Valentino, de Tavullia e do mundo inteiro. Por João Pais
Vale, filho de Graziano.
Ao pai conhecem-se-lhe três vitórias, pilotando uma Morbidelli, categoria de 250 cc, corria o ano de 1979.
Ao filho, em seu segundo ano a competir em Mundiais, já semelhante currículo era multiplicado por quatro, reduzindo a façanha do progenitor a minudência de pouca monta.
Pois é isso, assim um género de rolo compressor que começou desde logo por transformar a vitrine do pai herói em algo que caberia numa de suas gavetas de cartões de visita.
Valentino, Vale, VR46, contrapondo o enrola línguas, três alegres tigres num mesmo piloto.
Mas chegaria um maior ainda.
Il Dottore, o sorriso mais veloz do mundo, a única mancha amarela que pode pedir meças ao sol.
Conheci Valentino muito antes de conhecê-lo, quer dizer, conheci-o por partes.
Primeiro o nome.
Valentino Rossi é um Ayrton Senna, um Cassius Clay, um Pelé, toda a gente os conhece, inclusive os alienígenas que visitam a terra em naves espaciais partindo de imediato.
Por isso, e porque a pessoa vive no planeta Terra, ali a partir do virar de século esse nome começou a fazer parte dos dias de quem pegava num jornal com alguma frequência.
Porém, antes mesmo de lhe saber o nome, descobrira-lhe as feições.
Estranhíssimo fenómeno que passo a explicar.
Por volta dos idos de 1990, na minha primeira incursão à América, comprei uma revista de Comics que se tornaria vicio de humor imperdível: MAD. Ora todas as capas dessa revista reproduziam, de um modo ou de outro, a imagem de um adolescente com ar de meia loucura.
Perceberia mais tarde, corria já o ano quinto do pós-2000, que aquele campeãozão louco em sua velocidade e grandeza não era senão a encarnação das capas MAD que me hipnotizavam…
Achais-me louco?
Mad, eu?
Lanço o desafio, pesquisem, comparem, confiram e concluam, se ele há coisas do arco da velha, esta é uma delas.
Penso agora que a História estava apenas e somente brincando às premonições…apresentando por antecipação o mais louco campeão de todos os tempos, que haveria de levar a Mancha Amarela e o número 46 aos mais recônditos lugares do Universo, desde a selva amazónica, passando por cada metro quadrado da secura do Saara, terminando em todo e cada tijolo da Muralha da China, e se aqui me acusarem de algum exagero posso condescender e retirar um tijolo e um metro quadrado, não mais do que isso.
Retrocedamos no tempo, acompanhemos o novato Vale correndo na equipa Genesis, nome de banda com música intemporal, correndo depois na Nastro Azzurro, deliciosa e geladinha invenção, mais tarde na Gauloises de travo forte e na Camel de pega suave e subtil, chegando aos dias de hoje na refrescantíssima Monster Energy, parece que este homem foi talhado para percorrer o Império dos Sentidos, e se ele o correu e de que maneira, ‘dio mio’, e fê-lo a tantos mas tantos à hora que a maior parte das vezes só o viam no final, já de champanhe na mão, ah Valentíssimo e Valoroso Valentino que glamour dás à letra ‘V’ de vitória.
Subo uns parágrafos, repito a questão…
Mad eu?
Que nada, aquela revista antevia a coisa, fazia a viagem de Marty McFly mas ao contrário, em vez do DeLorean DMC-12 a viajar ao passado preconizava nos traços de sua capa um jovem de ar provocador, que faria magia em Aprilias, Hondas, Ducatis e Yamahas, todas elas enfeitiçadas por passos de dança, por um Fred Astaire do asfalto, Valentino sapateou, rodopiou, abraçou, inclinou e beijou todas elas em bailados irrepetíveis, ganhadores, voadores.
E amarelos.
Em vinte e cinco anos de carreira ao mais alto nível, considerando que disputar o Mundial de 125cc mesmo em 1996 não era para todos, poderíamos escolher imensíssimos momentos de glória, de dons inatos, de rara beleza, estou certo de que tertúlias e noites inteiras seriam preenchidas escutando relatos de pedaços inesquecíveis.
