TT, Opinião: A caminhar para o fim de uma Era
Nas primeiras duas décadas do novo milénio, Portugal consolidou o seu estatuto como uma das principais nações no que diz ao respeito aos ralis raids. Resultado de muitas variantes como a grande competitividade do nosso Campeonato Nacional de Todo-o-Terreno, reconhecida pelo lendário Stéphane Peterhansel, e igualmente pela partida do Rali Dakar do nosso país, algo que levou os pilotos do nosso país a olharem ainda com mais atenção para o ‘mais do que tudo’ do todo-o-terreno mundial.
As gerações mais novas foram educadas a cada início de ano civil a ver os três porta-estandarte Paulo Gonçalves, Hélder Rodrigues e Rúben Faria (representados na fotografia que ilustra este artigo) a lutarem pelo triunfo no Dakar e a representar as principais equipas em competição, como são o caso da KTM, Honda ou Husqvarna. Mas os sucessos, ainda que sempre sem a vitória final, não ficaram por aqui, pois Hélder Rodrigues e Paulo Gonçalves sagraram-se em 2011 e 2013, respetivamente, campeões do mundo de cross country e ralis FIM. Foram pioneiros.
Porém nada é eterno e a erosão do tempo atinge tudo e todos. Com tal no início da segunda metade desta década tudo começou a ser diferente. Rubén Faria e Hélder Rodrigues saíram de cena e ontem fomos brindados com a notícia de que Paulo Gonçalves trocou a Honda pela indiana Hero MotoSports. Sinal claro de que estamos a entrar no final de um ciclo glorioso do nosso todo-o-terreno onde lutar pela vitória no Dakar tornou-se tão habitual como escovar os dentes todos os dias, recorrendo a uma metáfora dita em tempos por Jesualdo Ferreira quando treinava o Futebol Clube do Porto.
Não que nas corridas tudo não seja possível, e ainda para mais com o aguerrido ‘Speedy’ na equação, mas a chegada à Hero fez o nortenho entrar numa outra fase da sua carreira, agora que tem 40 anos. É verdade que continua numa equipa oficial, o que só demonstra o bem cotado que está no meio, mas não naquelas formações que estão na pole position para vencer o Dakar, o objetivo que continua a faltar ao nosso todo-o-terreno.
Como tal este parece ser, no nosso entender, a buzina de chamamento para a nova geração dar um passo em frente e começar a ser paulatinamente a referência do nosso todo-o-terreno nas grandes maratonas internacionais. Nomes como Joaquim Rodrigues, António Maio, Sebastian Bühler e outros que estão à bica têm a responsabilidade de preservar e estender este legado de luxo. Falamos de pilotos que começam a ter cada vez mais experiência neste tipo de eventos e consequentemente a ficarem em ‘ponto de rebuçado’ para voos mais altos.
As sementes foram lançadas quando muitos julgavam ser quase impossível e os professores são de luxo, pelo que estão reunidas as condições para continuarmos a aguardar com ansiedade cada arranque de um novo ano civil. Seja em África, América do Sul ou agora nas Arábias…