Dakar, Etapa 5: A lição do aluno e o desaire do mestre
Hoje, foi um dia sem precedentes no Dakar. Na América Latina, já havia etapas específicas para motos diferentes dos carros, mas hoje, pela primeira vez, toda a etapa foi diferente para as categorias FIA e FIM. Assim, tomaram caminhos diferentes num circulo ao redor da capital Riade. Os carros partiram para conquistar a especial do dia, assim como as motos. Nestas últimas, Danilo Petrucci e Joan Barreda Bort, estiveram entre o melhor e o pior!
No que respeita às motos o estreante Danilo Petrucci adquiriu hoje um novo estatuto, e merece todo o respeito dos seus companheiros das duas rodas. Estrela dos circuitos de MotoGP, o piloto italiano da KTM está inscrito na sub-categoria de Rally 2 para entrar em contato com o mundo dos rali-raides. O italiano que veio para aprender, venceu hoje os mais experientes pilotos da disciplina no seu sexto dia de competição. É, o que poderemos chamar, um aluno superdotado, embora não tenha tido que garantir a navegação para vencer a especial e tenha beneficiado da penalidade imposta a Toby Price – o mais rápido no piso de areia e pedras desta quinta etapa. O terreno difícil da 5ª etapa também não ‘incomodou’ o trio Sunderland-Walkner-Van Beveren, que continua a liderar a classificação geral, embora novos candidatos tenham surgido….
Mas houve também o lado negro. Ainda há dúvidas sobre a participação amanhã de Joan Barreda, e a equipa da Husqvarna aludiu claramente à possibilidade da desistência de Skyler Howes. O Dakar é fértil nisto: Surpresas!
O desempenho do dia, “Petrux” pois claro!
Aos 31 anos, Danilo Petrucci participa do seu primeiro Dakar, e aprende a trezentos por hora. Nada que surpreenda por outro lado num jovem ‘reformado’ dos circuitos de MotoGP, aos quais dedicou dez anos da sua vida. Autor de dez pódios e duas vitórias na categoria rainha, o italiano estava prestes a abrir a sua pontuação no rali de ontem. Anunciado como 3º na quarta etapa, o italiano recebeu uma penalidade de 10 minutos no bivouac… por excesso de velocidade. A última gota! Depois do cascalho na beira da pista, o piloto da Tech 3 KTM quase provou o sabor da areia da Arábia Saudita hoje… ao se esquivar de um dromedário!
“Quase sofri a minha primeira queda num rali-raide. Depois do susto, diminuí a velocidade e o Kevin Benavides alcançou-me e seguimos juntos até ao final”, esclareceu. O ‘estagiário’ da equipa KTM foi capaz de acompanhar o último vencedor do Dakar e, após apenas cinco dias de competição, estabeleceu o 2º melhor tempo. Ironias do destino, foi hoje ele quem, por sua vez beneficiou do excesso de velocidade na chegada a Riade… do bicampeão do Dakar! Pelos vistos, experiência não é tudo!
Especificamente, o seu companheiro de equipa Toby Price, após assinar o melhor tempo do dia, recebeu uma penalidade de 6 minutos! Nunca antes vimos um piloto de MotoGP tornar-se um piloto oficial do Dakar da noite para o dia. E tudo indica que Petrucci continuará a desafiar a lógica do “estreante” daqui até Jeddah, e também no próximo ano. Passando para outro hemisfério, o das pistas de velocidade, conclui-se que a migração do MotoGP para o Dakar pode dar bons resultados e, se isto se torna moda, parece-nos que vai ser um caso sério para os pilotos de raides aguentarem os meninos que estão habituados a andar a 300 km/h nas pistas de todo o mundo. A não ser que Petrux, seja mesmo o Superman dos comics de outros tempos.
O acidente de Barreda que lança as dúvidas sobre amanhã
Quando Joan Barreda está atrás de outro piloto, é difícil não ceder sob a sua pressão. Mas o espanhol hoje encontrou-se na posição oposta, do perseguido, com a ingrata tarefa de abrir a pista para os rivais. Depois de vencer a especial de ontem, o piloto com 29 vitórias de etapas (pelo menos uma por ano desde 2012) teve as honras (mas não o privilégio) de abrir os trilhos esta madrugada. A partir do primeiro ponto intermédio, o “Bang Bang” cedeu mais de dois minutos, perca que foi se acentuando à medida que a corrida avançou até ao seu acidente entre os km 265 e 270. Barreda bateu com os ossos no chão, e machucou a sério o ombro. Foi o seu companheiro de equipe Pablo Quintanilla quem o ajudou a levantar-se, subir para a sua Honda e completar a especial.
A manobra levou mais de 20 minutos e as suas hipóteses de chegar ao pódio pela primeira vez no Dakar, parecem cada vez menores. Relegado para 22m58s atrás de Sam Sunderland, mas Barreda é Barreda e só a sua desistência nos pode impedir de assistirmos a um dos seus habituais “comeback”, cujo segredo só ele conhece… O piloto e a equipa médica da equipa, preferiram esperar até amanhã para saber se Barreda continua ou não com a aventura. No entanto, o valenciano está habituado a cerrar os dentes e a aguentar todos os desafios: melhorar a 5ª posição conquistada em 2017 é o objetivo. Mas oxalá que sim… porque o Barreda faz falta!
“Encontrámos uma tempestade de areia e foi difícil encontrar os pontos de referência no roadbook, estávamos quase cegos. Mesmo assim, conseguimos chegar ao ponto de reabastecimento sem perder muito tempo. Após o reabastecimento, cerca de 250 km, entrámos num rio e penso que bati com a minha roda traseira numa pedra e caí com força, atingindo o meu ombro esquerdo, na zona da clavícula. O meu colega de equipa Pablo Quintanilla ajudou-me a recuperar e a seguir em frente. Foi muito difícil chegar ao fim, especialmente nas dunas, mas consegui terminar a especial”. Disse hoje o piloto da Honda.
É esta determinação de Joan Barreda, esta resiliência, este espírito de sacrifício em superar as maiores barreiras, que faz parte da génese do Rally Dakar desde o primeiro momento, a prova criada por Thierry Sabine, também ele um aventureiro de alma e coração.
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