MotoGP, 2020: 10 factos que marcaram a época, 2: O título de Mir e da Suzuki

Por a 2 Dezembro 2020 17:00

Dos potenciais candidatos ao título de MotoGP em 2020, Mir e a Suzuki Ecstar eram dos menos prováveis à partida, o que ilustra bem a imprevisibilidade de uma época incrível

a Suzuki era claramente superior numa data de áreas

A partida no início atrasado da época em Julho, nada faria prever o seu desfecho 5 meses depois em Portimão.

Após o descalabro do afastamento de Marc Márquez e das duas primeiras vitórias de Fábio Quartararo, o ex-rookie francês era o firme favorito, liderando o Campeonato de MotoGP metade da época, até porque às suas duas vitórias em Jerez se seguiram outras de pilotos estreantes, a de Binder em Brno e depois de Dovizioso na Áustria, claro, a espantosa vitória de última curva de Miguel Oliveira na Estíria.

Com isso tudo e com Binder e Oliveira a não terem terminado na Andaluzia, e Dovizioso com apenas um pódio para mostrar das primeiras 3 corridas, Quartararo estava destacado no comando do campeonato, ou melhor, estava no comando do campeonato, porque ninguém estava destacado, com os primeiros cinco separados por apenas 4 pontos.

Sem vencedores repetidos além de Quartararo, mas dois bons pódios de Viñales em terceiro, a Yamaha era apontada como favorita, especialmente depois de um raro pódio todo Yamaha na segunda corrida.

A seguir, a vitória de Dovizioso na primeira na Áustria viria mesmo dar ao Italiano da Ducati a liderança do campeonato, ironicamente ao mesmo tempo que se soube que seria despedido da equipa no final da época.

Só que era uma liderança efémera e de facto fictícia, reduzia a apenas um ponto quando a seguir Morbidelli e Viñales venceram em Misano e já íamos em 6 vencedores diferentes.

Por outro lado, só 20 pontos separavam os primeiros seis no campeonato incluindo neste número Mir.

O piloto da Suzuki começara a mostrar a sua consistência com praticamente quatro pódios seguidos, menos na Áustria, onde fora apenas 4º  depois de liderar a primeira parte da corrida interrompida ganha por Oliveira, que quase de certeza venceria sem a interrupção.

Logo depois de Mir em 4º, uns escassos 20 pontos mais abaixo, estavam 4 pilotos incluindo Nakagami, Oliveira e Rossi e Pol Espargaró o Top 10 mais próximo por uma longa data, basta ver, por termo de comparação, que por esta altura do ano passado, isto é, depois da prova Austríaca, Maro Márquez liderava já por 58 pontos sobre Andrea Dovizioso, e o 10º classificado estava a 170 pontos de distância, sendo ele Takaaki Nakagami, ou seja, a diferença dos primeiros dois em 2019 de 58 pontos era maior que a diferença para o 15º Francesco Bagnaia em 2020.

Isto só preciso estabelecer os bastidores do que viria a partir daí a ser o domínio da Suzuki e de Mir.

A única coisa que faltava e crítica que começava a ser levantada ao agora líder do campeonato era a falta de uma vitória.

Desde a quarta prova na Áustria, Mir só não tinha estado no pódio duas vezes quando em França à chuva acabou apenas em 11º ano primeiro, notoriamente Miguel Oliveira acabara pelo contrário em sexto na sua primeira experiência à chuva em MotoGP que fora também a de Mir.

Logo depois, um novo terceiro em Aragón daria a liderança do campeonato ao espanhol mesmo que apenas por seis pontos sobre Quartararo.

Mais, pela primeira vez no ano, os homens da frente distanciavam-se um pouco com 15 pontos já a separar os primeiros quatro até Andrea Dovizioso e Miguel Oliveira em 10º a parecer já muito distante, a 52 pontos do líder.

No entanto, 20 pontos apenas separavam os primeiros oito até Jack Miller, com Morbidelli, que apesar de inconsistente depois de já não ter acabado três corridas a vencer a seguir em Aragón.

Porém, a Suzuki era claramente superior nessa fase do Campeonato, numa data de áreas: velocidade em curva, inserção em curva, estabilidade, e suavidade no consumo dos pneus que lhe permitia surgir nas últimas voltas.

O que teria sido o seu único problema à partida, acompanhar as Ducati, lentas em curva mas brutais à saída, não era relevante para o caso pois, apesar da vitória de Petrucci à chuva em Le Mans, Dovizioso começara a estar em baixa com apenas 12 pontos marcados em 2 corridas, contra 32 de Mir e 35 de Morbidelli.