Haveríamos de encontrá-los às dezenas, às centenas, aos milhares, creiam-me!
Mas sabem qual escolho?
Aquele que vi com estes olhos que a terra há de comer, quando em corrida recente deste ano da graça de 2020, qual nem posso precisar, Miguel Oliveira ultrapassa em pista Il Dottore, seu ídolo de poster e de infância, seu e de tantos outros por ali, como que humanizando o deus azul e amarelo, descodificando o segredo supremo da equação XLVI, essa universal conjugação de poder e velocidade, nesse momento entendi que até na hora de ser ultrapassado Valentino continuaria pujante, saudando em cada passagem junto de seu sagrado espaço em cada circuito uma multidão que com ele aprendeu a apaixonar-se pelo MotoGP, que aos seus ensina desde a mais tenra idade a mística rossista, que é coisa que abençoa quem a tem e deixa órfão e especado quem dela é desprovido.
Sendo recente nestas coisas de escritos em torno das motas já levo, no entanto, um bom par de décadas com a consciência da existência desse Doutor com letras às cores, desde os tempos em que para mim os fins-de-semana desportivos começavam e acabavam ao domingo, coisa que hoje, como bem sabeis, para além de me parecer uma heresia me deixa com a sensação de ter perdido muitas e lindíssimas manhãs de café numa mão e adrenalina na outra, se semelhante coisa é possível.
E nestes anos mais chegados, o facto é que já presenciei lutas de galos, defendendo teorias revolucionárias na justiça para a ocupação do poleiro-mor, a maior parte dos desafiantes adjudicando a Marc Marquez a tarefa de fazer sombra a Tino de Tavullia e de Urbino, como se tal fosse coisa justa de se pedir a um terráqueo, por mais criador de ‘saves’ e possuidor de poderios inesperados que seja o homem, capaz e admirado até por uma novíssima condução, em ângulos que desafiam a própria física.
E em boa verdade vos digo, assistir a diálogo e querela assim transforma a questão de chover no molhado numa redundância menor, senão vejamos.
Temos um GOAT, surge-nos um GHOST, não entender isso é um desgosto.
Poderão uns argumentar e esgrimir pontos de vista buscando vitórias esmagadoras de um, replicando classificações menos glamorosas em fase mais recente de outro, tudo isso é legítimo, compreensível até, mal fosse que não se recorresse ao mais básico instinto de sobrevivência em defesa de ponto de vista, por mais periclitante que possa ser a estrutura que o sustenta.
Mas olhando ao conjunto no seu todo, incluindo no receituário de acções credoras de loas e bruás todas as alíneas que afinal encantam este mundo de adultos, adolescentes e crianças, a verdade é que ninguém chegou ainda a pintar nem metade, nem fatia menor ainda, de uma mancha de devoção que se espalha em cada circuito deste fantástico circo como se fosse por decreto de homens, mulheres e crianças de infinda paixão e garantido bom senso.
Amando Vale.
E pronto, perante isto, que mais posso fazer senão curvar-me respeitosamente e gritar … Viva Valentino.
E viva esta gente e vivam todos vós.
B.R.U.T.A.L 👏👏👏👏👏
Obrigado Gui, vindo de quem vem é elogio muito interessante…. 😉
Temos um GOAT, surge-nos um GHOST, não entender isso é um desgosto!!!
É mesmo isto….brilhante crónica!
Boa dica para a eterna questão, huh? 😉
boas tardes, muito boa esta leitura que acabo de fazer.
ja tive o prazer de ver a onda amarela ao vivo em sylverstone em 2019 e posso vos dizer que é simplesmente magnifico a multidao que acompanha o Valentino Rossi IL Dotcore por todo o mundo.
Espero ver no futuro uma onda azul ou laranja de apoio ao Nosso Falcão MO88 por todo o mundo.
Excelente cronica.
Obrigado pelas tuas palavras Carlos . .e vamos lá levar esta crónica ao nosso pessoal ‘virtual’ . .eles que não se acanhem a comentar… 🙂
Sempre em alta rotação! 💪💪
Há que manter o ritmo. 🙂
rei 😎
O Rei é o Valentino. 😉
Espetacular grande João!
