MotoGP, 2020: 10 factos que marcaram a época, 4: O escândalo da Yamaha

Por a 30 Novembro 2020 17:00

Após alguma confusão, a Yamaha foi penalizada por ter mudado válvulas nos seus motores sem avisar a organização

A intenção da Yamaha nunca foi ganhar uma vantagem de desempenho mas sim reparar um defeito…”

Lin Jarvis, da Yamaha

Antes do Grande Prémio da Europa em Valência, a 6 de Novembro, foi anunciado pela FIM que a Comissão Técnica de MotoGP tinha decidido penalizar a Yamaha com a perda de 50 pontos do Mundial de Construtores depois da marca ter sido considerada culpada de utilizar motores ilegais no primeiro Grande Prémio de Jerez.

Na altura, só se sabia que tinha havido umas misteriosas avarias com os motores das M1, depois de Rossi na equipa da Monster Energy e Morbidelli na Petronas terem ficado de fora dos Grandes Prémios de Espanha e da Andaluzia.

A avaria foi explicada na altura quando a Yamaha anunciou que o falhanço se devia a um problema com o tratamento das válvulas.

Como os motores são selado, a Yamaha começou por pedir licença À Associação dos Fabricantes MSMA para retificar a situação, mas quando percebeu que isso implicaria dar os motores a examinar à concorrência, potencialmente revelando segredos, retirou o pedido.

A solução técnica preconizada pela marca na altura foi reduzir ligeiramente em cerca de 200 rotações o regime máximo dos seus motores para evitar mais avarias. Desde então, porém, uma investigação da comissão técnica da MotoGP descobriu que a marca estava, de facto, a usar nalguns desses motores válvulas que, embora supostamente idênticas, eram fornecidas por dois fornecedores externos, logo diferentes daquelas que estavam instaladas no motor homologado.

Isto em si configura uma ilegalidade perante as regras, pois os motores não podem ser alterados em relação ao motor submetido no princípio da época para amostragem à direção técnica da Moto GP.

Lin Jarvis, Diretor de Competição da Yamaha e da equipa Monster, explicou: “Começámos o ano com as válvulas homologadas no motor de amostragem, mas depois, todos os oito motores usados na primeira corrida tinham as válvulas do outro fornecedor.

A intenção da Yamaha nunca foi ganhar uma vantagem de desempenho mas sim reparar um defeito que foi encontrado no primeiro lote de válvulas, em nome da segurança em pista.”

Ao requerer da MSMA licença para mudar para outro lote de válvulas tornou-se  evidente que a Yamaha estava a usar, ilegalmente, válvulas de dois fornecedores diferentes.

Na altura, as declarações iniciais da marca pareciam ser algo contraditórias e não faziam muito sentido.

Ao saber da desclassificação, a Yamaha emitiu um comunicado onde se lia:

“Com respeito à sanção por desrespeitar o protocolo que requeria aprovação prévia e unânime da MSMA para usar válvulas de dois fabricantes diferentes dos motores das equipas Monster Energy e Petronas, a Yamaha reconhece, respeita e acata a decisão da FIM e não vai apelar.

Por causa de um lapso interno que levou a uma incorreta interpretação do regulamento, a Yamaha não deu notificação prévia da utilização de válvulas de dois fabricantes diferentes.

A Yamaha gostaria de esclarecer que não houve más intenções na utilização de válvulas de dois fabricantes, que eram fabricadas segundo uma especificação de design absolutamente idêntica.

Na sequência da sanção aplicada pela FIM, a Yamaha reitera o seu apoio aos seus pilotos de MotoGP e às duas equipas em luta pelo campeonato e vai desenvolver esforços excecionais para continuar a competir pelo título construtores e pilotos.”

Entretanto a Yamaha já tinha, pelo menos no caso de Maverick Viñales, usado um sexto motor, mais um que os 5 permitidos, nas três corridas finais, obrigando o espanhol a arrancar da box numa das corridas. O único que não tinha tido mais problemas com os motores era Valentino Rossi, porque com todos os outros azares que teve, entre quedas e o susto do Covid, perdera três corridas e portanto, acabava por ter menos quilometragem nos seus motores.

Quando a penalização foi anunciada, do lado dos outros fabricantes houve consternação, pelo facto de que só a marca tinha perdido os pontos, e não os pilotos que estavam em contenção para o campeonato de pilotos.

Porém, ninguém fez uma queixa formal, que Davide Brivio da Suzuki explicou dizendo que, se a Suzuki ganhasse, não queriam que se dissesse que o tinha feito à custa da desclassificação da Yamaha.

A partir daí, com o Mir vencer o campeonato, a coisa resolveu-se por defeito, e o incidente acabou por não tirar mérito ao Campeonato da Suzuki, mas sem dúvida afetou gravemente a imagem e o prestígio da Yamaha, tão importante para os japoneses da marca, a nível internacional, até porque as primeiras explicações foram atabalhoadas e provaram-se inexatas, se não propriamente mentiras.

Sabendo como estas coisas são nos bastidores é de esperar que entre agora e o ano que vem, algumas cabeças rolem no quartel general de Ywata ou mesmo na direção da equipa de MotoGP.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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