MotoGP, história: Os anos de Barry Sheene, Parte 2
Vimos na primeira parte desta crónica como o Inglês Barry Sheene usou o seu talento e charme para se tornar rico e famoso, ao mesmo tempo projetando as corridas de motos como poucas vezes antes.
Após a temporada de 1979, Sheene deixou a equipa de fábrica da Heron Suzuki, acreditando que estava a receber equipamento inferior aos seus companheiros de equipa, rompendo com a marca e até ferindo suscetibilidades ao aparecer num evento da Suzuki com um blusão Yamaha, após assinar contrato com a marca de Ywata em segredo.
Porém, Sheene fora de certo modo enganado, como muito mais tarde reconheceu e a máquina Yamaha era apenas uma competição cliente, até porque a Yamaha América, com Kenny Roberts, se tinha entretanto tornado a equipa oficial. Assim, em 1981, Roberts, sujeito da nossa crónica anterior, foi campeão mundial de 500 pela terceira vez consecutiva.
Sheene, por esta altura numa Yamaha mais competitiva, com apoio da Akai, estava determinado a tirar-lhe o campeonato. Rivais até ao fim, Sheene e Roberts lutaram toda a temporada, atrapalhando-se mutuamente, e os pilotos da Suzuki, o Italiano Marco Lucchinelli e o norte-americano Randy Mamola, acabaram por ficar nos dois primeiros lugares.
Roberts terminou em terceiro e Sheene em quarto na classificação final do Campeonato do Mundo. De facto, a vitória de Sheene no Grande Prémio da Suécia de 1981 seria a última vitória para um piloto britânico na categoria de topo até à estreia de Cal Crutchlow no GP da República Checa de 2016.
A carreira de Sheene foi marcada por grandes acidentes e recuperações espantosas. Num acidente em Silverstone, montando a sua Yamaha, Sheene colidiu a moto do francês Patrick Igoa durante os treinos para o Grande Prémio da Grã-Bretanha de 1982.
As suas pernas desfeitas foram salvas pelo cirurgião ortopédico Nigel John Cobb no Hospital Geral de Northampton. Isto acabou em grande parte com o seu potencial como ameaça ao título, e ele retirou-se em 1984, o único piloto a vencer corridas de Grande Prémio nas categorias de 50 e 500.
Sheene era conhecido por ser franco nas suas críticas à segurança nos circuitos e ao que considerava serem pistas de corrida perigosas, nomeadamente o circuito da Ilha de Man TT, que, com as 500 cada vez mais rápidas, considerou demasiado perigoso para competição do campeonato mundial. Era um personagem colorido e exuberante que usava a sua boa aparência, sorriso e sotaque londrino para bom efeito na autopromoção, e combinando isso com interesse e jeito pelos negócios, foi um dos primeiros pilotos a ganhar muito dinheiro com patrocínios.
É creditado com tendo impulsionado o apelo das corridas de motos para o marketing de massas na altura, dando um incremento às vendas e cartas de motos de estrada em Inglaterra. Na altura, famoso, estreou-se como apresentador de programas de TV, incluindo a série Just Amazing!, onde entrevistou pessoas que tinham realizado feitos de ousadia e sobreviveram.
Em 1975, quando estava de muletas em convalescença, Sheene conheceu e apaixonou-se pela modelo Stephanie McLean, enquanto trabalhavam juntos numa sessão fotográfica para a Chrysler. Depois desta se ter divorciado, o casal casou-se em 1984, tendo uma filha Sidonie e um filho Freddie, que por vezes aparece com as suas motos em eventos clássicos.
Ganhando fama e riqueza através das corridas, Sheene tinha casas em Putney, na zona do estádio do Chelsea no sudoeste de Londres, e em Cambridgeshire e em 1977 comprou uma mansão com 700 anos em Charlwood, Surrey, propriedade da atriz Gladys Cooper. Foi também contratado pela Fabergé para promover a sua loção aftershave Brut.
Recusou-se sempre a abandonar a Inglaterra e tornar-se um exilado fiscal, quando muitos dos seus conterrâneos inventavam paraísos fiscais, (Phil Read vivia nas Ilhas do Canal em Guersey e vários outros na Ilha de Man) embora na altura rendimento do seu nível fosse taxado pelo governo trabalhista de então com cerca de 86% de taxa de IRS.
Sheene gozava de um estilo de vida luxuoso, sendo famoso o seu Rolls Royce de matrícula BS7, socializando com amigos VIP como James Hunt, ou Ringo Starr e George Harrison dos Beatles, e era um fumador inveterado, até tendo aberto um buraco na queixeira do seu integral (que era, notoriamente, um “King” inglês e mais tarde um AGV, só nos autocolantes, mas tendo por baixo um Bell Star) permitindo-lhe fumar na grelha até mesmo antes do início de uma corrida.
No final da década de 1980, a família Sheene mudou-se para a Austrália na esperança de que o clima mais quente ajudasse a aliviar algumas das dores da artrite induzida pelas lesões de Sheene, instalando-se numa propriedade na Gold Coast, que tinha uma enorme casa central rodeada de casas adjacentes para ambos os pais e sogros. Investindo o que trouxera de Inglaterra, combinou um negócio de desenvolvimento imobiliário com um papel como comentador no desporto automóvel, em que também faz algumas corridas, tornando-se ainda mais rico graças ao seu jeito para negócios.
Nos anos seguintes, Sheene envolveu-se em corridas históricas de motociclismo, muitas vezes regressando à Inglaterra para correr em eventos como o encontro de clássicas em Donington Park.
Em Julho de 2002, aos 51 anos, Sheene foi diagnosticado com cancro. Recusando tratamentos convencionais de quimioterapia, Sheene optou por uma abordagem holística envolvendo uma dieta rigorosa e banhos frios, mas o cancro, ajudado por anos a fumar tabaco fortíssimo Gauloises sem filtro, estava enraizado demais e o ex-Campeão, medalhado com a condecoração MBE do Império Britânico pelo seu serviço ao desporto, morreu num hospital em Queensland na Gold Coast da Austrália em 2003, com apenas 52 anos, tendo sofrido da doença durante oito meses.
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