MotoGP: A reforma do “Doutor” Valentino Rossi
Ainda é o único piloto da história a vencer os Campeonatos do Mundo de 125cc, 250cc, 500cc, 1000cc, e 800cc, mas em 2021, chegou a altura de parar. Aos 42 anos, Valentino Rossi diz adeus aos palcos do MotoGP.
“Como disse durante a época, tomaria a minha decisão para o próximo ano e após as férias de Verão, decidi parar no final da época. Infelizmente, esta será a minha última meia temporada como piloto de MotoGP”, começou assim a conferência de imprensa de Valentino Rossi, marcada para a quinta-feira na véspera do GP da Estíria. “É difícil. É um momento muito, muito triste. É difícil dizer e saber, que no próximo ano não vou competir numa mota. Fiz isto durante, digamos, 30 anos. Tenho gostado muito”, acrescentou o italiano.
O palco escolhido para anunciar a decisão de parar, o Red Bull Ring na Áustria, não podia ser melhor: em 1996, Rossi conquistou o seu primeiro pódio nas 125cc no Österreichring, que é agora o Red Bull Ring. Nesse ano, o seu de estreia no Mundial, o piloto italiano seria o 9º classificado, com dois pódios, uma vitória em corrida e uma pole position conquistada. No ano seguinte, 1997, Rossi venceu o campeonato na categoria, com uma Aprilia. Foram 11 vitórias em 15 corridas. No total da sua carreira, nas 25 épocas no mundial, Rossi subiu aos pódios por 235 vezes, conquistou 65 pole positions e venceu por 115 vezes. Arrecadou 9 títulos desde 1996.<
Para alguns, Valentino Rossi é o melhor de todos os tempos, para muitos, foi a porta de entrada para ver e vibrar com o MotoGP.
As rivalidades no MotoGP
Um piloto que tem uma ascensão como teve Valentino Rossi, que venceu em todas as categorias por onde passou antes de chegar à classe rainha do motociclismo, é quase garantido que tenha muitos rivais. Por um lado, aqueles que já estão no topo e se sentem ameaçados pelo piloto jovem que é rotulado como estrela, por outro, depois de atingir o topo, a ameaça vem daqueles que querem “roubar” o seu lugar. Em tantos anos de competição ao mais alto nível, Rossi já teve uma valente dose de adversários com quem manteve uma rivalidade acesa.
Uma das maiores foi com outro italiano. Max Biaggi era um piloto já estabelecido no mundial, na altura ainda a classe maior eram as 500cc. Rossi subiu para o topo da pirâmide do mundial em 2000, e no ano seguinte, em Suzuka dá-se o início a uma das maiores divergências no motociclismo. Biaggi de Yamaha, com um toque leva Rossi (Honda) a sair de pista por breves instantes. O jovem Rossi não gostou e uma volta depois, ultrapassou Biaggi com direito a dedo do meio da mão esquerda erguido para o adversário. Rossi acabou por vencer essa corrida, que foi a primeira do ano. Na Catalunha, dois meses depois do episódio do Japão, a rivalidade tornou-se física, com os dois pilotos a discutirem depois do fim da corrida e a serem separados por várias pessoas. Por muito que os dois pilotos afirmassem que tinham conversado e resolvido as suas questões, a rivalidade em pista, com lutas muito fortes, durou até 2005.
Depois de Biaggi, Sete Gibernau, Marco Melandri, Nicky Hayden e Casey Stoner, foram alguns dos pilotos que rivalizaram com Rossi. Momentos dentro e fora de pista, marcaram muitos dos anos de Valentino Rossi, isto porque o piloto sempre foi muito intenso.
Dos últimos grandes desafios de Rossi, Jorge Lorenzo foi possivelmente o mais marcante. Os dois pilotos eram colegas de equipa, mas não se davam um com o outro e em 2009 ambos lutaram pelo título. As acusações entre ambos que cada lado da garagem espiava o outro subiu tanto de tom, que a Yamaha foi obrigada a dividir fisicamente os lados das garagens. Rossi venceu o campeonato nesse ano e Lorenzo em 2010, até que o italiano ingressou na Ducati no final desse ano.
A chegada de Marc Márquez, uma estrela em ascensão à imagem de Rossi, veio também a chocar com o “Doutor”. Foi um passar de testemunho, mas com duas das maiores figuras do motociclismo a fazerem “faísca” em quase todas as corridas. Ambos tinham muitos fãs ao seu lado e eram dois fenómenos das duas rodas, acabando pela luta amainar depois da carreira de Rossi entrar numa fase descendente e não conseguir lutar por títulos.
“os resultados fazem a diferença”
Até agora, “The Doctor”, como é conhecido Valentino Rossi, obteve 115 vitórias em todas as categorias do Mundial e arrecadou 9 títulos mundiais. 7 no MotoGP, um nas 2500cc e outro nas 125cc. No entanto, desde o GP dos Países Baixos de 2017 que não sobe ao lugar mais alto do pódio.
