MotoGP, 2021, San Marino: Porque ganha Bagnaia?

Por a 21 Setembro 2021 17:00

De repente, Pecco Bagnaia é a propriedade quente da MotoGP, o piloto que nunca tinha ganho vencendo na Ducati LeNovo por duas vezes


As razões para esta sua subida de forma, que resultou em duas vitórias consecutivas, são várias e prendem-se com dois aspetos principais:

Primeiro, o da barreira psicológica de nunca ter vencido antes ter sido quebrada.

Já antes, em declarações à MotoGP, o coordenador da equipa Davide Tardozzi tinha referido isso, quando disse:

“O Pecco vai ganhar em breve e depois de ganhar pela primeira vez, vamos vê-lo ganhar muitas a partir daí!”

De facto, a primeira vitória quando um piloto nunca venceu uma corrida, reveste-se de muita importância: a barreira psicológica de confiança, fundamentalmente acreditar no pneu da frente à entrada de curva, volta após volta, é uma que muitas vezes leva os pilotos a exceder-se e não é raro que a primeira vitória seja precedida por duas ou três corridas em que o piloto liderou só para cair… isto já aconteceu com Quartararo, Rins, Miller e ao próprio Bagnaia.
A outra razão, mais importante ainda, porque contar a parte psicológica a equipa pouco ou nada pode fazer, é mais fácil de racionalizar e prende-se com questões técnicas:

Basicamente no plantel atual de MotoGP e em termos técnicos há duas fações ,dois campos opostos, se quiserem: o das V4, a Ducati, KTM, Aprilia e Honda, e o dos quatro em linha, a Yamaha e Suzuki.

Enquanto as primeiras detém inegavelmente as vantagens de serem mais compactos e de resposta brutal ao acelerador e portanto, fogem à saída de curvas desde que consigam colocar a potência no chão, as duas últimas, embora sejam motores mais largos normalmente, têm a vantagem oposta de entrada em curva a maior velocidade em estabilidade absoluta.

Isto dá-lhes depois velocidade em curva superior, que também tem que ver com a compostura do chassis, para não causar sustos ao piloto, ou permitir comportamento consistente na borda do pneu,  e no caso da Suzuki, ainda a capacidade de poupar os pneus ao longo da corrida para suavidade (sempre relativa com motores a orçar os 260 cavalos!) de entrega do seu motor.
Está bem de ver que se, de alguma maneira, um piloto descobrisse o segredo de fazer, ou a Yamaha sair melhor de curvas sob aceleração e atingir maior velocidade, ou a Ducati ter maior velocidade em curva, esse piloto seria muito difícil de bater, se não mesmo impossível das circunstâncias certas.

Este ano, essas circunstâncias têm favorecido sobretudo Fábio Quartararo, que consegue extrair o melhor da sua Yamaha para depois não ser incomodado pelos seus rivais e poder conduzir a corrida à sua vontade a partir da frente, podendo escolher as trajetórias a seu bel prazer que ao mesmo tempo lhe dão maior velocidade e menor desgaste dos pneus. O Francês já o fez 5 vezes este ano, além de 4 outros pódios, e como tal lidera o campeonato por 48 pontos sobre Bagnaia.

Há ainda o fator não desprezível de, quando as motos andam em proximidade, isso resultar no sobreaquecimento do motor por, em vez de apanharem ar fresco, apanharem o ar já aquecido da moto imediatamente à sua frente… Isto quer dizer que, para qualquer piloto ou marca, andar isolado é uma vantagem, mas  tem disso assim particularmente para a Yamaha, pois sem ninguém à frente o piloto de Nice pode maximizar as qualidades de alta velocidade em curva da Yamaha sem estar limitado por outros adversários por perto.

Já o mesmo não acontece com os restantes pilotos Yamaha, sejam eles primeiro Viñales, depois Rossi, Gerloff, Crutchlow ou ainda pior Dixon, e agora Dovizioso e Morbidelli.

Entalados no grupo de trás, também pelas qualificações menos que brilhantes, estes outros têm que se haver com pilotos menos experientes e trajetórias irregulares à entrada e saída de curvas, um manancial de fatores a impedi-los de replicar o desempenho do seu chefe de fila.
Se pelo contrário, em vez de ser a Yamaha a descobrir tração fosse a Ducati a descobrir subitamente velocidade em curva, o efeito seria o mesmo: nas circunstâncias certas, esse piloto seria imbatível.

Esse piloto, neste momento, é Bagnaia e a diferença é feita pelo seu estilo de pilotagem.

De alguma forma, desde os seus tempos de Moto2, onde conquistou o Campeonato em 2018 à justa por 9 pontos sobre Miguel Oliveira, (acima) velocidade em curva e uma capacidade incrível de ler o comportamento da moto no bordo do pneu, a fase mais crítica de uma volta, vinha com naturalidade para Bagnaia.
Ao subir à classe rainha, apanhado um par de vezes de surpresa pelas reações diferentes e maior peso de uma MotoGP, o piloto teve com certeza que ir consertando com a equipa técnica à medida que eles entendiam a sua forma de conduzir e como afinar a moto para ela.

Antes disso Miller vencera já por duas vezes, aproveitando o melhor que a Ducati tinha para oferecer, mas como vimos numerosas vezes nos treinos, sem conseguir replicar, quanto mais exceder, a velocidade de Bagnaia em curva.

Hoje, a condução do italiano de Turim torna-o naquele unicórnio que todos procuram em MotoGP: um piloto rápido numa moto rápida em velocidade de ponta, com tração ideal a sair de curvas e muito, muito rápido, a curvar, permitindo também poupar os pneus nas primeiras voltas, para ser capaz de atacar ou manter o mesmo ritmo ao longo de toda a corrida. Isso foi usado agora para máximo efeito pelo estilo único da Francesco Bagnaia, que sem dúvida irá muito longe na equipa vermelha de Bolonha, talvez mesmo até ao título!

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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