SSP, 2021: Jules Cluzel na primeira pessoa

Por a 14 Junho 2021 18:30

Jules Cluzel já vai com uma longa carreira em SuperSport. Aproveitando a sua presença recente no Estoril  quisemos saber mais, o que resultou nesta entrevista exclusiva

O objetivo para qualquer desportista, quando andas no Campeonato do Mundo, é estar sempre lá, estar sempre perto do pódio…”


Aos 32 anos o piloto de Montluçon, depois de começar no Mundial de 125 em 2005, já esteve muito perto de títulos mundiais, com 3 vice-Campeonatos de SSP em 2012, 2014 e 2016, e pilotou por uma série de marcas, como ele começa por recordar:
“Comecei por andar para a Honda, no início da minha carreira, depois para a MV Agusta e agora e Yamaha…”

“Em última análise gostava de ter ficado nas SBK, numa boa equipa, mas penso que os ingleses, por causa de terem um campeonato tão forte, tem um acesso mais direto às motos oficiais vindos do BSB…”

“Eu das SuperSport, tive oportunidade de ir para a Superbike em 2013, com a Suzuki… Claro que era uma moto velha, que ia ser pouco competitiva, um bocado imponente, gorda e pesada, que também não ia ajudar com o meu físico!”

“Mesmo assim, ainda consegui um pódio na Grã-Bretanha, e muitos lugares no top 6  (foram 17 no Top 10 durante o ano, n. do r.)

“Desde aí houve muitos pilotos que subiram às Superbike e tornou-se mais difícil, e eu perdi a oportunidade de ficar em Superbike outro ano, penso que por causa de questões de orçamento e também interesses comerciais!”

“Pela idade não foi, que em 2013, ainda era jovem!”
“Não sei explicar porque é que às vezes sou tão rápido nos treinos, e outras vezes tenho dificuldades…”

“De qualquer maneira, quando não corre muito bem, ainda consigo ser terceiro ou quarto, por isso continua a ser uma boa corrida, mas o objetivo para qualquer desportista, quando andas no Campeonato do Mundo, é estar sempre lá, estar sempre perto do pódio…”

“Depois ganhar, tudo bem, é tudo muito bonito mas não há questão de ganhar sempre, sabes que não vais ganhar as corridas todas!”
“O que acontece hoje em dia, por causa do meu estilo e da minha experiência, é que, eu sei que há pistas em que vamos ter uma vantagem, devido ao meu estilo de pilotagem. Por exemplo, eu sou muito bom nos travões, travo muito forte!”
“Por outro lado, tenho um estilo de pilotagem que exige muita aderência, por exemplo, aqui no Estoril, com a falta de aderência, eu tenho dificuldades…”

“Sou muito penalizado aqui porque a moto anda muito de lado…. Por isso aqui no Estoril se conseguir ficar em terceiro, para mim é um bom resultado!”
“Ainda há bocado estava a dizer ao Christophe Guyot (Manager) que Aragón foi uma pena, porque nas sessões da manhã, em que estava mais frio, eu era o mais rápido, mas depois houve um erro estúpido do outro concorrente na primeira manga que me excluiu, e depois um erro do campeonato, com esta história das pressões dos pneus, que me fizeram arrancar da parte trás da grelha…Isso são azares.”
“Eu digo que foi um erro estúpido mas de qualquer modo quando me encontrei na gravilha, já estava no chão e a minha primeira preocupação foi o outro piloto, ver se ele estava bem!”

“Somos humanos e somos desportistas, portanto não queremos ver outro piloto magoar-se!”

“Eu fui ver se ele estava bem, depois toquei-lhe no ombro e vi que ele estava bem…”

“Numa situação daquelas, em que o Tuuli tinha todo o tempo para ultrapassar, não era o momento de fazer aquela manobra!”

De qualquer modo, depois da corrida tivemos oportunidade de ter uma conversa e eu disse-lhe que ele tem que prestar mais atenção, porque eu sou muito forte nos travões e isso apanha as pessoas de surpresa!”

