a bordo de sua Speed Up, mas este ano tem impressionado ainda mais, andando à frente de pilotos bem mais experientes.
Claro que a primeira coisa que há a salientar na passagem destes 4 à MotoGP é a importância fundamental das equipas e marcas em que se inseriram cada um destes recém-chegados à MotoGP.
A Ducati Pramac de Bagnaia nunca se ensaiou para andar à frente, dominando por vezes sessões de treinos e ficando próximo do pódio, aproveitando a famigerada velocidade de ponta da Desmosedici sempre que as pistas o permitiam.
As Yamaha privadas, como as de Morbidelli e Quartararo, permitiram no ano anterior a Zarco andar à frente numerosas vezes e são consideradas como as mais fáceis de explorar para um recém-chegado ao mundo de eletrónica e potência assustadora das MotoGP…
Faltam Mir e Oliveira: O Espanhol da Suzuki insere-se num projeto em desenvolvimento que passa por ter a melhor moto em termos de entradasob travagem e estabilidade em curva, ambas muito importantes quando se vem das classes mais pequenas, onde velocidade em curva ainda substitui potência bruta na hora de girar o punho. E isto leva-nos a Oliveira e à KTM… nutrido através das categorias mais pequenas pela marca Austríaca, a ascensão à MotoGP foi, quer uma recompensa pelo muito dado à KTM – dois vice-campeonatos com numerosas vitórias e pódios – como o maior desafio até agora na carreira do piloto de Almada.
Como estão eles então em MotoGP? Na classificação provisória antes do GP de Itália, após 5 provas, Fabio Quartararo é de longe o melhor, depois de três sólidos resultados nos pontos- duas vezes 8º na Argentina e em França e uma vez 7º na América. O Francês está mesmo à frente de oficiais como Lorenzo e Zarco e já é considerado a revelação de 2019.
Segue-se “Peco” Bagnaia, que só marcou pontos em 2 corridas, numa delas ficando em 9º, mas nesses resultados amealhando mais pontos que Oliveira em toda a sua campanha suada. Oliveira tem andado frequentemente até dentro do Top 10 no início das corridas, mas depois paga a fatura de todo esse esforço com pneus desgastados prematuramente na fase final No entanto, o Português marca a sua participação por uma grande regularidade, sendo o único que acabou todas as provas até agora, dentro dos pontos ou não…
Já Mir é o pior, com apenas a pontuação inicial no Qatar debaixo do seu nome, mas esses 8 pontos, mais uma vez, igualam o total de Miguel Oliveira ao longo de 3 pontuações na Argentina, América e França, embora a tabela o mostre à frente do português por esse resultado ter sido conseguido, justamente, numa única corrida…
E agora? Quartararo já mostrou ter a inconsistência do génio na Yamaha da Petronas: Quase imbatível quando tudo corre a seu favor, lá para trás sem respostas em pistas mais exigentes ou que não se enquadram no seu espantoso estilo de velocidade em curva.
De Mir na Suzuki Ecstar, decerto veremos mais e melhor, à medida que ele se acomoda às exigências da feroz resposta da GSXRR, já dominadas por Rins para vencer no Texas.
Bagnaia, com a Ducati da Pramac, poderá brilhar nas pistas mais rápidas, como a seguinte em Mugello, um caso a seguir de perto, mas há incógnitas quanto ao desempenho e financiamento da própria formação que o poderão prejudicar a longo prazo.
Resta Oliveira, o que abraçou o maior desafio dos quatro, a KTM RC16, a moto sem grande hipótese à partida, (que persiste obstinadamente com um quadro de treliça em aço quando todos os experts dizem que a viga de alumínio é a solução) este ano tomou para si a aposta de entrar com o dobro das motos em 2 equipas para acelerar o desenvolvimento.
Ainda há muito por fazer, mas o facto de que a equipa oficial só consegue brilhar timidamente com Espargaró, que tem um melhor resultado de 6º justamente no último GP em França, não é muito boa indicação, até porque a moto está muito construída à volta das suas exigências e nem Zarco consegue para já, explorá-la a 100%. O Francês está uns míseros 2 pontos à frente de Oliveira e só ter terminado cada corrida em lugares pontuáveis salva o que já está a ser descrito, por contraste com Quartararo, como o fiasco de 2019…
Inserido na formação satélite Tech 3 de Hervé Poncharal, Oliveira é o único dos ”rookies” com este pesado fardo nas costas. Até a demora por lesão de Pedrosa, entretanto recrutado como piloto de desenvolvimento KTM, não tem jogado a favor da formação. A situação é ainda exacerbada pela pouca ajuda trazida ao desenvolvimento pelo seu colega de equipa da Tech3 Hafiz Syahrin. A conjunção dos esforços destes dois, de desenvolver a RC16 a partir de trás por parte de Oliveira, enquanto Espargaró o faz da frente, poderá definir o futuro da presença da marca em MotoGP…
Quanto aos nossos 4 rookies, separados por 17 pontos, tudo pode ainda acontecer… e pelas provas dadas até agora, essa diferença pontual vai tender a diminuir…