Ensaio: BMW R Nine T Scrambler 2016 + VÍDEO
Ensaio realizado e escrito por Pedro Rocha dos Santos
A primeira impressão é de grande impacto estético, a de um objecto de prazer, de design apurado e revivalista, uma peça de nostalgia que desperta sentimentos de desejo, e que apetece, se a dimensão do nosso salão permitir, levá-la para o único bibelot aí presente. Sem dúvida um design bem conseguido, apelativo que atrai o olhar de quem passa, uma simbiose perfeita entre um look anos 50/60, quando víamos o Steve McQueen saltar vedações em filmes de guerra ( the Great Escape ), recheado de pormenores tecnológicos neo-clássicos, num conceito quase minimalista, de elentos de design que rodeiam o volumoso motor boxer da BMW, mas num equilíbrio bem conseguido, de uma qualidade irrepreensível e que a fazem destacar das restantes dentro do conceito Scrambler. Sem dúvida “the coolest motorcyce in town”.
Elementos como o banco slim e ergonómico, acompanhando as linhas do chassis e em pele sintética castanha, elemento fundamental nas preparações scrambler do momento, a suspensão tradicional com foles, o farol redondo com um pormenor único, o facto de ter a sigla BMW no centro do seu interior, uns escapes duplos assinados pela Akrapovic e perfeitamente integrados, e um guiador a uma altura que permite uma condução confortável e numa posição sentada natural, complementam o look desta fantástica Scrambler.
Test Drive
A posição de pilotagem é confortável, quase natural, ligeiramente puxada à frente, alta e a fazer a lembrar as antigas BMWs do Paris-Dakar, sendo que a carga nos braços não é demasiada e permite-nos conseguir uma posição mais agachada quando elevamos a nossa velocidade acima dos 120 kms/h. Quando a decidimos arrancar temos uma nova e agradável surpresa… o roncar do 2 cilindros boxer ao som das 2 ponteiras, scrambler style, desenvolvidas pela Akrapovic, assinalam a personalidade da moto, sem ser demasiado incomodativo, mesmo a alta rotação, e dentro das normas EU4, o roncar da NineT Scrambler quase nos transporta para as grandes pistas Saharianas e faz-nos esquecer qualquer outro ruído urbano que exista, envolvendo-nos totalmente no prazer de condução da Scrambler da BMW num estilo próximo aos dos filmes o personagem Mad Max.
A moto responde imediatamente desde baixas rotações, graças a um motor cheio de torque, o que torna a condução suave em regime de passeio, subindo de regime com grande facilidade ao rodar de punho de acelerador, facilitando ultrapassagens e situações que exijam resposta imediata.
A colocação em curva é feita sem grande esforço, pese embora a roda maior de 19”, contra a de 17” da R NineT normal, e graças a um centro de gravidade baixo e a uma boa distribuição de massas. A travagem está ao nível da restante qualidade da moto e é assegurada por uns excelentes travões Brembo com 2 discos de 320mm na frente de 4 pistons e um disco de 265 mm na traseira de apenas 2 pistons. O ABS está incluído de origem .
https://vimeo.com/185706551
Em relação à suspensão colocamos algumas reservas. Se em bons pisos se comporta de forma muito aceitável, já o enfrentar irregularidades não está infelizmente de acordo com o conceito nem com o cariz e designação “scrambler” da moto. A suspensão dianteira não tem qualquer tipo de afinação e acusa de forma seca e por vezes brutal as irregularidades da estrada. Vale a ajuda do amortecedor de direcção que evita males maiores. Cuidado pois em percursos secundários onde possíveis buracos ou raízes que deformem o alcatrão possam causar-vos surpresas que possam ter um desfecho inesperado e desagradável.
O amortecedor traseiro Paralever tem regulação de carga de mola e de hidráulico mas está um pouco aquém do que se esperava numa Scrambler, a não permitir abusos em termos da circulação fora de estrada ou estradas em mau estado e a obrigar a um cuidado redobrado e a muitas vezes levantarmo-nos do banco para poupar a nossa coluna.
De resto a Scrambler desenvolve-se bem em circuito urbano e no trânsito, atraindo olhares à sua passagem, quer pelo roncar grave e cheio dos seus escapes, quer pelo design singular e muito apelativo que exibe.
