MotoGP, 2020: O caso das válvulas da Yamaha, 1

Por a 12 Dezembro 2020 16:00

Numa temporada mista de sucessos e falhanços, um dos maiores problemas a ensombrar a marca foi o escândalo da troca ilegal de válvulas

Logo se verificou que o motor da Yamaha de 2020 tinha dois tipos diferentes de válvulas

A Yamaha venceu nada menos que sete das 14 corridas em 2020 com Quartararo, Morbidelli e Viñales, além de nove de 14 pole positions e 12 de 42 possíveis pódios. No entanto, não alcançaram o título de Pilotos, nem o Campeonato do Mundo de Equipas nem o Campeonato do Mundo de Construtores.

Em Agosto, os pilotos da Yamaha ainda estavam a tentar aguentar a temporada com os cinco motores previstos pelo regulamento, apesar dos danos nos motores num par de corridas. Mas em Outubro, Viñales teve mesmo de usar um sexto motor e partir das boxes como penalidade.

No dia 15 de Agosto, foi revelado que a Yamaha queria abrir os motores selados que não tinham avariado ainda, devido ao fornecimento de um lote de válvulas alegadamente defeituoso e tinha feito um pedido formal à associação de fabricantes MSMA para tal.

Estes eram um de Viñales, Morbidelli e Rossi cada, e dois para Quartararo aonde as válvulas, de acordo com a Yamaha, deviam ser substituídas.

Quando os outros fabricantes exigiram mais detalhes, a Yamaha retirou o pedido.

Lin Jarvis, diretor-geral da Yamaha Motor Racing, assegurou então que novos danos no motor poderiam ser evitados com uma “configuração alterada”, ou seja, reduzindo o regime motor em cera de 200 rpm.

Por esta altura, observadores atentos começaram a desconfiar e levantaram o assunto nas reuniões da MSMA.

E como a Yamaha liderava o Campeonato do Mundo na altura, esclarecimentos da marca eram, naturalmente, ainda mais relevantes.

Logo se verificou que o motor da Yamaha de 2020 tinha dois tipos diferentes de válvulas, mas apenas uma destas duas variedades foi encontrada no motor padrão de amostra homologado que foi entregue ao Diretor Técnico do MotoGP Danny Aldridge para armazenamento em Março.

A Yamaha encomendou então um relatório especializado da Universidade de Pádua. Os japoneses queriam provar que eram válvulas idênticas.

O resultado provou o oposto: Havia uma diferença de 50 por cento no grau de dureza dos diferentes tipos de válvulas, e também foram encontradas diferenças significativas na geometria, o que significava que a Yamaha tinha usado válvulas ilegais.

Quando os oponentes perguntaram quais as válvulas que estavam no motor de amostra, segundo um fabricante rival, a Yamaha deu respostas contraditórias.
No entanto, a Yamaha aparentemente pensava, enquanto aguardava o resultado da inspeção, que as válvulas em questão eram absolutamente idênticas.

Depois, passo e passo, uma parte da verdade foi vindo à tona. O anterior fabricante já tinha informado a Yamaha, em Julho de 2019, de que iria parar a produção das válvulas.
A Yamaha estava à procura de um novo fabricante de válvulas. Aparentemente, os engenheiros da Yamaha desconheciam que o processo de fabrico em cada empresa de engenharia é diferente e, portanto, o produto provavelmente também.
Ao mesmo tempo, os técnicos da Yamaha enganaram os rivais, quando o gestor de projetos do MotoGP, Takahiro Sumi, disse à concorrência numa reunião da MSMA que as válvulas do novo fornecedor seriam instaladas em todos os motores, incluindo o motor de amostra, em 2020. Mas nesse, como vimos, estavam montadas as válvulas do antigo fornecedor.

(continua)

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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