As lições do Dakar de 2015

Por a 29 Dezembro 2015 19:03

A poucos dias da edição de 2016 do Dakar, o MotoSport recorda-lhe como foi a emocionante prova das motos em 2015, num ano onde Paulo Gonçalves esteve perto de fazer história ao ficar a apenas 16m53s do ‘eterno’ Marc Coma…

Primeira parte

Esperava-se um duelo acérrimo entre KTM e Honda pela vitória no Dakar e o certo é que a marca japonesa parecia ter vantagem após a primeira semana de prova. Joan Barreda Bort confirmou que a sua enorme rapidez natural já é acompanhada pela sempre decisiva capacidade de navegação, com o espanhol da HRC a chegar ao dia de descanso (sábado) com uma vantagem de 12m27s sobre Marc Coma. Só que logo no dia seguinte, o consagrado piloto da KTM encurtou essa diferença para 6m28s e à oitava etapa assumiu mesmo o comando da prova, fruto de um dia terrível para Barreda Bort e para a maioria dos concorrentes, que tiveram pela frente dificuldades extremas (sobretudo devido ao frio) na tirada entre Uyuni e Iquique.

Pilotos como Jordi Viladoms (‘aguadeiro’ de Coma na KTM), Michael Metge (Yamaha) e Alessandro Botturi (Yamaha) não passaram dessa terrível especial, com Paulo Gonçalves a perder também algum tempo para Coma mas a subir ao segundo lugar com os graves problemas mecânicos do seu companheiro Barreda, que teve de ser rebocado pelo ‘aguadeiro’ da Honda, Jeremias Esquerre.

Ou seja, à entrada para as últimas cinco etapas deste Dakar, Paulo Gonçalves estava no segundo lugar da geral a 9m11s de Coma, isto depois de já ter vencido uma etapa. Um resultado que fazia os adeptos portugueses sonharem com uma histórica vitória na mais importante prova de TT do mundo, ou pelo menos com novo segundo lugar, à semelhança do que Ruben Faria conseguiu em 2013.

Dia duríssimo…

Também Hélder Rodrigues teve muitos problemas na ‘fatídica’ Etapa 8, numa altura em que também o piloto de Almargem do Bispo já tinha ganho uma especial (a 6ª) e quando tentava entrar no top 5. Igual objetivo movia Ruben Faria que era 6º classificado a cerca de 8 minutos do 5º, o eslovaco Stefan Svitko.
Realisticamente, até o surpreendente rookie australiano Toby Price tinha hipóteses de subir ao pódio pois estava a menos de 5 minutos do 3º classificado, outra das grandes sensações da prova, o chileno Pablo Quintanilla, piloto que nem sequer tinha terminado qualquer das duas participações anteriores.
Realce ainda para a desistência precoce (queda com fratura de clavícula) do primeiro líder da prova, o britânico Sam Sunderland, e também para o rookie austríaco da KTM, Matthias Walkner, que venceu a terceira etapa, ainda em solo argentino.

Depois de em 2014 ter sido a 5ª etapa a provocar uma verdadeiro hecatombe no pelotão dos motards – com muitos a queixarem-se de uma estratégia premeditada da organização para não ‘levar’ tantos concorrente para a fase posterior da prova, por razões de logística e custo -, em 2015 foi a 8ª etapa a assumir o papel de ‘momento-chave’ no Dakar. Ainda assim, num evento duríssimo e imprevisível como este, tudo só terminava verdadeiramente na linha de meta em Buenos Aires…

Classificação até Etapa 8: 1º M. Coma (KTM), 28h51m12s; 2º P. Gonçalves, a 9m11s; 3º P. Quintanilla (KTM), a 11m11s; 4º T. Price (KTM), a 15m56s; 5º S. Svitko (KTM), a 26m30s; 6º R. Faria (KTM), a 34m34s; 7º A. Duclos (Sherco), a 58m08s; 8º D. Casteu (KTM), a 1h10m48s; 9º L. Sanz (Honda), a 1h18m51s; 10º J. Pedrero (Yamaha), a 2h06m19s.

