MotoGP, Assen 2013: O regresso de Valentino Rossi às vitórias
De uma ponta a outra do globo, muitos conhecem o Valentino Rossi-piloto. Ao longo da sua carreira de 26 anos ficaram conhecidas as suas excentricidades, o seu talento de esconder o jogo dos adversários até à ultima volta, o seu jeito teatral de comunicar e comemorar cada vitória… Com a família e os amigos que o veneram, revela uma face menos conhecida, deixa à vista o seu lado mais puro e desconhecido, tão distante como a sua vila de Tavullia.
Por Ricardo Ferreira
O “46” manteve-se como um ativo indispensável do mundial de velocidade até 2021… como uma lenda que atravessou gerações, e que sem olhar para trás foi batendo recordes atrás de recordes, das 500cc ao MotoGP. Rossi ultrapassou nesta estatística, os resultados de Giacomo Agostini, de Mick Doohan e tornou-se no melhor de sempre na classe rainha. Até aos 42 anos de idade continuou a saltar de geração em geração e a vencer, renovando de ano para ano o seu invulgar talento! Magia negra…!? Mística do além…!? Ou o seu desenho de eleição que tantas vezes preencheu o seu capacete… Sol e Lua, Dia e Noite!
Valentino deixou o mundial sem conseguir bater o recorde de triunfos absolutos de Agostini, devido aos dois anos de jejum que passou na Ducati mas… Rossi foi Rossi até ao fim, até ao último minuto. Lutou e conseguiu o top 10 na sua despedida em Valência. Chorou e choraram os seus fãs, porque na realidade todos sabemos que MotoGP sem Rossi não combina. É como um cozinhado excelente que nos faz brilhar os olhos à mesa, mas alguém se esqueceu de pôr o sal. Rossi é isso mesmo… o sal do MotoGP!
Contudo, com a família e os amigos que o veneram revela uma personalidade menos conhecida de todos, deixa à vista o seu lado mais puro e desconhecido, tão distante dos olhos do mundo como a sua pacada vila de Tavullia. Fica a cerca de 13 km da cosmopolita Misano banhada pelo Adriático, e foi aí que o pai Graziano incentivou o pequeno Rossi de 4-5 anos a dar as suas primeiras voltas em karts e mini-motos.
O seu currículo é longo, vem do tempo dos primeiros êxitos com a Aprilia, em 1997 (Campeão de GP 125) e 1999 (campeão de GP 250), à sua entrada de rompante no extinto campeonato de 500cc no ano 2000 – com a Honda e pela “mão” do conselheiro Doohan –, acabando essa temporada de roockie em segundo no mundial de meio litro. Segue-se a entrada no mundo das MotoGP de 4 tempos e o começo de uma coleção de títulos e troféus, que carinhosamente guarda na sua terra natal e junto do seu clube de fãs da rural Tavullia.
Rossi é uma personagem impar, inimitável, um inigma em pessoa para quem não o conheça. Talvez por essa razão há quem diga que se não fosse o melhor piloto do mundo ele seria certamente um dos melhores atores do mundo. Tentei com ele várias entrevistas e, recordo perfeitamente, uma vez num sábado no circuito de Jerez de La Frontera, deixou-me a mim e a outros jornalistas literalmente a “secar” na sala de imprensa. Curioso, fui ao paddock para entender o que se passava: encontrei-o na sua Motor Home, sereno a passar autógrafos às fãs… completamente “nas tintas” para quem tinha que escrever algo sobre ele! Poucos pilotos como ele se encontram numa pista de velocidade, tem a descontração de um piloto de motocross e em pista “esconde o jogo” se for preciso quase até ao final de uma prova!
Rossi é “teatral”, tem uma queda para os cenários, para as cores… definitivamente, é de uma espécie rara … e sabe por em franja os nervos dos adversários. Que o diga Max Biaggi, a quem fiz uma entrevista, falou-me de tudo e mais algumas, mas nem uma palavra sobre Rossi.
Recordo perfeitamente quando teve os primeiros títulos de MotoGP com a Yamaha, o ambiente sombrio que se vivia na box da Honda, as ”bocas” sobre ele para os jornalistas de Max Biaggi e de Alexandre Barros mas volvidos 12 anos sobre a inclusão das MotoGp de 4 tempos… Ele, o espanhol Dani Pedrosa e Nicky Hayden foram os principais “ativos” de uma geração de pilotos. Em pouco tempo chegaria Marc Marquez como um dos seu maiores rivais de sempre, e muito tarde Joan Mir, Fabio Quartararo e Francesco Bagnaia.
Mas, aquela vitória de Valentino Rossi em Assen em 2013, após dois anos de jejum com a Ducati e no regresso à Yamaha, foi uma corrida que ficou para a história.
Obrigado Valentino Rossi