MotoGP, 2020: Fim da guerra de palavras entre Oliveira e Espargaró?

Por a 7 Setembro 2020 14:00

Miguel Oliveira e Pol Espargaró trocaram palavras fortes após a polémica colisão do Grande Prémio da Áustria em Spielberg. O chefe de competição da KTM, Pit Beirer, teve de fazer o papel de gestor de conflitos.

A KTM Red Bull sofreu alguns contratempos nos primeiros três anos do projeto de MotoGP. Um dos maiores fracassos foi com o compromisso de Johann Zarco para 2019 e 2020. O Francês simplesmente não se adaptou à RC16 e acabou despedido. Depois de ganharem dois títulos mundiais de Moto2 e seis pódios de MotoGP na Yamaha os franceses da Tech3 davam suficiente confiança para incrementarem o esforço da KTM RC16 para lá do que o combativo e corajoso Pol Espargaró podia fazer sozinho.

Talvez não melhores amigos, mas adversários de respeito…

Assim, no GP de Spielberg de 2019 Zarco rescindiu o contrato para 2020, depois de um 11º lugar em Misano, tendo sido colocado de licença para o resto da temporada pela KTM.

O Francês tinha muitas vezes dito coisas negativas sobre a falta de competitividade da KTM por fim, a manobra irrefletida de Zarco contra o colega de marca Oliveira em Silverstone também irritou o CEO da empresa, Stefan Pierer. “O Miguel foi derrubado pelo Zarco. Não foi um acidente de corrida”, disse o austríaco indignado. “A nossa separação abrupta em Misano foi a medida certa. Apesar das circunstâncias difíceis, comportámo-nos de forma muito justa ao deixá-lo correr na LCR a pedido de Alberto Puig nos últimos três Grandes Prémios e continuámos a pagar o salário de Zarco até Misano. O compromisso com o Zarco foi um erro. Não há nada a acrescentar!”

Desde então, na Ducati Avintia, Zarco já alcançou a pole position em Brno, bem como um terceiro lugar, e em Spielberg provou as suas habilidades com a terceira melhor marca na qualificação.

Terá o vencedor de 16 GP acabado por entrar na equipa fábrica da KTM Red Bull um ano antes do que devia?

Para Pit Beirer, diretor desportivo da KTM, este tema já vem sendo discutido há um ano. “No nosso projeto, tudo aconteceu na altura certa. Estou absolutamente feliz com os quatro pilotos que temos agora.”

Mas há um ano, o diretor de corridas da KTM, Mike Leitner, dissera: “Já aprendemos que já não devíamos contratar um piloto vindo da Yamaha.”

De facto, depois de Bradley Smith e Johann Zarco, e depois de sucessos respeitáveis com a Yamaha M1 de competição-cliente de série, também Hafizh Syahrin nunca foi capaz de se adaptar à KTM V4 de 1000cc, que exigia um estilo de condução completamente diferente e mais esforço físico, pelo menos até à temporada de 2020.

Mas mesmo os quatro pilotos atuais já levaram os altos quadros da KTM à beira do desespero duas vezes na curta temporada até agora. O estreante Brad Binder acertou em Miguel Oliveira no GP da Andaluzia em Jerez, atirando-o ao chão, antes de cair ele próprio na corrida umas voltas depois, e no primeiro GP de Spielberg, Pol Espargaró e Oliveira catapultaram-se mutuamente para fora da corrida após uma colisão. Caso contrário, a julgar pelas suas posições, teriam terminado pelo menos em 4º e 5º.

Na noite da quinta-feira antes do GP da Estíria, Beirer fez questão de falar claramente com os seus pilotos. “Fizemos tábua rasa”, disse o executivo depois.

O que foi discutido exatamente? Será que o antigo campeão do mundo de motocross de 250cc deixou claro aos seus heróis que a Red Bull e a KTM não estão a investir 30 milhões de euros por ano na classe rainha para passar por um “derby de demolição” a cada segundo Grande Prémio?

Beirer: “Não quero falar mais destes incidentes. Mas era importante que falássemos sobre como trabalhar como uma família. Quando as coisas aquecem um pouco, temos de trazer toda a família para a mesa, fazê-los olharem-se nos olhos e resolverem os problemas imediatamente. Felizmente fizemos isso antes do GP da Estíria, por isso pudemos começar o fim-de-semana completamente livre de pressões. Era completamente desnecessário manter esta luta interna.”

Oliveira, que venceu a sua primeira prova do Mundial de MotoGP três dias depois do debate, não tinha sido muito simpático com Espargarón nas suas declarações após a colisão. “Pol tem tendência a não olhar para dentro quando sai largo e volta à linha ideal”, disse o português – e inferiu que Pol demonstrara cabeça quente e falta de inteligência.

Pol respondeu que tinha desenvolvido a KTM RC16 que Oliveira estava a utilizar durante três anos e esperava por isso algum respeito e gratidão…

“Os pilotos de corridas são pilotos de corridas. Nós, na KTM, nunca apontámos culpados”, sublinha Beirer. “Se um piloto é apertado, tem de voltar a encostar, se for piloto de corridas. E se outro corredor está por trás dele e vê um buraco, então tem que aproveitar. Foi um clássico acidente de corrida. É por isso que a atribuição de um culpado nunca foi um problema para nós.”

No fnal, no GP da Estíria, Oliveira e Pol Espargaró foram vencedor e terceiro, acabando no pódio juntos e apertando as mãos desportivamente.

Mas mesmo assim é pouco provável que uma viagem de férias de Pol Espargaró e Miguel Oliveira juntos venha a ter lugar. Os dois podem respeitar-se, mas não são propriamente melhores amigos.

“Não é como se eles tivessem de me dizer por contrato o que fazem no seu tempo livre “, diz o chefe da competição da KTM, Pit Beirer, com um sorriso.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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