Aos 37 anos e a cumprir a 21ª época no Campeonato do Mundo de Motociclismo, Valentino Rossi sabe como ninguém que as corridas e os campeonatos não se ganham só em pista. O italiano continua a usar de forma perfeita todo o poder que está inerente ao estatuto de estrela maior do motociclismo mundial, o único verdadeiro ícone das duas rodas ainda em actividade e um dos maiores da história do desporto motorizado.
Rossi sabe, também, que não é em rapidez pura que vai conseguir bater talentos mais jovens como Jorge Lorenzo ou Marc Márquez. Por isso, Il Dottore soube utilizar de forma perfeita a telenovela sobre o futuro de Lorenzo em seu proveito. Ao aceitar de imediato a proposta de renovação da Yamaha por mais duas épocas e ao afirmar que Lorenzo teria de ter ‘tomates’ para deixar a equipa com que foi tricampeão do Mundo e ir para a Ducati, Rossi colocou o maiorquino numa posição delicada. A Lorenzo só restavam duas opções: Ignorar a provocação do seu companheiro de equipa e manter-se na Yamaha sabendo que a marca japonesa ignorou o seu pedido para não anunciar a renovação de Rossi no Qatar? Ou dar um salto no desconhecido e confiar no potencial da balística Desmosedici (e nos milhões do Grupo Audi/VW)?
Tentar o que Rossi não conseguiu
Lorenzo optou pela via mais corajosa, deixando o ‘conforto’ de uma equipa e uma moto que conhece como as palmas das mãos para tentar juntar-se ao lote de eleitos que foram campeões com duas marcas diferentes. E, pelo meio, tentar vencer onde Rossi fracassou…
Só que o timing do anúncio da saída da Yamaha, quando ainda nem sequer chegámos à quarta das 18 provas da temporada, também coloca Lorenzo sob enorme pressão. O espanhol sabe que terá de ser muito superior a Rossi no que resta da época para que a marca japonesa continue a dar-lhe uma M1 idêntica à do italiano. E mesmo que não se notem diferenças em termos de material, é perfeitamente normal que o tratamento de Lin Jarvis e companhia para com Lorenzo não seja exatamente igual, principalmente se Rossi ainda estiver em posição de lutar pelo título na fase decisiva.
Em suma, Lorenzo embolsa 25 milhões de euros e tem a hipótese de calar definitivamente os seus críticos e entrar para a História. Rossi assegura mais um contrato de dois anos com a equipa mais competitiva a que realisticamente poderia aspirar e ainda se ‘livra’ do seu arqui-rival. E Márquez, a caminho da renovação com a todo-poderosa Honda, assiste de primeira fila à telenovela que se desenrola nas boxes e motorhomes da Yamaha. Quem ri por último?