Por essa altura, também com muitos vencedores diferentes a espalhar os pontos e a confirmação do não-regresso de Márquez em 2020, já era patentemente óbvio para todos os observadores que Mir era um caso sério, embora a três coisas do final, com 75 pontos em jogo, matematicamente ainda Johann Zarco com 73 pontos em 14º poderia ser campeão.
Quando a seguir na primeira ronda de Valência, apelidada Grande Prémio da Europa, Joan Mi venceu finalmente, é que todos se deram conta de repente que já havia um claro líder, pois Mir liderava agora por 16 pontos sobre Morbidelli com o seu próprio colega de equipa Rins agora também terceiro, tendo ultrapassado Viñales, que vinha de dois resultados sem sequer entrar no top 10.

Quanto a Dovizioso, com dois oitavos, tinha-se afundado na classificação para sexto, atrás de Fábio Quartararo, que também praticamente não marcara nas últimas duas corridas.

A seguir bastou a Mir um prudente sétimo, perante mais uma vitória de Franco Morbidelli, para chegar a campeão por 29 pontos quando havia apenas 25 em jogo em Portimão!
A conquista de Mir foi repentina, embora já não inesperada, e trouxe uma avalanche de sentimentos a toda a equipa da Suzuki:

A Davide Brivio, que tinha restaurado a formação no regresso da Suzuki com o seu estilo muito particular de gestão por simpatia, depois de se terem retirado entre 2007 e 2011.

A Mir que ainda no ano anterior como rookie tinha lutado com uma lesão a meio da época, sem a qual podia ter acabado muito mais alto, e de facto, com o concurso de Alex Rins a marcar também uma vitória e 3 pódios, a marca de Hamamatsu tinha conquistado também o título por equipas, estando em jogo em Portimão apenas o de construtores.

Este falharia à moto azul e prateada e iria para a Ducati, não devido a mérito dos homens da fábrica, mais uma vez muito apagados em Portugal, mas sim do excelente pódio de Jack Miller em segundo a seguir a Miguel Oliveira.

A efeméride é tanto mais relevante porque 2020 era o 100º aniversário da Suzuki, cumpriam 60 anos desde que a marca tinha começado a competir na Ilha de Man com Mitsuo Itoh, e 20 deste que tinham tido um título na classe rainha com Roberts Júnior em 2000.

Também foi a primeira vez que a Suzuki ganhou o campeonato por equipas, que levou Toshihiro Suzuki, presidente da marca, a dizer:

“Gostaria de dar os parabéns e expressar a minha gratidão à Equipa Suzuki, e a Joan Mir, por ganharem o mundial de MotoGP de forma tão categórica numa época tão difícil. É um ano notável, com o 100º aniversário de Suzuki e eu gostaria também de agradecer a todos os clientes, fãs e concessionários que sempre apoiaram os nossos esforços!”


O título inesperado vinha na sequência de títulos por Barry Sheene em 1976 e 1977, Lucchinelli em 1981, Franco Uncini em 1982 e depois, claro o de Keiñ Schwantz em 1993 e último com a RGV de dois tempos de Kenny Roberts Júnior em 2000.

Assim, aos 23 anos, o Maiorquino Mir juntou-se a um glorioso alinhamento de pilotos que começara seis décadas antes…

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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TDNM
TDNM
4 anos atrás

Esta época faz-me lembrar um pouco a época da mudança para as 800cc.
Regras diferentes nos pneus e motas completamente novas.
A yamaha passou por algo assim contra uma Ducati que com um motor canhão e uns Bridgestone mais lentos mas de gama de utilização muito mais abrangente, não deram qualquer hipótese.
A Yamaha era quase sempre rápida numa volta mas era incrível o que perdia em reta, nas ultrapassagens grátis.
Este ano a Yamaha, tinha uma mota capaz de ganhar praticamente todas as provas, até se perceber que os motores estavam “rotos”.
A partir da altura que cortaram revs nunca mais foram regulares.
Na falta de Márquez era uma lotaria entre yamahas, mas acabou por ser uma mota que não sendo, de longe, a mais rápida era de certeza a mais regular.
Numa época normal o tempo que as Suzuki perdem no início das corridas é praticamente impossível de recuperar.
Mas numa época em que tudo está baralhado e as corridas fora de época, deixam os dados anteriores menos precisos, ganhou a mota de gama de utilização mais abrangente, com um piloto que tem o factor X, que diferencia os que podem ser campeões daqueles que ganham umas corridas.
É como aquele jogador de futebol que nunca joga mal.
Parabéns ao Mir e à Suzuki.
Foram vencedores mais do que justos.
Cumps.

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