O Motor
O motor é um Boxer com 1.170 cc, com cerca de 110 cv, arrefecido a ar e óleo, ao contrário dos mais recentes boxers das GSs que são de arrefecimento líquido, algo mais ruidoso por isso, o que não choca numa moto ao estilo “Scrambler” mas cheio de pujança graças a um torque máximo de 65,6 lb/ft às 6.000 rpms. O nível mais alto de vibrações que provoca, comparativamente aos boxers arrefecidos por água, reforçam o seu carácter e estão dentro dos limites aceitaveis em percursos não muito longos. A vibração penaliza por vezes a visibilidade nos espelhos retrovisores, sem ser dramático.
Uma caixa de 6 velocidades muito bem escalonada e suave, permitem uma passagem de velocidade sempre segura e sem ruídos. A transmissão por veio não agrada a todos mas é uma característica das boxers e embora não permita afinação a mesma torna-se também quase desnecessária.
Adaptação
A BMW R Nine T Scrambler é uma moto fácil de conduzir, que não acusa o peso nem a sua dimensão, fácil de colocar em curva e a pedir percursos sinuosos, embora os pneus que montava a versão que testámos, uns fantásticos Metzeler Karoo 3”, nas medidas recomendadas por fábrica, estarem mais indicados para utilização de Enduro on/off e de todo o terreno, e por isso a obrigarem a um ajuste e a um “desconto” no comportamento e na condução da moto em estrada.
Aconselhamos evitar estradas muito degradas onde é necessário, como já referimos, conduzir com mais cuidado. Pela nossa parte e sobretudo para quem gosta de sentir a reação natural de uma moto e ter absoluto controle sobre a mesma , desejaríamos que fosse possível desligar o ABS, sobretudo à roda traseira, pois fora de estrada o derrapar da roda por acionamento do travão é fundamental para a colocar melhor nas trajectórias em curva, numa condução mais agressiva em todo o terreno. Mas digamos que apenas alguns sentirão a falta desta impossibilidade electrónica.
Assinalamos um espaço reduzido para o pendura, mesmo na versão que inclui banco de 2 lugares que testámos, que sem pegas para se segurar, torna algo incómoda a sua experiência, sobretudo nos buracos que na estrada, inadvertidamente, não conseguimos evitar.
Qualidade
A qualidade é irrepreensível, o made in Germany by BMW está patente em todos os pormenores mecânicos e estéticos da Scrambler. Excelente qualidade de todos elementos e acabamentos a condizer. A moto está concebida de forma simplista e sem grandes sofisticações electrónicas, a fazer reviver as scramblers do passado, que marcaram toda uma época de início ao todo terreno, quando se adaptavam motos de estrada para utilização off-road.
Equipamento e Opções
Para além de estarem disponíveis variados acessórios da marca, tais como tanques de combustível, bagageiras e até um poderoso escape ainda mais sonoro e performante da Akrapovic, é sabido, e a filosofia de construção da R NineT já tem em linha de conta essa realidade, que inúmeros fabricantes de peças para personalização deste tipo de motos, muito em voga dentro do actual conceito hipster urbano, que veio dar uma nova dinâmica de moda às 2 rodas, irão propor todo o tipo de soluções e alterações para explorar todo o potencial de base que oferece a Scrambler da BMW.
Na versão que testámos e como opção já incluída destacamos as jantes de raios, os pneus Metzeler Karoo 3” de todo terreno, a dar um look mais agressivo à moto e um belíssimo banco de 2 lugares. O manómetro é analógico e inclui toda a informação necessária ao toque de um botão de comando no punho esquerdo. Os piscas minimalistas integram-se perfeitamente na filosofia da moto e no seu conceito de simplicidade. Um botão no punho direito permite acionar o aquecimento dos punhos, realidade que nos demos conta quando de repente no meio do transito as mãos começaram a sentir um calor algo anormal. Um elemento que aconselhamos desde já é um saco de depósito no sentido de facilitar a deslocação com items pessoais e evitar colocação de uma caixa de bagagem atrás, realidade que nesta moto iria tornar-se quase um atentado à moral e ao altíssimo sentido estético conseguido nesta moto.
