As mais belas motos de GP, 3: A Cagiva C594

Por a 21 Dezembro 2020 17:00

Considerada uma das mais belas motos de Grande Prémio de todos os tempos, a Cagiva C594 de 1994 permitiu ao americano John Kocinsky vencer corridas e obter pódios a caminho de 3º no Mundial

“a eletrónica era muito avançada na C594, com um processador de Eproms programáveis para variar o comando da ignição e um sofisticado sistema de injeção de combustível”

A moto foi feita por uma pequena fábrica com recursos limitados, mas que se valeu do melhor de algumas pessoas emblemáticas da época, para criar nas oficinas de Varese uma 500 que ainda hoje parece belíssima.

Desenhada por Massimo Tamburini da Ducati, e tecnicamente desenvolvida por outro génio mecânico, George Vukmanovich, um Americano anão, corcunda e aleijado, que viera para a Europa com Freddie Spencer e ainda hoje trabalha no CEV como preparador, tinha como coração um motor de dois tempos de 498 cêntimos cúbicos em formato V4, que debitava 177 cavalos às 12.600 rpm.

Além disso, era equipada com um avançado chassis que incluía quadro compósito de dupla viga de alumínio reforçado com fibra de carbono. Esse material, na altura ainda a ser explorado,  era usado também no braço oscilante em opção, e até experimentalmente nas rodas, conseguindo-se um peso total de apenas 122 quilos.

Pensa-se que Kenny Roberts ajudou com o projecto, emprestando uma Yamaha 500 para a equipa se basear nas dimensões críticas da moto japonesa na construção do chassis original.

Também a eletrónica era muito avançada na C594, com um processador de Eproms programáveis para variar o comando da ignição e um sofisticado sistema de injeção de combustível Marelli, suspensão semi-ativa controlada eletronicamente e variável curva a curva, e até um dos primeiros sistemas experimentais de controlo de tração, que cortava a faísca a um ou dois dos cilindros do V4 a certos regimes para reduzir derrapagem da traseira.

A sofisticada injeção de combustível era um sistema desenvolvido pela TAG, agora parte da MacLaren, e o ECU utilizado TAG 4,8C era uma versão à escala da TAG 2.12F produzida para a Formula 1, tendo as mesmas capacidades da utilizada no MacLaren MP4/8 de  1993. Ou seja, quando a maioria ainda usava carburadores, era uma unidade programável que controlava electronicamente os mapas de combustível e ignição e oferecia mesmo parâmetros de recolha de dados e telemetria.

A TAG2.12 era a segunda geração de um sistema que fora inicialmente desenvolvido para um Porsche V8, mas acabou por ser introduzida nos Silver Arrows de Formula 1 de 1991.

A moto, ou a disponibilidade financeira dos irmãos Castiglioni, atraíam pilotos famosos, a começar com o grande Randy Mamola, mas também Ron Haslam, Raymond Roche, Carl Fogarty, Eddie Lawson (7 acima) e Alex Barros em 1992, e finalmente a partir de 1993, Doug Chandler e John Kocisnky, que pilotaram a Cagiva em Grande Prémio com variados graus de sucesso.

Barros, por exemplo, foi 5º no Grande Prémio de Itália em Mugello em 1992, e como vimos, Kocinsky (abaixo com Agostini e Chandler) ainda venceu com ela em 1994, no auge do seu desenvolvimento, acabando o ano em 3º depois de uma vitória na Austrália no ano dominado por Doohan na Honda.

Desportivamente, os resultados podem ter sido assim-assim, mas o que é inegável é que a estética de moto italiana, que daria origem à Cagiva Mito 125 de estrada, praticamente igual em dimensões, oferecia uma beleza raramente vista numa moto de Grande Prémio, no seu glorioso acabamento em vermelho vivo.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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