Ensaio Pista Aprilia RSV Team Aprilia Portugal ENI

Por a 19 Dezembro 2018 15:00

Confesso que não estava psicologicamente preparado para o que ia encontrar em pista com a RSV do Tiago Magalhães. A combinação de um chassis refinadíssimo mas muito rígido com um motor aparentemente sem fim na forma como entrega potência e sobe de rotação era quase desconcertante depois das referências do teste anterior, efetuado minutos antes, com a Kawasaki Z900 da Copa. Sítios onde na Kawasaki estava em quinta, a Aprilia negociava em segunda, com a noção nítida de que ia mais rápido na italiana que na japonesa… e de que faltavam aí 6.000 rotações para andar nos regimes que, segundo a equipa, eram os normais: “Rotações? É até aonde ela der!”.

Tudo tinha começado com o convite inesperado do Tiago Magalhães, da Aprilia Portugal ENI, na sequência da entrevista aos protagonistas principais do nosso Nacional de Superbike, efetuada num glorioso Sábado de sol no Autódromo, aproveitando o último track day do ano. Ir a casa buscar o equipamento e passar uma perna sobre a estreita RSV foi tudo num ápice, depois é que foram elas… Saí para a pista sem perceber bem se tinha deixado o controlo de pit lane ligado, de tal modo a moto falhava e rugia numa cacofonia de V4 amplificada pela panela Akrapovic de competição, feita especialmente pela marca eslovena para a RSV. Depois percebi que estava a exigir demais do V4, ou seja, de menos, a tentar que saísse cerca das 2500 rpm, e tratei de me fazer à estrada.

Na primeira passagem pela reta interior, noto logo que a proteção aerodinâmica é exígua: Apesar de me encolher atrás do que passa por ser as laterais da carenagem , que mal protruem das vigas do quadro de cada lado, a deslocação de ar tenta arrancar-me os joelhos e tenho mesmo de fazer um esforço consciente para me chegar todo para dentro, cotovelos, joelhos, botas, tudo.

Como fará o Tiago, que por estes dias é maior e mais pesado do que eu? Ele diz que é preciso apertar-se mesmo no habitáculo e encolher-se todo. Pelo menos, o vidro é alto e dá proteção real ao capacete, aliás passou a ser uma constante ir na reta da meta com a queixeira a bater no topo no depósito á medida que a moto encontrava alguns solavancos presentes na pista do Estoril, e que a 260 Km/h parecem saltos de motocross…

A travagem ao fim da reta tornou-se progressivamente mais atrevida, progredindo de patética para só muito tímida, a tal modo que nas duas primeiras vezes tinha de voltar a acelerar para a curva 1! “Não habia nexexidade”, a compostura da ciclística é total, nada que eu pudesse fazer às velocidades timoratas a que estava pilotar podia sequer perturbar a compostura da moto, nem o agarre excecional dos slicks Dunlop… começo a antecipar com excitação o subir de regime acompanhado pelo roncar do V4, se bem que nunca me tivesse atrevido a levá-lo para os extremos estratosféricos a que se chega em utilização em corrida…

Esta moto tem uma forma particular de se pilotar, em termos de explorar o motor, não é tão intuitiva de pilotar como uma tetracilíndrica em linha japonesa, embora em aceleração o “shifter” torne a passagem pela reta numa corrida louca. Em redução no final das retas a embraiagem contra-deslizante e demais controlos eletrónicos não deixam a traseira atar-se em nós, por isso tudo fica imperturbável também… Menos a minha sensação de que devia/podia ter entrado mais rápido, mais solto, mais tarde…  Nos esses, deixo a rotação cair para regimes ridículos para não ir à primeira, e a saída a essas rotações é patética, até uma Supersport 300 bem conduzida passa por mim nessa zona… só para ser de novo engolida pelo poder do V4 à saída da parabólica!

É claro que o Tiago usa a moto de outra maneira…

Acabo por perceber aonde está o Ricardo Silver à espera, para registar em foto as minhas tentativas de brincar aos pilotos e acabo também por dar mais voltas do que inicialmente planeado, mas na boxe da Aprilia ENI está tudo “cool”. Obviamente depois do tratamento dado pelo Tiago a cada saída com a RSV4, nada que eu possa fazer à moto, a menos que a enfiasse na gravilha de pernas para o ar, iria preocupá-los!

Regresso meio assustado, mas cheio de adrenalina e com pena de não ter tido uma aproximação mais sistemática a este ensaio, para explorar pelo menos minimamente as aparentemente infinitas capacidades de curvar e acelerar da grande Aprilia… ah, bem, há sempre uma próxima vez!

 

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