“Tive uma carreira muito longa e, felizmente, ganhei muitas corridas. Tive alguns momentos e algumas vitórias que são inesquecíveis e foram pura alegria – algo com que ri durante uma semana e após 10 dias voltava a rir e perguntava ‘’porquê?’ e depois ‘OK, para a corrida’. É uma decisão difícil. Mas é preciso compreender que no final, em todos os desportos, os resultados fazem a diferença. No final, penso que este é o caminho certo”, explicou o #46 na conferência de imprensa, depois de tomar a decisão de retirar-se do mundial.
E são mesmo os resultados que obrigam o piloto a retirar-se do Mundial. Depois de ter trocado a equipa de fábrica da Yamaha, no final do ano passado, pela equipa satélite Petronas Yamaha SRT, a carreira do piloto parecia já numa fase descendente. Aliás, até antes isso se notava. Nos dois últimos anos com a equipa oficial da Yamaha, Rossi não foi além do 7º lugar final, isto em 2019.
Em 2020, num ano claramente mau, Rossi ficou atrás do seu colega de equipa, mas pior ainda, ficou atrás dos dois pilotos da equipa satélite, Franco Morbidelli e Fabio Quartararo.
Este ano, o italiano tem andado pelo fundo do pelotão, sendo uma pequena amostra daquilo que já conseguiu na sua carreira.
Fim de uma Era, início de uma Lenda
Com o anunciar da sua reforma, muitos dizem que a Era de Valentino Rossi termina. O legado que o italiano deixa no desporto motorizado em geral, no MotoGP em particular, é gigantesco. A marca de Rossi viverá para sempre e vão ser muitos os que vão “fazer das tripas coração”, para bater os seus recordes, assim como ele o fez. Faltou apenas um título na categoria maior do mundial de motociclismo para bater Giacomo Agostini, uma das maiores lendas das duas rodas, por exemplo.
A partir de 2022, a Lenda de Valentino Rossi, “Il Dottore” começa: aquele que foi considerado um dos cinco melhores desportistas mundiais entre 2000 e 2010; o excêntrico que fez tremer o status quo do mundial de duas rodas; que rivalizou e bateu os melhores pilotos da sua geração, ficará para sempre na história.
A equipa Sky Racing Team VR46, fundada pelo italiano para dar oportunidade a jovens pilotos. Neste momento, Luca Marini, meio-irmão de Rossi, e Enea Bastianini são pilotos da equipa no MotoGP
Portugal fará também parte dos recordes de Valentino Rossi. Foi no nosso país que o italiano deu início aos 23 pódios consecutivos no MotoGP: GP de Portugal de 2002 até ao GP da África do Sul em 2004.
Das duas para as quatro rodas?
O italiano admitiu que apesar de se despedir das pistas do MotoGP, pode competir de forma mais regular nos automóveis. Rossi já conhece bem a competição automóvel, com presença em provas GT de resistência e em ralis. O italiano não esconde o desejo de tentar Le Mans, mas, para já, deixa tudo em aberto: “Já disse que adoro correr com carros, apenas um pouco menos do que com uma moto”, disse ele. “Penso que vou correr com carros a partir do próximo ano. Mas para já… ainda não está decidido. Sinto que serei um piloto para toda a vida. Por isso, apenas mudo da moto para o carro, com certeza, não ao mesmo nível. Mas nunca se corre apenas por diversão. Se és um verdadeiro piloto, corres pela vitória ou para tentar ter um bom resultado. Neste momento não sei que carros, não sei que corridas. Eu disse que quero correr nas 24 Horas de Le Mans e ter muitas corridas de carros em todo o mundo, por isso acho que posso aproveitar. (…) E durante a carreira nas motos, tentei sempre melhorar as minhas capacidades com os carros, fazer sempre alguns quilómetros [para] estar pronto neste momento”.
Carreira de Rossi no mundial:
ÉPOCA | CATEGORIA | MOTO | PONTOS | POSIÇÃO |
2020 | MotoGP | Yamaha | 66 | 15 |
2019 | MotoGP | Yamaha | 174 | 7 |
2018 | MotoGP | Yamaha | 198 | 3 |
2017 | MotoGP | Yamaha | 208 | 5 |
2016 | MotoGP | Yamaha | 249 | 2 |
2015 | MotoGP | Yamaha | 325 | 2 |
2014 | MotoGP | Yamaha | 295 | 2 |
2013 | MotoGP | Yamaha | 237 | 4 |
2012 | MotoGP | Ducati | 163 | 6 |
2011 | MotoGP | Ducati | 139 | 7 |
2010 | MotoGP | Yamaha | 233 | 3 |
2009 | MotoGP | Yamaha | 306 | 1 |
2008 | MotoGP | Yamaha | 373 | 1 |
2007 | MotoGP | Yamaha | 241 | 3 |
2006 | MotoGP | Yamaha | 247 | 2 |
2005 | MotoGP | Yamaha | 367 | 1 |
2004 | MotoGP | Yamaha | 304 | 1 |
2003 | MotoGP | Honda | 357 | 1 |
2002 | MotoGP | Honda | 355 | 1 |
2001 | 500cc | Honda | 325 | 1 |
2000 | 500cc | Honda | 209 | 2 |
1999 | 250cc | Aprilia | 309 | 1 |
1998 | 250cc | Aprilia | 201 | 2 |
1997 | 125cc | Aprilia | 321 | 1 |
1996 | 125cc | Aprilia | 111 | 9 |