Segunda parte

No ano passado falou-se na intenção de ser criado em Portugal um troféu de navegação no Campeonato Nacional de Todo-o-Terreno em motos. O objetivo da Federação de Motociclismo de Portugal era desenvolver esta vertente tão importante para os pilotos portugueses, que já há vários anos mostram ser dos melhores do mundo em pilotagem pura mas que só com reais bases na navegação poderão discutir abertamente a vitória na mais importante prova de TT do mundo, o Dakar.

A capacidade de navegar com precisão e ao mesmo tempo ser rápido em cima da moto é a característica que distingue os dois grandes nomes da modalidade da última década, Marc Coma e Cyril Despres. No seu quinto Dakar, Joan Barreda Bort mostrou estar cada vez mais próximo dessa simbiose perfeita, já que o catalão da Honda liderava o Dakar com 6m28s de vantagem sobre Coma, depois de ter mostrado quase a mesma rapidez a ‘abrir’ a pista – e portanto a navegar sozinho – como quando partiu atrás de outros pilotos.

Só que mecânica da Honda traiu as aspirações do antigo piloto de Motocross, que perdeu mais de quatro horas na duríssima Etapa 8, no famoso Salar Uyuni, a maior planície de sal do planeta. Também Hélder Rodrigues ficou fora da luta pelo pódio nesse dia, com a Honda a perder dois dos seus principais candidatos de uma assentada.

Restava Paulo Gonçalves que assumiu a perseguição a Marc Coma. Só que a troca do motor da sua Honda na derradeira etapa-maratona decidiu em definitivo a luta pela vitória no Dakar de 2015, com Coma a chegar à sua quinta vitória na prova… e provavelmente a última nas duas rodas. Para ‘Speedy’ Gonçalves, campeão do Mundo FIM em 2013 e vice-campeão em 2014, precisamente após duelos com o piloto da KTM, este é o melhor resultado de um piloto português no Dakar, igualando a performance de Ruben Faria em 2013.

Toby Price com estreia em grande

Espectacular foi a estreia de Toby Price no Dakar, com o jovem australiano a subir ao último lugar do pódio e a mostrar que poderá ser o sucessor de Marc Coma no seio da KTM. Price venceu uma etapa, tal como o chileno Pablo Quintanilla, que também chegou a sonhar com o pódio mas que terminou no quarto posto, a 15 minutos do rookie da KTM.

Outro estreante, o austríaco Matthias Walkner também mostrou rapidez – apesar de ter admitido que ainda não sabe navegar eficazmente – e venceu uma etapa ainda na primeira semana de prova, desistindo já na fase final devido a doença.

Ruben Faria terminou no 6º lugar, o seu segundo melhor resultado no Dakar depois do pódio atrás de Despres em 2013. O veterano piloto algarvio entrou para esta prova com uma fratura na clavícula e, por isso, a sua prestação foi pouco menos do que heróica.

Hélder Rodrigues terminou no 12º lugar mas venceu duas etapas, algo que já tinha conseguido em 2007 e 2012. Ainda assim, o piloto de Almargem do Bispo esteve sempre na ‘sombra’ de Barreda e Paulo Gonçalves, embora tudo tenha feito para auxiliar os seus companheiros de equipa nas etapas mais complicadas.
A espanhola Laia Sanz conseguiu um excelente 9º lugar com outra Honda oficial, enquanto o pluricampeão nacional Mário Patrão teve de abandonar já na segunda semana de prova, com problemas na injecção de combustível da Suzuki que ele próprio assistia. Patrão é outro exemplo de um piloto português de talento reconhecido mas que – tal como Gonçalves, Rodrigues e Faria tiveram de fazer no início – luta para ter os meios e a experiência necessários para, um dia, terminar o Dakar no top-10.

Classificação motos 2015:
1º M. Coma (KTM), 46h03m49s;
2º P. Gonçalves (Honda), a 16m53s;
3º T. Price (KTM), a 23m14s;
4º P. Quintanilla (KTM), a 38m38s;
5º S. Svitko (KTM), a 44m17s;
6º R. Faria (KTM), a 1h57m50s;
7º D. Casteu (KTM), a 2h00m14s;
8º I. Jakes (KTM), a 2h18m18s;
9º L. Sanz (Honda), a 2h24m21s;
(…)
12º H. Rodrigues (Honda), a 4h00m15s. Classificaram-se 79 pilotos.

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Ricardo S. Araújo
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