Dakar – Paulo Gonçalves: “O objetivo é levar a Honda à vitória”
Num ano crucial para o projecto da Honda nas maratonas internacionais, Paulo Gonçalves é novamente um dos ‘pontas de lança’ da insígnia nipónica, que tenta colocar um ponto final num longo jejum de 27 anos sem triunfos no Dakar
Paulo estamos a menos de um mês do início do Dakar. Qual é o estado de espírito?
O estado de espírito é muito bom. Estamos cada vez mais perto do início de mais uma edição do Dakar. Para 2017 o Dakar avizinha-se bastante difícil, pois durante praticamente meia prova vamos enfrentar altitudes muito elevadas. Será certamente muito difícil para a maioria dos pilotos.
Em termos técnicos está a colocar uma navegação mais exigente ao nível dos waypoints e por isso será preciso estar muito atento e cometer o menor número de erros possíveis. Penso que isso será determinante. Penso que a corrida vai regressar um pouco às edições mais antigas do Dakar, onde a navegação desempenhava um papel mais importante em detrimento da velocidade.
Tenho tentado fazer um bom trabalho e uma boa preparação para o Dakar. Toda a equipa está muito coesa e a trabalhar em prol do objetivo de lutar pela vitória.
Como é que vai ser a equipa e a estratégia a adotar para este Dakar?
Entro num grupo de quatro pilotos, que perfaz um total de cinco e tem como objetivo levar a Honda à vitória final. Vamos tentar estar o mais próximo possível desse objetivo de forma a que um de nós consiga esse mesmo objetivo. Em 2015 falhei por muito pouco a vitória, tendo ficado na segunda posição e relativamente próximo do primeiro posto. O ano passado liderei durante a primeira semana, mas depois as coisas correram muito mal na semana seguinte e acabei por abandonar. Este ano esperamos que finalmente a Honda chegue ao triunfo.
Já falaste da navegação bem como das elevadas altitudes que irão enfrentar na prova. Seguramente já viste com muita atenção o mapa da corrida. Além da altitude existe alguma zona do percurso onde sintas que vais ter dificuldades?
Julgo que a passagem pela Bolívia será muito difícil porque vamos ter altitude e etapas muito técnicas do ponto de vista de navegação. Para além destes dados adquiridos temos ainda o risco da chuva aparecer, o que trará mais uma dificuldade acrescida porque o piso ficará muito difícil.
Depois são também esperados problemas na Argentina, onde as etapas são muito longos e as temperaturas rondam os 40º e 45º graus. Porém é difícil dizer numa prova como o Dakar que será num determinado local que tudo ficará decido. Às vezes não demos grande importância a uma parte de uma determinada especial e as coisas acabam por complicar-se. O melhor é dar a mesma importância a todos os quilómetros das especiais. Pela informação que têm chegado este será um Dakar marcante para todos os pilotos que irão chegar ao final.
Quando se pensava que Portugal ia ficar reduzido aos veteranos que participam na prova de repente temos aqui 10 pilotos portugueses à partida do Dakar e todos eles com ambições, pois ninguém vem a esta prova para passear. Como é que vês esta renovação da frota portuguesa no Dakar?
Vejo com agrado esta situação. É um grupo de jovens pilotos e com muito talento que está a tentar dar os primeiros passos no Dakar. Em boa hora o fazem. Faz-me lembrar a fase em que o Dakar saiu de Lisboa, que foi o momento em que esta aventura começou para mim. Viveu-se também um período onde estavam sempre 11 ou 12 pilotos à partida. Espero que estes pilotos possam dar continuidade ao percurso dos portugueses na última década no Dakar. Temos marcado de forma bastante positiva as nossas posições.
Não tens sido um participante assíduo nas provas nacionais. No entanto estiveste presente nas provas do novo Troféu Nacional de Navegação TT. São importantes estes eventos?
Eu acho que são importantes para a modalidade e o motociclismo. O Luís Lourenço tem feito um trabalho fantástico ao ter tido esta iniciativa há dois anos. Tento sempre que possa estar presente para tentar divulgar e promover este tipo de corridas, que tem tido uma boa aceitação. O número de participantes tem crescido. Para nós é positivo porque fazemos alguns quilómetros com roadbook. Porém não é mesma navegação que fazemos nos rali raids, sendo esta mais semelhante à da prova do Mundial, que se realiza na Sardenha. Acho que esta ideia já devia ter sido introduzida há uma década no nosso panorama do motociclismo e não há um ano. Parabéns à R3 pelo trabalho que tem desenvolvido.
Entrevista realizada por Pedro Barreiros (Adois Comunicação)