Não há inocentes
Caiu o pano sobre o MotoGP 2015, uma competição que teve nas últimas duas semanas, muito provavelmente, os dias mais polémicos da sua história. Em pista, assistimos a uma soberba exibição de Valentino Rossi, que recuperou de 26º para quarto em apenas 12 voltas, mas nas derradeiras 18 pouco mais podia fazer para se chegar aos três homens da frente, Jorge Lorenzo, Marc Marquez e Dani Pedrosa. Com Jorge Lorenzo a sofrer a pressão dos seus dois compatriotas da Honda nas últimas voltas, o piloto de Palma de Maiorca não vacilou e garantiu aí a conquista do seu terceiro título de Campeão do Mundo de MotoGP e o quinto da sua carreira nas Motos.
É um Campeão justo? Sim, claro, pois em pista venceu por sete vezes contra quatro de Valentino Rossi. Isto são factos. Só que há algumas nuances importantes, pois o que Jorge Lorenzo fez no pódio da Malásia, valeu-lhe estar a festejar o título em Espanha, Valência, sob um coro impressionante de assobios. Quem semeia ventos, colhe tempestades. Era perfeitamente escusada a sua atitude no pódio.
E aqui passamos para Valentino Rossi, que só se pode queixar de si próprio. A ‘patada’ não provada de Sepang, que terá provocado a queda de Marc Marquez foi tão perfeitamente compreensível quanto escusada, pois não lhe valeu somente uma penalização que na prática o fez partir do fim da grelha em Valência. Valeu-lhe partir para a corrida decisiva do campeonato com armas desiguais face aos seus adversários. Se calhar se tem partido de uma posição normal da grelha, a história podia ter sido diferente, mas também ninguém pode garantir que o resultado não poderia ser exatamente o mesmo. A corrida seria forçosamente diferente, e a luta não seria desigual.
E daqui passamos para Marc Marquez, que teve uma enorme influência no desenrolar desta parte final deste campeonato. Até poderá ter algumas contas a ajustar com Rossi de situações em que diz ter sido prejudicado pelo italiano, mas o que nunca poderia ter feito é ter isso tão ostensivo na forma como lutou contra Rossi comparativamente à forma como não lutou contra Lorenzo. Até podem vir todos os responsáveis da Honda jurar a pés juntos que Marquez tinha que poupar pneus ou o que quer que fosse, mas há algo que nunca ninguém conseguirá reverter, que é a perceção que a sua atitude deixou perante todos os que assistiram. Até podem haver razões para ter sido tão agressivo com Rossi e tão mansinho com Lorenzo, a maioria de nós, provavelmente gosta da expressão cá se fazem, cá se pagam, mas tanto Marquez, como Rossi ou Lorenzo nunca se podem esquecer que têm uma legião de adeptos a olhar para eles, uns mais ferrenhos, outros mais distantes, e muitos deles em vários momentos não terão gostado nada de coisas que viram os seus pilotos preferidos fazer. Conheço muita gente adepta deste ou daquele que não ficou contente, basicamente, não há inocentes no seio desta história toda.
Para a história, amanhã, já é tudo estatística, mais campeonato, menos campeonato, mas poucos se vão esquecer do que o Marquez fez ao Rossi, do que o Rossi fez ao Marquez e do que o Lorenzo fez no pódio. Qualquer dessas atitudes merecia, provavelmente um troféu dos ‘hienas’. Venha o próximo campeonato.
José Luis Abreu