MotoGP, Opinião: Pol Espargaró, o herói e o vilão
Já vai para três anos que a KTM, grande referência no off road mundial, decidiu lançar-se à conquista do MotoGP e mostrar ao planeta que é o ‘Santo Graal’ das duas rodas ao conseguir vencer em qualquer disciplina do motociclismo, desiderato que ainda não aconteceu para desalento de Mattighofen.
Um projecto arrojado e que, como não poderia deixar de ser, envolveu muitos meios financeiros e técnicos. Uma história onde está envolvido desde a a sua base zero, Pol Espargaró. E o de Granollers tem sido o ‘pivot’ da história da KTM na classe maior do motociclismo mundial. Foi ele o autor do primeiro pódio em MotoGP do construtor laranja, na chuvosa corrida de Valência 2018, bem como foi o próprio Espargaró que há menos de uma semana, em Le Mans, entregou à marca austríaca o seu melhor resultado, até ao momento, numa corrida com piso seco.
Sinais de que Pol Espargaró mais do que ninguém está identificado com a KTM, insígnia que já está colada à sua pele. É ele o grande responsável pelo desenvolvimento da RC16 e pelo consequente crescimento na grelha de partida da moto europeia. Esse mérito ninguém pode retirar ao piloto espanhol que já está ligado eternamente à história da KTM. É o chamado trabalho de autor e que marca um legado.
Com o menino nos braços desde o seu crescimento e uma grande cumplicidade com toda a estrutura, Espargaró é a voz autorizada dentro das boxes que indica aos técnicos o rumo a seguir e tudo parece ser feito demasiadamente a seu gosto. Com tudo de bom e mau que isso tem.
Pol Espargaró é o herói pelo que atrás foi anunciado, mas como nada é perfeito, acaba por ter um talvez involuntário efeito eucalipto junto dos restantes pilotos da estrutura, que lutam fim de semana após a fim de semana para domar a RC16. E esse é o grande desafio que está a ser colocado à KTM por estes dias.
Fazer paulatinamente a descolagem do estilo de pilotagem de Pol Espargaró e assentar tudo numa plataforma que permita aos restantes pilotos, com o moribundo Johann Zarco à cabeça, serem igualmente competitivos com a moto austríaca. Os responsáveis da KTM não podem cair no erro do ‘dogma Espargaró’, onde tudo o que este diz ou sugere é lei até porque nem todos têm o mesmo estilo de pilotagem. Já diz o povo que duas cabeças pensam melhor do que apenas uma….
Acredito que só assim a KTM poderá ficar mais perto daquilo que pretende em MotoGP. E não há motivos para receios até porque gente competente não falta, muito pelo contrário. Na mesma página estão Johann Zarco, Miguel Oliveira e Dani Pedrosa, que vai dentro em pouco iniciar a sua gesta na nova casa. É só uma questão de deixar de lado a uniformidade e instaurar uma saudável pluralidade de sensações.