Entrevista fim de época – Nacional Superbike – Rui Marto – BMW Motomil Zanza

Por a 12 Dezembro 2018 16:00

Aqui damos início a uma série de entrevistas com os protagonistas da classe rainha da nossa velocidade, as Superbike. Na verdade, são Superstock, e começamos com o 4º classificado no Campeonato, com 56 pontos e 2 pódios, Rui Marto da BMW Motomil Zanza Racing Team.

Vocês têm feito uma aposta na BMW, que à partida seria extremamente competitiva mas também tem os seus quês, não é?

Hoje em dia, todas as motos são boas, depende sempre do nível de preparação e dinheiro e tempo que se esteja disposto a investir nelas. Posto isto, esta é uma moto que ganha campeonatos lá fora, ganha em Espanha, no British em formato Superstock, em Itália, onde quer que seja… Portanto em termos da moto propriamente dita, é uma moto boa sem dúvida, lá está, tem tudo a ver com o nível de preparação e quanto se esteja disposto a investir, e depois, claro, quem lá vai em cima, que também faz muita diferença, obviamente

Depois de ganhares corridas em Espanha, no Nacional estás sempre perto do pódio mas sem nunca vencer, o que falta?

Pódios já fiz alguns, até segundos lugares, nunca ganhei uma corrida, isso é verdade… Em Espanha, corri de facto e ganhei corridas mas era um troféu monomarca, com um nível amador, ou seja, um nível relativamente elevado à frente mas não era um Campeonato Nacional… Estamos no terceiro ano com a BMW, começámos em 2015 e já passámos por duas versões, a primeira era uma HP4, já chegou preparada, não tivemos de fazer nenhum esforço, era uma moto de uma equipa espanhola, vencedora no CEV, já vinha competitiva, só exigiu um esforço de adaptação.

De 2017 para a frente já é outra história, uma moto preparada por nós desde a base, e aí sim, já tivemos bastante trabalho de preparação, de recolha de dados e esta época em particular foi uma época em que apostámos bastante nisso… fomos contratar uma pessoa a Espanha, para a telemetria, um analista para recolha de dados e é um facto que a moto com que começámos o ano não tem nada a ver com a moto com que estamos a acabar…

Isto tudo feito com a perspetiva de ser uma moto para as próximas épocas, não estávamos à espera de resultados logo no ano de começo, é uma modificação do método de trabalho, a própria moto, na forma como funcionava, levou uma volta grande…

Para 2019, há uma nova S1000RR, quer dizer que o vosso desenvolvimento começa do zero?

Basicamente, cada vez que mudamos de moto, começamos do zero, a próxima época será a primeira em que transportamos informação já palpável de uma época para a outra… O desenvolvimento prende-se com o chassis, mas também eletrónica e motor, trabalhámos muito na entrega de potência, porque era uma moto muito complicada de início, muito difícil de colocar a potência no chão, tivemos de trabalhar a eletrónica de maneira a tirar o maior partido disso… Também em termos da geometria, mas em menor medida, porque o regulamento não permite grandes modificações desse tipo, tem de ser tudo na base da eletrónica… e na geometria da moto.

Apesar de termos trabalhado bem, trabalhámos pouco, porque foi um ano muito estranho em termos de clima, muita chuva, muito frio, não fizemos pré-época, não foi possível, o trabalho efetivamente só começou quando a época começou… e quando a época começou, as condições não eram ideais… mas conseguimos sempre evoluir, a moto transformou-se, a própria maneira de eu a pilotar também se modificou, seguindo algumas indicações que me permitiam ser mais rápido e construir sobre isso para continuar a avançar.

Chegámos a meio do Campeonato em segundo lugar, mas depois tive azar e lesionei-me…

O melhor resultado foram dois pódios em Portimão e aqui no Estoril e o pior resultado… foi quinto. Este ano foi… foi falta de sorte! Chegámos a meio do Campeonato em segundo lugar, mas depois tive azar, cai num treino em Portimão e lesionei-me, parti a clavícula, e tive de falhar duas corridas. Num Campeonato como este, perder 50 pontos assim de repente é meio caminho andado para não se conseguir recuperar… depois, houve duas corridas canceladas, uma por uma fatalidade e a última pelo clima, e os 50 pontos tornaram-se em 100 e foi impossível recuperar.

A nossa ideia por detrás da estrutura da equipa foi conseguir construir uma base em que em conjunto se pudesse avançar… se continuássemos sozinhos, só muito dificilmente iríamos conseguir avançar. Fomos procurar pessoas que sentimos estarem em posições semelhantes a nós, que quisessem entrar no projeto e quisessem fazer também o mesmo caminho… sabendo eu, à partida que, pelo menos no primeiro ano, eles tinham muito a ganhar com os dados e com a minha informação e eu pouco teria a ganhar com a deles… mas com a perspetiva de que eles ganhassem ritmo e velocidade e depois, com as diferenças de estilo de condução, a forma de utilização da moto, que eu conseguisse mais à frente tirar alguma informação que me ajudasse a ser mais rápido…

Controlo de tração exige manter o sensor do ABS

Obviamente, partilhamos despesas, o que nos permite ter meios à disposição que eu sozinho não conseguiria… As motos, aparte diferenças de pormenor, estavam iguais! Para o ano, aparentemente a moto tem algum atraso, o que falámos com a BMW foi começar a época com a moto atual e quando a outra chegar, após perceber o nível inicial da moto, quando estivermos ao mesmo nível, é que vamos mudar, temos de ir avaliando ao longo do ano… pode nem acontecer!

