Uma época para recordar

Por a 8 Fevereiro 2019 18:32

Então os treinos de Sepang chegaram ao fim com 4 Ducati na frente, seguidas de Vinãles na única Yamaha que, nesta fase incipiente das coisas, parece ter condições de se bater de igual para igual com as vermelhas de Bolonha e com as Honda…

Poucas conclusões sólidas se podem tirar daqui, até porque a Honda dominante não foi nem Márquez nem o ausente Lorenzo, mas a LCR de Crutchlow, ainda mal refeito de um longo período de convalescença… E, no entanto, incluindo o homem de Coventry, três pilotos rodaram abaixo do anterior recorde de Lorenzo…sendo os outros o referido Vinãles e o homem da “pole” Petrucci…

Daqui, a conclusão que se pode tirar é que estamos perante o que será, talvez, a mais competitiva época de MotoGP de sempre… Senão, vejamos: A Ducati continua a provar que as suas motos podem ser tão competitivas que até as das equipas satélite andam à frente com facilidade, não se fazendo rogadas para bater inclusivamente as oficiais… Até um rookie como Bagnaia já está capaz de andar na frente com o que no entanto passa por ser uma das motos mais difíceis de pilotar do plantel, veja-se as dificuldades de Lorenzo na sua passagem pela equipa.

As Honda, com o que pode muito bem ser a mais forte dupla de pilotos de sempre este século em Marquez e Lorenzo, não há de ficar muito atrás e decerto dominará nas pistas certas, leia-se onde a sempre espantosa velocidade de ponta das Ducati não possa ser aproveitada ao máximo…

O facto de que ambas as equipas acima se preocuparam em experimentar novas soluções aerodinâmicas pode ser interpretado com a conclusão que estão satisfeitos com o nível de competitividade das suas motos, ou nem perderiam tempo nesse aspeto até acertarem as partes mais fundamentais do pacote…

As Yamaha, pelo menos com Viñales, (mas quem apostaria contra a possibilidade de Valentino Rossi, ainda a sonhar com mais um título, surgir muito forte em certas rondas?) parecem no ritmo e decerto trabalharam arduamente no defeso para resolver ou pelo menos minimizar os problemas de tração e mudança de direção que as têm afetado. A Yamaha SRT também parece ter condições e Morbidelli já o demonstrou…

Em Sepang, os treinos começaram com Alex Rins a ser um dos mais rápidos, segundo mesmo no primeiro dia de testes, portanto é justo dizer que a Suzuki pode fazer a surpresa ou pelo menos ser um joker a complicar as contas… Restam a Aprilia e a KTM… desta última, há igualmente ilações a retirar. Poucos argumentariam contra a atual capacidade do experiente e rápido Johann Zarco, que a encetar a sua 3ª época na MotoGP já fez 4 poles, 6 pódios, e liderou corridas durante muitas voltas, só faltando mesmo vencer.

No entanto, por toda a sua bravura, o recém-chegado à categoria, à marca e à equipa Miguel Oliveira ficou em Sepang a apenas 0,3 segundos do melhor que o Francês soube oferecer… ainda por cima com pneus usados! Quando a diferença de experiência na categoria e de habituação à moto e à equipa, é vasta entre os dois pilotos, e portanto a capacidade de andar nos limites ou perto deles há de o ser igualmente também, especialmente quando conhecemos a prudência de Oliveira até ter total confiança na máquina que pilota …

Mais, o português ficou só a 2/10 do tempo de Espargaró, que lembramos, foi o único até hoje a colocar uma RC16 no pódio, por ocasião da última corrida da temporada de 2018 em Valencia… Indo pela experiência em equipas e número de anos na categoria dos outros dois, e portanto pelo potencial de capacidade de desenvolver uma moto de MotoGP, (não retirando nada às capacidades já mais que provadas do piloto da Caparica de desenvolver uma moto e dar feedback útil à equipa técnica) Oliveira não devia nem estar no mesmo segundo.

Descontando de momento Shyarin, este agrupamento em posições consecutivas de três das quatro moto Austríacas em 17º, 18º e 19º, (com Syahrin pouco atrás, separado dos outros por Abraham) quer dizer que, nesta fase, o fator limitante não é a capacidade de pilotagem, ou diferencial de talento ou mesmo experiência de qualquer dos 3 pilotos, mas o teto das capacidades da própria moto, que ainda não consegue fazer melhor, sente-se nela quem se sentar.

Também é significante, mas não surpreendente, que a satélite de Hervé Poncharal já consiga andar “colada” às oficiais, já que os seus homens da Tech 3 vinham fazendo o mesmo com as Yamaha e há de haver muito mais por onde experimentar na muito menos desenvolvida KTM do que havia nas YZR-M1…

Assim que Oliveira entender a moto um pouquinho melhor, assim que a equipa aprender a interpretar as suas impressões para lhe dar o que ele precisa e decerto exigirá a curto trecho, a formação satélite irá, pelo menos pela mão do português, levar a guerra mais acima aos oficiais… se isto os vai fazer, por sua vez, passar a andar mais à frente no pelotão, entrando nos lugares da classificação que dão pontos gordos, ou será um esforço espúrio de duelo fratricida entre equipas da mesma marca, é uma das grandes questões neste momento…

Decerto para nós, portugueses, só pela presença de Miguel Oliveira entre o plantel da classe rainha, será uma época a recordar… mas tudo indica que haverá muito mais razões para ser assim!

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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