Entrevista fim de época -Nacional de Superbike – Ivo Lopes
Concluímos a nossa série de entrevistas com os protagonistas da classe rainha da nossa velocidade, as Superbike, com o Campeão
Ivo Lopes
da Yamaha ENI Pequeno Motos, que com 4 vitórias e dois segundos, venceu o Campeonato com 140 pontos, deixando o segundo a 46 pontos.
Ivo, como surgiu este desafio da fazer o Nacional depois de teres corrido em Espanha?
Na verdade, eu gosto de correr em Portugal, mas houve um bocado de pressão da Federação nesse sentido , pois não me queriam deixar correr de 600, só de 1000… chegaram ao fim do ano e disseram, “se não mudares, também não te damos a inscrição de 600”…
Acho que muitos pilotos reclamaram por eu o ano passado andar a lutar ali com a 600, que estragava um bocado o ambiente eu andar na frente…
Acho que acabou por ser uma opção boa, também derivado à escolha da Yamaha… não é por eu correr de Yamaha, mas é uma moto boa, que está a um grande nível e acho que para um piloto que subiu de uma 600, de uma R6, para uma R1 é basicamente idêntico, é um motor muito soft, muito muito boa, é uma moto que é guiável e faz sonhar qualquer piloto que suba para a classe mil…
Eu tive azar logo na primeira corrida, ia na frente e a moto falhou a instalação e entrou em modo de segurança, depois também na 2ª e 3ª no Autódromo, parti uma caixa quando o Tiago ganhou… depois, ganhei as outras todas. Tive alguns azares mas já não estava na luta, já tinha ganho ali um bocado de distância, e as outras corridas, uma foi anulada, a outra foi cancelada, uma por motivos de força maior e outra pela chuva, mas eu já estava em primeiro e já tinha essa vantagem… mas as corridas são corridas e até à bandeira de xadrez tudo pode acontecer. Mas na qualificação eu estava também na frente, já tinha as poles, por isso acho que não era por aí…
Ganhar um Campeonato nunca é fácil, porque… temos sempre umas pressõezinhas, que é o normal, mas quando elas acontecem, a dada altura este ano foi em Portimão, no Estoril fiz uma corrida boa, a primeira estava meio molhado meio seco, a segunda foi quando aconteceu aquilo com o Tiago, a terceira uns arrancaram com pneus de chuva, outros pneus de seco, não deu para ver, mas em Portimão, sim, tivemos corridas giras. Não é para mandar a concorrência abaixo, nem nada disso, mas em Portimão do meio da corrida para a frente andei um bocado parado, desanimado, porque já tinha alguma vantagem, foquei-me em ganhar um bocado de ritmo e conseguiu fazer a corrida toda em 1:47s, acho que em Portimão é magnífico, e foi isso em que me foquei… estava a tentar bater a mim próprio durante a corrida, porque apesar do Tiago aguentar ali quatro voltas em Portimão, depois conseguiu abrir uma pequena vantagem e ir abrindo, abrindo, e depois era tentar bater a mim, volta após volta!
“nunca exigi, era o que tínhamos e tive de exigir foi a mim próprio”
Nunca estive com grandes exigências à equipa porque, para ser sincero, acho que os Portugueses estão mal habituados, outros povos também, mas aqui falamos de Portugal, eu posso dizer que a minha moto estava completamente stock, o amortecedor de trás é stock, não tenho Öhlins, não havia verba para mais e nunca exigi, porque o que a gente teve de início era o que tínhamos e tive de exigir foi a mim próprio e se faltava alguma coisa, era eu que tinha de perfazer, porque como referi antes, o povo está mal habituado.
Quando digo isto, a atitude é “temos de baixar o tempo, vamos pôr isto ou aquilo” não, nós pensámos, temos a moto, vamos baixar o tempo, e acho que ninguém consegue explorar uma 1000 em Portugal, pelo menos é a minha opinião, posso estar errado, mas ainda nem eu a conseguiu explorar, andei rápido, sim senhor, mas sei que ainda é preciso muito mais para explorar uma 1.000 e depois, para explorar mais, tinha de ter telemetria, a recolha de dados é muito importante, tinha de ter um amortecedor de trás, e a minha moto não tem, basicamente, nada. O que se modificou foi a instalação, senão está sempre a entrar em modo ode segurança como aconteceu na primeira corrida, tem a suspensão da frente e o escape, basicamente é isso.