O apoio à competição é através da BMW, que requer que tenhamos um concessionário a apoiar, as motos são nossas, de cada um, menos a minha que é cedida pela BMW, basicamente todas as despesas de preparação da moto são suportadas por nós, nenhum de nós tem apoios financeiros, temos sim algumas empresas que nos apoiam e facilitam muito a vida, com preços mais competitivos… ainda não é o nível de suporte que precisamos para pensar noutras coisas…

A Motomil participa em larga parte com o apoio de competição, a AG Racing que é o parceiro de suspensões, com a afinação da moto, a JBS que nos fornece quase todo o material after-market… A Alpha Racing que é um preparador de renome, tem muita informação, era a equipa que geria a BMW no Mundial de Superbike, para além do material, temos atalhado algum caminho com toda essa informação… temos a Motoval que nos ajuda bastante num evento como este, que nos permite treinar sempre que possível… e depois temos o banco da Joana e do Rui que participa com um capital elevado…

Para o ano, não vamos crescer em termos de pilotos, este ano já foi complicado com 4 pilotos, está fora de questão ter mais, ainda vamos avaliar como a coisa se vai processar…(fazer) o Campeonato Nacional e tentar fazer algumas provas do Campeonato Espanhol, à imagem do que fizemos este ano, para nos ajudar a evoluir mais depressa.

Eu não sou pessoa para pedir a terra e o céu, mas gostava de ter um patrocinador que me permitisse trabalhar em condições, treinar quando é necessário, não ter sempre aquela preocupação de não cair com a moto, porque não nos podemos magoar, depois não há capacidade de reparar se for uma queda grande, não há peças… e temos de ir trabalhar na segunda-feira! Portanto, libertar-nos daquele stress mental seria ideal.

Apesar de não sermos profissionais e o nosso nível não ser super elevado, estamos bastante acima do nível típico de um track day… portanto, num track day normal não se consegue aprender nada, estamos limitados ao ritmo médio dos outros, não serve para ganhar ritmo… Os nossos treinos fazem-se nas corridas, considerando que em Portugal são corridas em que andamos muito pouco tempo em pista, é difícil evoluir, daí a tentativa de ir às corridas em Espanha, que geograficamente é o que faz sentido, e acrescentar mais corridas ao nosso portfolio, pois é onde podemos ganhar algum ritmo e evoluir…

Joana Ferraria: Como ela diz, manager, assistente, pit babe e muito mais…

Qualquer pessoa com esforço e dedicação consegue chegar aonde nós estamos

Os outros pilotos são o Gonçalo Ferreira, que corre comigo nas Superbike, o Alexandre Rosado na Copa Motoval e este ano o Ricardo Andrade, que também participou na Copa Motoval. Em comparação aos rivais diretos temos só 4 anos de competição, e é muito esforço e trabalho constante para estar na linha da frente. Primeiro, o objetivo era provar a nossa capacidade e depois demonstrar que qualquer pessoa com esforço e dedicação consegue chegar aonde nós estamos.

Eu não sou especial, não tenho nenhum dom, é tudo fruto de muitas horas investidas, muito trabalho, alguns sacrifícios… É a única maneira de se lá chegar, daqui ninguém vai sair para o MotoGP nem ser Campeão do Mundo, mas ainda assim é um desafio. Sempre fui muito competitivo desde novo em tudo, e a Joana tem a mesma mentalidade, fazer o melhor com os meios que temos ao nosso dispor…

 

Na nossa vida profissional, estamos ligados à informática, à tecnologia, e portanto facilmente identificamos as tendências e a forma de as capitalizar e tentamos utilizar isso ao máximo… Na nossa opinião esses meios não tem sido explorados como deve ser… Criticam a Federação, mas em primeiro lugar eu não considero que a Federação deva fazer divulgação, ponto final, é um órgão regulador, isso devia ficar a cargo dos clubes ou dum promotor… e de todos nós os participantes…

Existe muita crítica, na minha opinião infundada, as pessoas que lá estão têm trabalhado bem e até para lá do que seria a sua responsabilidade… é fácil criticarem sem tentar entender como as coisas são… Estando envolvidos a fundo, acabamos por ver a perspetiva de todos… Termos um Presidente da FIM português acho excelente, é ótimo para todos, não esperamos que as coisas mudem do dia para a noite, mas mal não pode fazer… e termos o Oliveira na MotoGP também é um fator de prestígio para Portugal!

 

 

 

 

 

 

 

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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