MotoGP, 2020: Brothers in Arms
Ainda relativamente raro há uns anos, atualmente são vários os casos de irmãos a competir nas várias Categorias de Moto GP, inclusivamente na mesma classe como rivais
Há uns anos atrás, era muito raro, senão inédito mesmo, que irmãos competissem em MotoGP. A competição moto era uma coisa considerada perigosa, para malucos, e um irmão que fosse mordido pelo bichinho faria o seu melhor para desencorajar outros de seguir nas suas pegadas.
Mesmo assim houve vários irmãos a competir juntos, como os Haslam, de que apenas Ron chegou ao Mundial, ou o caso de Felice Agostini, que mesmo impulsionado pelo irmão Giacomo Agostini nunca teve o mesmo sucesso do seu irmão mais velho, ou ainda nas 500, por um breve período no início dos anos 90 os irmãos franceses Bernard e Marc Garcia.
Pouco depois, talvez impulsionados pelo sucesso do pai, os irmãos Angel e Pablo Nieto tentaram a sua sorte, mais uma vez sem grande sucesso, embora “El Chiquitin”, agora gestor da VR46, ainda ganhasse um Grande Prémio de Portugal em 125 em 2003.
Um caso semelhante mas com mais sucesso foi o dos irmãos Kenny Júnior (acima) e Kurtis Roberts (abaixo). Se Kenny Jr. pelo menos foi o último Campeão Mundial da Suzuki antes de Mir (e antes das 4 tempos de MotoGP), Kurtis teve algum sucesso na América mas, mesmo pelo mão do pai, e apesar de ter corrido durante uma década na equipa deste, entre 1997 e 2007, nunca conseguiu melhor que acabar no Top 15 meia dúzia de vezes, numa fase difícil para as MotoGP. Não veremos fotos com ambos, desde que, em 2016, uma disputa familiar os incompatibilizou.
Nessa altura, parece que quando um irmão estava destinado a ter sucesso o outro estava destinado a falhar, e raramente o talento se replicava na família.
Chegou então a escola atual de MotoGP, onde os pilotos começam cedíssimo, literalmente como crianças, pouco depois de saber andar e portanto é lógico que os irmãos submetidos a essa mesma escola acabem por ter resultados semelhantes e desenvolver o seu talento por igual, ou muito parecido.
Imediatamente à memória saltam nomes como os Espargaró, até 2020 os únicos irmãos na categoria de MotoGP, a que se vieram juntar os Márquez este ano. Ironicamente, depois de muita controvérsia e inclusivamente a sugestão velada, negada veementemente pelo próprio, de que Alex só entrou na Honda Repsol quase por imposição de Marc, os dois acabariam por quase não se encontrar em pista após Marc ter sido excluído por lesão logo na primeira corrida.
No entanto, a batalhar em categorias diferentes, o campo expande-se para os Binder, irmãos Sul-Africanos de inegável talento, onde o mais velho Brad, depois de um título em Moto3 em 2016, quando partilhou a grelha com o irmão Darryn, se veio a torna este ano o primeiro vencedor da KTM em MotoGP.
Darryn, devido à diferença de idade de 3 anos, ainda estava nas Moto3 quando o outro já tinha atingido a classe rainha.
Depois, claro, e destinados a encontrar-se em pista em 2021, estarão os meio -irmãos Valentino Rossi e Luca Marini, onde o elo comum é a mãe Stefania. Um é o piloto de maior sucesso na história, e um caso de longevidade, e o outro ainda está por fazer a sua marca na modalidade.
Podíamos falar de outros em relação a classes mais remotas, como os gémeos Alex e Sam Lowes, um dos quais milita no mundial de Superbike pela Kawasaki enquanto o outro quase conquistou o título de Moto2 este ano.
Nas Moto 3 há também Raul Fernández e Adrian Fernández de Madrid, embora o também Madrileno Augusto Fernández não seja relacionado, sendo Fernandes em Espanha, como em Portugal, um apelido bastante vulgar.
Enfim, poderíamos concluir que a grande mudança foi passarem as motos de uma coisa para malucos, para sobreviver durante uns anos e ir fazer outra coisa, a uma modalidade profissionalizada, com boas hipóteses de segurança e de garantir uma carreira compensadora e plena a um atleta de talento.