MotoGP 2020: O regresso da Finlândia

Por a 29 Março 2020 15:45

Com os organizadores a procurarem olhar para destinos antigos e novos como forma de renovar o Campeonato, olhamos  para a história do Grande Prémio da Finlândia e para o seu futuro no MotoGP.

Pela primeira vez desde 1982, o MotoGP regressa à Finlândia para correr no KymiRing construído de propósito na mais recente expansão de horizontes da modalidade,

A Finlândia representa tanto o conhecido como o desconhecido em MotoGP, dada a sua rica história que se desenrolou até que as preocupações de segurança a forçaram a sair do Mundial, como muitos outros locais que abandonaram o calendário durante o mesmo período, como Spa, Rijeka ou Anderstorp.

A viagem do MotoGP a novos países viu a Tailândia juntar-se ao calendário, depois de tentativas não muito bem sucedidas de implantar provas na China, África do Sul e Turquia, com a Finlândia a subir ao Calendário este ano, mais planos na forja para regressar à Indonésia, Brasil e Portugal, que estão a ganhar força.

Tampere recebeu o primeiro Grande Prémio finlandês em 1962 e 1963, com Mike Hailwood a vencer as corridas de 500 e 350 no segundo ano, antes de o melhor evento de motociclismo no país passar para o circuito de estradas públicas fechadas para a ocasião de Imatra a partir de 1964.

Imatra, um circuito de 6,030 Km de estradas que continha apenas sete curvas e via os pilotos atingirem velocidades máximas de quase 300 Km/h, acolheu o Campeonato Mundial de velocidade durante 19 anos e tornou-se um local icónico para a modalidade nas décadas de 1960 e 1970.

Giacomo Agostini somou 16 vitórias de carreira na pista (10 em 500, seis em 350), com imagens do lendário italiano e dos seus rivais a atravessar as passagens de nível por cima das linhas ferroviárias que cruzavam o circuito.

Realizada no início de Agosto, a prova via noites muito curtas e longos dias devido à sua localização muito a Norte, e era realizada num ambiente de festival, com tendas usadas como garagens, e os fãs acampando em redor da pista, uma vez que as cidades locais simplesmente não tinham espaço para acomodar todos os espectadores que vinham ver a corrida.

A região também tinha uma sensação de intriga e mistério nos anos da Guerra Fria, localizada como era junto ao Lago Vuokski e à vista da fronteira da União Soviética.

À medida que as velocidades e os riscos associados aumentavam, também o perigo das corridas em Imatra se tornava mais real, o que ditou a exclusão do circuito realizado em estradas públicas fechadas.

1981 foi o último Grande Prémio da Finlândia que apresentou um plantel completo de corridas, como o campeonato de 500, a classe rainha em oposição ao regresso a Imatra em 1982 por receios de segurança, pois as rápidas motos de meio-litro corriam a velocidades alucinantes entre a floresta e postes telefónicos desprotegidos que ladeavam a pista.

Isso fez co  que apenas as 350, 250, 125 e Sidecars alinhassem no último ano, o que acabou por se provar uma decisão trágica.

Jock Taylor, que vencera a prova dos sidecar em Imatra no ano anterior, morreu durante a corrida do Grande Prémio finlandês de 1982, quando foi atingido por uma segunda equipa de Sidecar depois de ter caído.

Com preocupações de segurança já aumentadas, não havia outra opção senão impedir o regresso do campeonato do mundo, mas o circuito finlandês continuou a acolher uma ronda do Campeonato da Europa até 1986.

Tragicamente, a história repetiu-se cruelmente em 1986, quando durante a corrida de 500 Detlef Vogt se despistou no cruzamento perto dos trilhos ferroviários e a sua moto atingiu uma família na multidão, matando um jovem espetador, com o irmão, a mãe e o pai também gravemente feridos.

Isso efetivamente levou ao encerramento do circuito, para além de um evento clássico ocasional, mas as corridas regressaram a Imatra em 2016 como parte do Campeonato Internacional de Corridas de Estrada.

Nas três décadas seguintes que passaram desde esses terríveis acontecimentos, os padrões de segurança do MotoGP transformaram-se ainda mais, para proteger ao máximo pilotos,  comissários e adeptos, e esforços continuam a ser feitos constantemente para encontrar melhorias.

Com circuitos na Finlândia dentro dos padrões de segurança exigidos pela MotoGP inexistentes, a organização coordenou com funcionários do KymiRing, a Federação Finlandesa de Motociclismo e os Designers de Circuitos Apex, sediados no Reino Unido, para construir um novo espaço multiusos que fosse sustentável, rentável e dentro dos padrões de segurança estabelecidos tanto pelo FIM como pela FIA.

A pista, localizada perto de Tillol, tem quase 4,6 km de comprimento e apresenta a reta mais longa do calendário de MotoGP com 1,2km. O traçado combina uma primeira secção rápida e fluida com um final apertado e técnico, perfazendo a distância 18 voltas no total com uma mudança de gradiente de 20m ao logo de uma volta.

Em Agosto de 2019, o MotoGP completou um teste inicial na pista com cada uma das equipas de testes dos fabricantes em ação para fornecer feedback sobre onde e como o circuito pode ser melhorado.

“Honestamente, é uma pista de corrida diferente de tudo o que já vimos antes”, disse Bradley Smith, piloto de testes da Aprilia, sobre a pista após o teste, em Agosto passado. “Preocupam-me certos aspetos da pista. O meu ponto de interrogação prende-se com quando se puser um monte de pilotos em pista a tentar fazer uma corrida.”

“O circuito não é suficientemente largo e é um pouco sinuoso demais. Se houver um erro, há algumas curvas onde poderia facilmente passar de um lado para o outro e regressar numa chicane noutra zona do traçado.”

“Vamos ver o que acontece. Temos um ano. Acredito em Franco Uncini, o representante de Segurança da FIM.”

Mika Kallio, da KTM Red Bull, mesmo sendo Finlandês, também criticou o Circuito pela sinuosidade inapropirada para as MotoGP, e disse que alterações teriam de ser efetuadas antes da corrida.

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