Dakar 2018: Guerra aberta

Por a 2 Janeiro 2018 09:30

É verdade, já passou mais um Natal e o ano virou pelo que desaguamos em mais um Dakar, competição que monopoliza o desporto motorizado no início de cada ano civil. Em 2018 celebra-se a 40ª edição do evento organizado pela Amaury Sport Organisation, sendo também a 10ª ocasião que a grande maratona monta o ‘acampamento’ na América do Sul.

Não estamos em África, continente onde o Dakar imortalizou-se enquanto marca, mas nem por isso a prova perdeu o seu ‘glamour’ e deixou de preencher o imaginário de todos aqueles que ano após ano esperam ansiosamente pelo mês de janeiro para testemunhar os feitos destes autênticos heróis que muitas das vezes desafiam o limite da superação humana etapa após etapa.

Do interesse lusitano depois de em 2017 termos tido 11 pilotos portugueses à partida, desta feita serão apenas três (Joaquim Rodrigues, Mário Patrão e Fausto Mota) ou quatro (dependendo da evolução de Paulo Gonçalves) a embarcar na competição criada por Thierry Sabine. Apesar da significativa redução de pilotos a esperança em brilhar não esmorece conforme poderemos observar nas páginas seguintes.

Olhando novamente para a ‘floresta’, em 2018, para além das dificuldades inerentes ao percurso, que atravessa três países (Peru, Bolívia e Argentina), existe também o desafio de destronar a KTM, essa grande instituição no que diz respeito às corridas de todo-o-terreno, que já leva no seu pecúlio 16 vitórias consecutivas no mais duro rali do mundo.

Para reter mais um ano esta impressionante hegemonia, no Dakar, a KTM como não poderia deixar de ser apresenta-se na máxima força. Desde logo o facto de vir a jogo com uma nova 450 Rally, que fez a sua estreia no conhecido Rali de Marrocos e logo com um saboroso triunfo pelas mãos de Matthias Walkner. No entanto apesar deste bom presságio e dos muitos quilómetros realizados em testes é no Dakar que será feita a verdadeira ‘rodagem’ do protótipo de Mattighofen.

Aos comandos da nova moto estará uma equipa muito forte e que oferece as máximas garantias. O elenco é liderado por Sam Sunderland, que pretende seguir as pisadas do malogrado Fabrizio Meoni, Cyril Despres e Marc Coma, pilotos que conseguiram vencer dois Dakar consecutivos com a KTM. Ao seu lado, Sunderland terá o segundo classificado em 2017, Matthias Walkner.

Quem também faz parte deste alinhamento é Toby Price. O vencedor do Dakar em 2016 estará no entanto na posição de ‘outsider’, isto porque está há quase um ano sem competir devido à fratura da perna esquerda que contraiu no último Dakar. Infortúnio que obrigou Price a desistir da corrida e claro está a uma longa recuperação que teve avanços e recuos. No campo da KTM é ainda preciso contar com Antoine Méo, que falhou o Dakar de 2017 por lesão, Laia Sanz – nona em 2015 – e ainda com o estreante Luciano Benavides, que é primo do piloto da Honda, Kevin. O lote de sete pilotos oficiais da KTM é completo pelo português Mário Patrão, que pelo segundo ano seguido surge inserido na estrutura de Mattighofen.

Caça ao tesouro

Se no campo dos detentores do ‘caneco’ a força é muita, o mesmo pode aplicar-se a quem está a ‘contar espingardas’ do outro lado da barricada. Começando desde logo pela Honda, que continua a sua cruzada na tentativa de recuperar o primeiro lugar no Dakar, algo que não sucede desde 1989 então com o francês Gilles Lalay.

Apesar do ponto de interrogação em torno de Paulo Gonçalves é preciso contar com Joan Barreda Bort numa equipa que procura ‘matar este borrego’ e que trabalhou muito durante o ano, nomeadamente no Mundial de Cross Country e Ralis, na fiabilidade, o grande ‘calcanhar de Aquiles’, da CRF450 Rally. No entanto importa relembrar que no último Dakar não foi a fiabilidade a ‘estragar o negócio’, mas sim as penalizações, que tanta polémica acabaram por gerar.
Nas fileiras da Honda é preciso não esquecer Kevin Benavides, piloto que o ano passado falhou a prova devido a lesão. A grande surpresa da edição de 2016 terá finalmente a oportunidade de fazer um Dakar como piloto oficial da Honda Racing Corporation. O leque fica completo com o norte-americano Ricky Brabec e o ‘aguadeiro’ Michael Metge.

Passando para a Yamaha esta colocará em campo uma nova WR450F e tem em Adrien Van Beveren, que o ano passado ficou às portas do pódio, e Xavier de Soultrait os seus ‘pontas-de-lança’. Aposta gaulesa numa equipa que não terá em competição Hélder Rodrigues. O consagrado piloto português recupera de uma lesão e falhará o Dakar pela primeira vez desde 2006. A marca do triplo diapasão, que celebrou a última vitória precisamente há 20 anos, tem ainda aos comandos do novo protótipo o reforço e melhor estreante de 2017, Franco Caimi, e o ‘escudeiro’ Rodney Faggoter.

Quanto à Husqvarna, marca ‘prima’ da KTM, aparece neste Dakar apenas com dois pilotos, mas também com uma nova ‘montada’. As esperanças serão todas depositadas no bicampeão do mundo de cross country e ralis, Pablo Quintanilla. O piloto chileno contará nesta maratona com o apoio de Andrew Short. O piloto norte-americano não tem experiência neste tipo de competições, pois a sua carreira foi desenvolvida no motocross e supercross. Chegar ao final da prova já será uma vitória. De fora está Pela Renet, que continua a recuperar das graves lesões sofridas, no passado mês de agosto, durante o Atacama Rally.

Num segundo plano em termos de equipas oficiais temos sempre de contar com a Sherco, que apresenta Joan Pedrero Garcia e Adrien Metge. Nesta fileira incluí-se também a indiana Hero MotoSports, que tem junto de si uma das grandes revelações da prova de 2017: o português Joaquim Rodrigues.

Destaque também para o regresso da Gas Gas, marca que volta ao Dakar após ter falhado as duas últimas edições. A representar a equipa espanhola estará Johnny Aubert, piloto com carreira feita no enduro, Jonathan Barragán, outro estreante vindo do enduro, e ainda Cristian España, homem que em 2017 sucedeu a Mário Patrão ocmo vencedor da categoria Maratona. Outra grande atracção no seio da Gas Gas é o facto da formação do país vizinho ter no antigo piloto e terceiro classificado em 2006, Giovanni Sala, o chefe de equipa.

Porém como é sabido a história da prova não se faz apenas com equipas oficiais pelo que os privados terão também uma palavra a dizer para aqui e ali fazerem uma gracinha. Desde logo surge à cabeça a Himoinsa Racing Team. Esta é a equipa de Gerard Farrés Guell, piloto que o ano passado, aos comandos de uma KTM, fez o ‘Dakar da sua vida’ ao ser terceiro classificado. Outro ‘semi-privado’ que nunca pode ser descartado é o sempre fiável Stefan Svitko (KTM), piloto que pauta as suas exibições pela descrição e que em 2016 foi segundo.

Neste lote é preciso também ter em conta nomes como o herói boliviano Juan Carlos Salvatierra (KTM), Armand Monleón (KTM), Olivier Pain (KTM), Alessandro Botturi (Yamaha) ou o argentino Diego Duplessis (Honda). Tudo pilotos que estarão sempre à espreita para brilhar se existir um descuido por parte dos ‘graúdos’.

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