Thanks Zézé . .:-)
Grande homenagem ao Maior de sempre, nas motos. Top Jan Jan
Obrigado Carlos .. ! 😉
A popularidade que VR46 trouxe para a motovelocidade fortaleceu o Campeonato, as equipes, inspirou sonhos e permitiu o surgimento de novos valores como o vosso Falcão Oliveira. Ele não se mede pelos parâmetros normais, enquanto houvet motivação estará no grid. Parabéns pelo super artigo, Jan. Braaaaap!
Muitoooo obrigado pelo teu comentário Fausto .. .fico extremamente honrado de ser comentado por um ícone do MotoGP, que tanto acompanhou Valentino. Braaaaaap!
Grande homenagem ao VR, boa João!
Il Dottore merece. Obrigado Pedro!
Excelente artigo…claro que sou suspeito quando o assunto é Valentino Rossi! Felizmente tive a felicidade de ver o Rossi correr e visitar a sua boxe a quando da sua visita ao Circuito Vasco Sameiro, para uma prova do europeu de velocidade…antes de ele entrar nos mundiais! A partir daí, é a história que todos sabemos…
Obrigado pelo comentário .. e ter visitado a box do Doutor . .deixou belíssima memória
Texto excelente. Eu tinha me afastado da MotoGP mas seus textos me fizeram voltar a gostar do velocidade em estado bruto. Parabens!
Olá Caio .. em boa verdade, a actual MotoGP está interessantíssima. Seja muito bem-vindo . .e obrigado por suas palavras!
Bravo
Obrigado Miguel.
V de Valente. Valente crónica, nada que o também já nosso JP nos admire, ainda que continue a deslumbrar…! Por mim, cá te espero às terças.
Obrigado Rui .. e eu aqui estarei às terças .. 🙂
Vale já ganhava corridas no ano que seu irmão Marini nasceu. Daí a dimensão do homem e desta crónica mto bem escrita como habitualmente.
Obrigado Dina. 😉
Sem dúvida que o motogp muito deve ao Valentino, não só pelas multidões que arrasta pelo marketing dá à modalidade, mas também pela criação de novos pilotos na escola da sua Quinta, e tambem pela sua marca VR46 que em breve estará a competir no escalão maior do MOTOGP
Exactamente, Luis. E mesmo após a sua saída como piloto, VR continuará muito influente no paddock!
O que diferencia o Rossi e outros atletas como o Rossi é a paixão, a paixão que nutrem por aquilo que fazem, e é isso que os leva a ficarem no coração do publico, dos adeptos, enquanto muitos outros atletas apesar de serem bons, correm por estatisticas, e por recordes, isso é bonito mas não devia ser o objectivo, se fizeremos as coisas com paixão no fim das carreiras chega-se sempre a numeros bons e batem-se records. Há muitos pilotos de motas, mas nenhum como Rossi, até podem vir a ganhar mais que ele, há muitos futebolistas mas nenhum como Maradona, há muitos pilotos de F1 até mais vitoriosos mas nenhum como Ayrton Senna, todos eles tinham algo em comum, a paixão com que faziam a sua actividade, é isso que faz a diferença e não os recordes e as estatisticas e hoje vemos pouca paixão no desporto, dinheiro a mais,obcessão pelos tais recordes e estatisticas e nossos queremos mais paixão alegria
Sem a mais pequena dúvida, e essa paixão acaba por contagiar-se a uma multidão infinita de adeptos.
CraqueS !
Indeed. Obrigado pelo comment vbcpt. 🙂
Gigante il Doctore!
Gigantíssimo. 🙂
Contas sempre uma história nos teus parágrafos!
Carrega João, meu irmão!
Feliz Natal🙂👊❤️
Obrigado Filipe, assim dá para quem gosta de motas e para quem gosta de ler. Feliz Natal. 🙂
Que maravilha.
Ao ler esta crónica passou-me pela memória em flash muitos momentos da carreira de VR46. Valentino faz parte do MOTOGP……
O Vale veio para dar outra dimensão a este desporto..
Obrigado João Pais por esta crónica de reconhecimento ao senhor Motogp.
👍