“Já o ano passado tive várias situações assim…ele disse que não se preocupasse, que não era o estilo dele ser agressivo, mas ali tinha cometido um erro!”
“Agora, eu tive experiência na MV Agusta e com os travões de origem, ela não funciona bem, o travão é muito duro e brusco!”
“Embora depois, seja uma moto que acelera muito repentinamente, acelera mais que a nossa Yamaha, mas acaba por ser um bocado perigosa…”

“Já são duas vezes que um piloto da MV Agusta me bate por detrás. Foi a mesma coisa com o DeRosa, que também falou comigo depois da corrida e disse também que nesse aspeto a moto é perigosa!”
“É verdade que foi ele que me bateu por trás, mas a realidade é que em relação ao Tuuli, eu ia travara 5 ou 6 metros mais tarde e ele acabou por cometer um erro…”
“O Tuuli acabou por ser penalizado duas vezes, uma porque não acabou a corrida, e outra porque depois foi obrigado a sair do pit lane!”
“Para mim, se fosse um piloto que comete esse tipo de erros constantemente, alguém teria que lhe pedir que saísse do campeonato, devia ser excluído!”

“Eu até tenho um passado de sucesso com a MV, mas acho que eles também ficaram um bocado amargos porque quem teve os melhores resultados naquela moto fui eu!”

“Mas o Tuuli e o DeRosa também são pilotos com muita experiência eles próprios.”

“Estas coisas podem acontecer, mas numa situação daquelas, em que o Tuuli me estava a apanhar por detrás no princípio da corrida, e tinha todo o tempo para ultrapassar, não era o momento de fazer aquela manobra!”
“Quanto à Yamaha GMT94, é o meu terceiro ano com a equipa, é como família, conhecemo-nos todos muito bem, dou-me bem com toda a gente!”

“Adoro o Christophe, já tínhamos trabalhado juntos no passado e foi um belo reencontro, e é bom podermos perseguir os nossos objetivos juntos!”
É cool, todos estes anos, as pequenas histórias que temos juntos, as peripécias que passámos…”

“Este ano o objetivo era claramente o campeonato, mas eu não tive sorte, porque na primeira corrida, em princípio, devia ter ganho… tínhamos uma boa base para ganhar!”

“Depois, quando chegamos a um circuito difícil, como aqui no Estoril, o objetivo tem que ser o pódio, mas para chegar a outros circuitos, o objetivo tem que ser sempre dominar!”
“Quando chegas aqui com uma equipa com esta experiência, andaram anos da Endurance, espero sempre que eles entendam o que é preciso fazer e se faça progresso ao longo do fim-de-semana!”

“Se vejo que não posso ganhar, tento dar sempre o meu melhor para sobreviver ao fim-de-semana com o máximo de pontos!”

“Os pilotos franceses, mais cedo ou mais tarde, acabam todos na Endurance… eu já fiz uma corrida de Endurance em 2017, mas tens que ver que, por causa das minhas lesões, eu uso as mudanças invertidas, do outro lado…”

“Desde aquele meu acidente que adotei este formato com o travão no polegar e as mudanças no pé direito.”

“Tinha que ser uma equipa em que todos tivessem assim as mudanças, do lado direito, ou mudar de cada vez que se muda de turno, que é muito complicado… ou uma moto de caixa automática!” (risos)
“Aos 32 anos, ainda podia passar para as Superbike, e o Christophe quer, mas por outro lado, eu estou ainda muito bem aqui, nas SuperSport, ainda sou muito rápido, ainda estou a perseguir o título até o final do ano, portanto, porquê parar, porquê mudar?”
“Aquilo que me motiva mais continua a ser vitórias, a sede da vitória, mesmo!”

“Com os azares, com as lesões, tudo o que já me aconteceu na minha carreira, se alguém merece o título, sou eu!

Portanto, continuo a estar muito motivado, a querer! Podia ter estado em casa há anos, já calmamente mas não está no meu íntimo desistir das coisas!”
Desde a nossa entrevista, Cluzel teve mais 2 pódios em 3º, um no Estoril e outro em Misano, o que o mantém no 5º lugar do Campeonato com 65 pontos.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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