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Ficha Técnica(* )
Motor | |
Tipo | Motor Boxer bicilíndrico a 4 tempos refrigerado por ar/óleo, duas árvores de cames e quatro válvulas radiais por cilindro, veio de equilibro central |
Diâmetro x curso | 101 mm x 73 mm |
Cilindrada | 1.170 cc |
Potência máx. | 110 cv (81 kW) às 7.750 rpm |
Binário max. | 116 Nm às 6,000 rpm |
Taxa de compressão | 12.0 : 1 |
Gestão do motor | Injeção eletrónica |
Controlo da emissão de gases | Conversor catalítico de 3 vias, compatível com a norma de emissões EU4 |
Prestações / Consumo | |
Velocidade máxima | mais de 200 km/h |
Consumo por cada 100 km a uma velocidade constante de 90 km/h | 4,5 l |
Consumo por cada 100 km a uma velocidade constante de 120 km/h | 5,9 l |
Combustível | Gasolina sem chumbo de 95-98 octanas RON (potência máx. obtida com combustível de 98 octanas RON) |
Sistema elétrico | |
Alternador | Trifásico de 720 W |
Bateria | 12 V / 14 Ah, sem manutenção |
Transmissão |
|
Embraiagem | Embraiagem a seco de disco simples, de acionamento hidráulico |
Caixa de velocidades | Seis velocidades com veio de sincronização |
Transmissão secundária | Cardan |
Ciclística / travões |
|
Quadro | Quadro de três secções, composto por uma secção dianteira e duas secções traseiras, unidade motor-caixa de velocidades autoportante, secção de quadro do passageiro removível para condução a solo |
Suspensão dianteira | Forquilha telescópica com diâmetro fixo de 43 mm |
Suspensão traseira | Monobraço em alumínio fundido com Paralever BMW Motorrad; amortecedor central, regulação contínua da pré-carga da mola com chave de gancho; regulação da expansão da mola |
Curso da suspensão dianteira / traseira | 125 mm / 140 mm |
Distância entre eixos | 1.522 mm |
Avanço | 116,1 mm |
Ângulo da coluna de direção | 61° |
Jantes | Alumínio fundido |
Jante dianteira | 3,00 x 19″ |
Jante traseira | 4,50 x 17″ |
Pneu dianteiro | 120/70 R 19 |
Pneu traseiro | 170/60 R 17 |
Travão dianteiro | Dois discos flutuantes, diâmetro de 320 mm, pinça de quatro êmbolos |
Travão traseiro | Disco simples, diâmetro de 265 mm, pinça flutuante de êmbolo duplo |
ABS | BMW Motorrad ABS |
Dimensões / pesos |
|
Comprimento | 2.175 mm |
Largura (com espelhos) | 880 mm |
Altura (sem espelhos) | 1.330 mm |
Altura do banco, peso sem carga | 820 mm |
Arco interior das pernas, peso sem carga | 1.830 mm |
Peso sem carga, com meios de funcionamento, depósito cheio 1) | 220 kg |
Peso a seco | 430 kg |
Peso total permitido | 210 kg |
Capacidade do depósito | 17 l |
Reserva
Preço |
aprox. 3,5 l
14.211,00- € |
(*) informação do representante |
Mais informações AQUI
Concorrência
Relativamente à concorrência mais directa da BMW R NineT Scrambler, atendendo ao seu conceito e posicionamento, apenas podemos considerar 2 modelos actualmente existentes no nosso mercado. Primeiro a Triumph, que há muito incluíu a versão Scrambler na sua gama de motos clássicas e depois a Ducati que reconhecendo todo o potencial deste segmento apostou recentemente numa oferta especialmente dirigida ao target hipster urbano, criando uma marca própria e um posicionamento diferenciado da gama normal da Ducati. A marca “Scrambler Ducati” com um modelo base a partir do qual se faz derivar o produto final para cobrir os mais diversos conceitos em voga, Scrambler, Café Racer, Urban Enduro, Tracker… partindo do mesmo quadro e motor e adaptando diferentes acessórios e disponibilizando um catálogo com inúmeras possibilidades de personalização.
Tanto a Triumph como a Ducati montam motores menos potentes que a BMW, ambos na casa dos 800 cc, com 57 cv para a Triumph e 75 cv para a Ducati, sendo que esta última propõe também uma versão de 400 cc com apenas 41 cv de potência, ou seja, muito longe dos 110 cv da BMW Scrambler.
Se considerarmos que ambas rondam os 10.500 eur dependendo das versões e das opções que montem, os 14.200 eur da BMW justificam plenamente a diferença de motorização.
Ensaio realizado e escrito por Pedro Rocha dos Santos
Video – Produção e realização – Vida Boémia