Nas páginas do MotoSport tem surgido regularmente um anúncio da Yamaha com um piloto sem capacete em cima da R1 de estrada. O piloto? Adivinhou: Valentino Rossi. Não o campeão do Mundo em título do MotoGP e o homem que deu à marca japonesa os seus últimos três títulos na classe-rainha (Jorge Lorenzo). Não o piloto que, desde o último campeonato ganho por Rossi em 2009, já venceu mais 27 Grandes Prémios do que o italiano (36 para Lorenzo, 9 para Rossi desde 2010).
É quase um cliché dizer que Il Dottore é o maior ícone do motociclismo contemporâneo – e o maior fenómeno de popularidade desde Kevin Schwantz – mas essa realidade ganhou outra expressão quando a Yamaha anunciou a renovação de contrato com Rossi antes de saber a decisão de Lorenzo. Ou seja, ambos tinham propostas de renovação nas mãos mas Rossi aceitou a sua antes do espanhol e a Yamaha não hesitou em revelar o acordo ainda durante o GP do Qatar… apesar do manager de Lorenzo ter pedido para protelarem esse anúncio público.
Manobra de mestre
Isso deixou Lorenzo numa posição particularmente difícil, principalmente depois do perspicaz desafio de Rossi para que o seu rival tenha a coragem de aceitar a proposta – não assumida mas real – da Ducati, naquela que seria uma jogada de alto risco para o maiorquino, que tem na M1 a moto mais equilibrada do plantel. A marca italiana, por outro lado, pode ter o pragmatismo técnico de Gigi Dall’Igna e os milhões do Grupo Audi/VW mas já não ganha um Grande Prémio desde 2010 (Casey Stoner). Tradução: Lorenzo teria de trocar o certo pelo incerto.
Mas a reacção de revolta do número 99 após vencer o GP do Qatar – segundo o próprio, uma das melhores corridas da sua carreira – deve-se sobretudo ao facto de a Yamaha ter priorizado o poderio de marketing de Rossi em vez das evidências desportivas dos últimos anos. Em pista, Lorenzo é neste momento um piloto mais forte do que Rossi – provavelmente mais forte do que qualquer outro piloto do mundo – mas mesmo assim não consegue ultrapassar a enorme importância estratégica que o italiano assume para qualquer marca. Respondendo à pergunta inicial: aos 37 anos, Rossi (ainda) vende motos como ninguém. E muitos capacetes, t-shirts, bonés, relógios, latas de bebidas energéticas.