O meu pior resultado acabou por ser segundo, com essa corrida e depois a outra em que parti a caixa, acabei por ter um bocado de sorte, porque nesse momento houve uma bandeira vermelha, alguém caiu e contou da volta anterior, estava em segundo, azar e sorte ao mesmo tempo… Acho que, em Portugal, eu dei o máximo e tentei gerir muito, dava para gerir, para apertar ali 5 ou 6 voltinhas e eu penso que sou um bocado um piloto assim, também, gosto de atacar nas primeiras voltas e depois se conseguir dar distância, manter o meu ritmo. Foi assim que fiz no CEV e é assim que faço nas corridas…
“claro que precisamos sempre de um bocadinho mais, até o Rossi precisa…”
Ajuda sempre a equipa ser como uma família, as pessoas, lá está, acham que é preciso isto e aquilo e nós conseguimos mostrar com uma equipa pequena e aceitar todos os problemas que há, não há isto, Ivo podias fazer assim, a gente tenta, tivemos problemas durante a época com suspensões e assim, e lá tivemos de nos entender uns aos outros, mais rápido ou mais lento. Claro que precisamos sempre de um bocadinho mais, é óbvio, até o Rossi precisa e está numa equipa oficial, mas até agora, foi uma experiência muito boa, mas acho que tenho de dar o salto em termos internacionais e não me falta muito… Se não for agora, também vai ser difícil, acho que o mais importante de momento é passar para o Campeonato Espanhol porque eu para ir para o Mundial para uma equipa de Supersport, pedem 300 mil euros e coisas assim, e um Campeonato assim é impossível para nós portugueses e é mau para mim…
Gostaria de fazer o Campeonato Espanhol de Superbike para o ano, já que estamos ligados às Superbike e continuar a fazer o Nacional como treino, porque nós os pilotos temos sempre um bocadinho de bazófia e temos de andar rápido e querer andar rápido, não basta ficar ao mesmo nível, e eu gosto de entreter o público, gosto de estar com eles, mas o Espanhol é que me vai desafiar e fazer ganhar ritmo… tenho tido alguns contactos, tenho falado, lá tem de se pagar, como é óbvio, e este ano o Campeonato vai estar muito forte, porque muitos das Superstock 1.000 ou vão para Itália ou para o CEV… e depois lá é uma luta de pneus, Michelin, Pirelli, Dunlop e a Dunlop vai ter este ano o Carmelo Morales e o Xavier (ininteligível), que vai mudar de equipa, vai ser um campeonato giro onde eu gostava de estar, mas tenho de arranjar verba… A ideia é integrar-me numa equipa de lá porque estou a pensar, se correr lá, a marca vai ter de ser igual à de cá, e se eu não correr lá de Yamaha, cá também não posso correr, é simples.
Em termos de preparação física, tenho treinado muito, o ano passado já treinei bastante, bastante… Treino no Jamor, no Centro de Alto Rendimento, onde treina o Miguel, onde treinam os outros pilotos, e foquei-me porque o meu treinador, o Bruno Jorge, que é também o da Federação, disse-me “tu tens de pôr os pés assentes na terra”, e eu comecei a treinar o ano passado e deu frutos logo para o CEV, era importante, e foi…
A minha rotina é, segunda-feira tenho ginásio, terça-feira tenho carga que é bicicleta, tenho uma coisa extra à terça-feira que é o MMA, que é luta livre, que gosto de fazer por hobby, quarta-feira voltamos ao ginásio, quinta temos a bicicleta novamente, juntamente com o MMA, sexta voltamos ao ginásio e Sábado outra vez bicicleta e ao Domingo descanso se não se anda de moto… e tem sido assim todos os dias é uma coisa difícil mas temos de ser fortes. Ainda por cima tenho de fazer 20 Km todos os dias para ir ao ginásio e eu não tinha preparação psicológica para isso, mas houve pessoas que me ajudaram mas também o fiz porque sabia que ao subir de classe para uma 1.000 não podia deixar a equipa mal… Qualquer piloto tem a sua duração e ao fim de uma corrida chegamos sempre cansados… Onde eu notei a diferença foi no CEV, na regularidade, na minha segunda corrida fiz a prova toda nos .44 e em Portimão, aguentei os .47, que é o tempo do Campeão Espanhol deste ano… é sempre ser explosivo de início e depois manter o ritmo até ao fim!
Os meus apoios ainda não sabemos, claro que tenho patrocínios que gostaria de levar, se eu correr lá… tenho alguns que vão ficar comigo cá, a Yamaha, a Pequeno Motos, a ENI… Eu acho que tenho uma condução segura mas também sei que tenho de andar sempre nos limites…
Estou num bom momento de carreira, já não tenho lesões desde 2014… não, desde os 11 anos, estou com 22, há 12 anos! A única lesão que tive um bocado mais grave foi torcer um braço, no momento não fui logo ao Hospital e o médico da pista achou que não era preciso e passado 24 horas tiveram de partir o osso para ir ao lugar… e parti uma clavícula mas ficou no sítio e aquilo soldou… numa equipa a sério claro que pode sempre haver uma queda ou outra, eu este ano caí duas vezes e é um bocado por aí… senão não se ganha o ritmo certo, o Miguel este ano acho que caiu duas vezes e foi vice-campeão do Mundo…