Entrevista fim de época- Nacional de Superbike – Tiago Magalhães

Por a 18 Dezembro 2018 15:00

Continuamos a nossa série de entrevistas com os protagonistas da classe rainha da nossa velocidade, as Superbike. Desta é a vez do vice-Campeão

Tiago Magalhães

da Aprilia Portugal ENI, 2º no Campeonato com 96 pontos, uma vitória e 4 pódios.

A época até te correu bem no geral, mas depois tiveram azares?

Sim, na resistência entrámos motivados, sabíamos que éramos competitivos à chuva, sabíamos que tínhamos uma boa base, a seco sabíamos que a moto tinha melhorado de um ano para o outro, a trabalhar com o departamento Racing da Aprilia desenvolvemos bastante a nossa moto, mas tínhamos ainda uma margem muito grande para progredir. Só que, infelizmente, na primeira corrida não entrámos da melhor forma, com uma queda aparatosa, parti três vértebras, um pé, uma mão…quando me comecei a sentir mais forte, com mais confiança de novo na moto, os resultados começaram a aparecer, estivemos fortes, conseguimos chegar rápido ao segundo lugar, tivemos uma vitória, só que infelizmente, e quando estava forte para voltar a atacar as vitórias, voltei a ter uma queda, voltei a parti mais duas vértebras e uma costela, e este ano foi um ano de altos e baixos.

“pensamos que o terceiro ano vai ser o ano da vitória”

Por outro lado, a Aprilia RSV4 trabalha muito bem e pensamos que o terceiro ano vai ser o ano da vitória… A Aprilia ajudava com o desenvolvimento de toda a parte eletrónica, mesmo a nível da base do motor, eles abrem-nos o jogo e trabalham connosco, e dentro das nossas regras acaba por ser uma moto idêntica à moto oficial Superstock da Aprilia Racing, não há-de estar igual, mas muito próximo e por isso temos uma base muito forte para o CNV.

Os pontos fortes, além do motor V4, que é maravilhoso em circuito, esta moto tem um motor muito forte, e o kit da Aprilia Racing faz gestão de dados, é como se fosse aquisição de telemetria, então faz a gestão do motor e temos muito por onde trabalhar e desenvolver… mas para isso é preciso tempo em pista e este ano faltou-nos muito tempo em pista, e não tivemos os resultados que esperávamos, mas para o ano, com uma boa pré-época e sem lesões, estou seguro que vamos entrar a bater recordes e a voltar a um nível mais elevado.

Esta moto é muito compacta, o quadro é muito rígido, não é por ser da marca, mas a Aprilia é conhecida pelos fantásticos quadros e ciclísticas e a moto realmente é um conjunto muito forte… penso que com as ferramentas certas e com tempo em pista, é uma moto vencedora, já ganhou vários  Campeonatos de Superstock, por isso é uma questão de trabalharmos… na nossa equipa, consegui também acompanhar o desenvolvimento desta moto e temos armas para ter o título para o ano… A rigidez do chassis… apesar do desgaste dos pneus ser um bocado prematuro, eu gosto de sentir essa rigidez, gosto de conduzir a moto e fazer a gestão dos pneus conforme…mas o “handling”, a entrada em curva, a saída de curva, a tração do V4 com este braço oscilante, é todo um conjunto e em conjunto com a eletrónica é muito eficiente, é já de um nível mundial. A própria APX2 de gestão do motor encontra-se na moto de SBK ou MotoGP da Aprilia, por isso isto já é uma base muito forte e com muito para explorar.

Como piloto, gosto de travar forte, gosto de sensações fortes, mas cada vez mais o segredo de ser rápido em pista é a velocidade em curva, e pronto, controlar o desgaste dos pneus. Neste momento tive de alterar o meu estilo de condução para velocidade em curva… O V4, sendo mais estreito, tem um handling brutal… A moto original, curva tanto que em circuito as carenagens batem no chão, é fantástica.

Depois, foi melhorar alguns pormenores, as suspensões, pôr tudo a meu gosto, e pôr um sistema de travagem eficiente durante a corrida toda, que era no que eu sentia alguma dificuldade, não só nesta, mas em todas as motos, porque os sistemas de travagem não vêm com a mesma qualidade de antigamente e eu também sou mais pesado, tenho uma estatura maior…

O escape é o aconselhado pela Aprilia e neste caso temos o apoio da Akrapovic, é o escape desenvolvido para a marca, e temos uma centralina APX2 que faz a gestão da moto toda. Estamos a trabalhar com a Öhlins Adreani nas suspensões, neste caso como têm muita informação de pilotos que já trabalharam com a Aprilia, mandam-nos os dados e o Francisco que tem o material todo da Öhlins, é um agente em Portugal, monta tudo…  e temos ao dispor as novas suspensões.

Neste momento, o sistema de telemetria é tão evoluído que dá para dividir o circuito em 25 partes e afinar parte a parte, ou seja, curva a curva, controlo de tração, travão motor, potência da moto, é uma base já de Mundial de SBK, só é preciso ter os técnicos para trabalhar a este nível… Depois, temos o apoio dos Salgados, das Chaves do Areeiro, da Galfer e da ENI, que tem sido fundamental.

“Os portugueses têm um historial de chegar a Macau e dar o nosso melhor”

No geral, na minha carreira, tenho tido azares, há uns anos no GP de Macau tínhamos sido os mais rápidos nas 600, tínhamos tudo para lutar pela vitória, numa corrida oficial do GP de Macau, não numa corrida de apoio, e tínhamos tudo para ganhar mas infelizmente um curto-circuito deitou tudo a perder…mas antes isso que ir com uma lesão grave! Eu cheguei a ir ao GP de Macau com o intuito de fazer algumas corridas de Road Racing, mas deparei-me com uma realidade diferente, as motos são dum nível acima do Mundial de Superbike, e para ir sem  nas mesmas condições, já vou ter de arriscar muito mais…

Os portugueses têm esse historial de chegar a Macau e dar o nosso melhor, como o Luís Carreira demonstrou com uma moto muito menos competitiva que a concorrência e chegou a fazer um pódio, tanto o Reigoto como eu ou o André sempre rolámos rápido em Macau, e de certeza que nos íamos dar bem na Ilha de Man, mas com certeza também precisávamos das ferramentas para andar perto dos limites tanto tempo e pôr-nos em perigo de vida tantas vezes…

Costumo dizer que todos os anos há um piloto que se destaca, pronto, ultimamente tenho sido eu com mais títulos, mas tanto o Reigoto como o André, como o Ivo, têm vindo a sempre a subir o nível, o Reigoto foi Campeão num ano, agora tivemos o Ivo a entrar muito forte, e a ter bons resultados e elevar o nível e espero que para o ano estejamos todos de novo nesta luta pelo título… com mais provas. Para o ano estamos a tentar com a Federação ter duas corridas por fim-de-semana, para aumentar a hipótese de vitórias e ter um Campeonato com mais justiça.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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