MotoGP, Carlo Pernat: “Se alguém me chama de palhaço, só consigo rir”

Por a 15 Abril 2022 12:18

Quase ninguém notou que dois protegidos de Carlo Pernat, venceram um Grande Prémio no último fim de semana do MotoGP. Com Enea Bastianini e Tony Arbolino, este gestor de talentos comemorou mais dois triunfos de dois dos seus ‘meninos’, desta vez no Texas.

Figura incontornável dos bastidores do MotoGP, descobridor de talentos, Carlo Pernat já experimentou reveses e decepções suficientes na sua carreira de décadas. Lembro-me do ver pela primeira no Estoril, num Grande Prémio de Portugal que guardo na minha gaveta de recordações.

O ponto baixo de Pernat foi a queda fatal do seu piloto Marco Simoncelli, em 2011 no GP da Malásia de Sepang. Mas essa tragédia não o desencorajou, nem tão pouco a suspensão de quatro anos do seu piloto Andrea Iannone. Com uma inegável propensão para descobrir novos talentos, encontrou em Enea Bastianini e Tony Arbolino duas boas apostas, e o seu apurado sexto sentido voltou a funcionar uma vez mais. 

Em 2019, além de Andrea Iannone, que na altura era terceiro no MotoGP em Austin e Jerez, Jorge Lorenzo também achou que tinha uma chance, porque poderia ter trazido cerca de 2 milhões de euros da Monster e não estava feliz com a Ducati Corse. Mas quando o gestor de Iannone, Carlo Pernat, disse no GP de Jerez 2018 que Lorenzo poderia errar muito e cair entre a cadeira e o banco na Ducati e na Suzuki, o maiorquino reagiu com irritação. “Pernat é o palhaço da mídia italiana”, insultou-o Lorenzo. Mas Carlo Pernat não devia nada ao piloto da Ducati.

“Ninguém pode dizer que não consegui nada no motociclismo”, afirmou Pernat em entrevista ao Speedweek.com. “Tornei-me campeão do mundo de 125cc na Aprilia com quatro pilotos, com Gramigni, Rossi e duas vezes com Sakata. No Campeonato do Mundo de 250cc vencemos três vezes com Biaggi, uma com Valentino e outra com Capirossi. Já são nove títulos mundiais. Há mais dois títulos mundiais de motocross do meu tempo em Cagiva, em 1985 com Pekka Vehkonen e em 1986 com Dave Strijbos. Fui responsável pelas atividades desportivas em ambas as empresas. Na Aprilia trabalhei com Jan Witteveen, ele era o Diretor Técnico. Agora temos onze títulos juntos. Também fui responsável pela vitória de Eddy Orioli no Paris-Dakar em Cagiva em 1990. Além disso, sete títulos de construtores foram conquistados sob minha direção. 18 títulos mundiais. Esta é a minha história. Não quero responder mais. Talvez eu também possa mencionar que descobri Valentino e lhe dei um contrato de três anos com a Aprilia quando ele tinha 15 anos. Se alguém me chama de palhaço, só consigo rir.”

Após passar pela Cagiva e Aprilia (deixou a firma de Noale no final de 1998), Pernat atuou temporariamente como presidente do clube de futebol de Génova FC Genova antes de retornar ao paddock do GP. Pernat tornou-se então conselheiro da Gilera e gerente pessoal de pilotos proeminentes: “Mamola, Roche, Gramigni, Reggiani, Biaggi por três anos, Capirossi, Simoncelli, Locatelli, Perugini, Iannone, Bastianini”, diz Pernat, atualmente com 74 anos. E reflete: “Tenho a certeza de que esqueci alguns.”

Pernat tem boas lembranças do contrato de trabalho da Aprilia com Valentino Rossi. “Era válido para os anos de 1996, 1997, 1998. Eu precisava das assinaturas do pai Graziano e da mãe Stefania, porque eles já estavam divorciados. Isso foi um grande negócio para a Aprilia naquela época, porque prometemos ao Valentino de 15 anos um bom ordenado fixo. No primeiro ano foram 30 milhões de liras, no segundo ano 90 milhões, na terceira temporada 180 milhões, quando o ‘Vale’ já estava no Mundial de 250cc.”

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Ricardo Ferreira
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