MotoGP Portugal 2002: Chuva embalou Rossi para a vitória

Por a 2 Novembro 2021 10:00

Com previsões meteorológicas pouco animadoras, que acabaram por confirmar-se no dia da prova, o GP de Portugal de 2002 teve na chuva o grande protagonista, fazendo ‘estragos’ em todas as corridas e no espectáculo, que mesmo assim ainda conseguiu manter a emoção e a dúvida quanto ao nomes dos vencedores e que foram Valentino Rossi (MotoGP), Fonsi Nieto (250cc) e Arnaud Vincent (125cc). Recordamos a história desse Grande Prémio, o terceiro no Autódromo do Estoril

Mesmo nestas condições pouco convidativas, o público não quis perder a oportunidade de ver ao vivo os seus ídolos das “duas rodas” e rumou ao Estoril, que recebeu ao longo do fim-de-semana 44 mil espectadores (32 mil no domingo), números sensivelmente inferiores aos verificados no ano passado, mas com a chuva intensa que caiu, convenhamos que até não foi muito mau!  Mas se o clima não esteve ao nível desejado, já o mesmo não se poderá dizer da organização, provando que não foi acaso que na época foi considerada a segunda melhor do campeonato.   

Em termos desportivos, a jornada lusa foi marcada pelas condições da pista que estiveram na origem de um autêntico festival de quedas, com influência directa no resultado e desenrolar das corridas, que por isso mesmo quase se transformaram numa lotaria, dada a forma como se sucederam e alteraram o rumos dos acontecimentos. A chuva caiu ininterruptamente na corrida de MotoGP que, apesar de tudo, teve excelentes momentos de emoção e de dor, em que o grande intérprete foi um espanhol, não aquele que seria mais previsível, Carlos Checa, o mais rápido nos treinos, mas Sete Gibernau. O piloto da Suzuki, especialista em pisos molhados, não deixou os seus créditos por mãos alheias e dominou de forma clara até três voltas do final, momento em que não conseguiu evitar uma “escapadela” da traseira da sua Suzuki, entregando a vitória ao italiano Valentino Rossi, até aí apenas um espectador atento, assumindo-se incapaz de incomodar Gibernau. Com este triunfo, o Campeão do Mundo ficou em excelente posição para renovar o título, necessitando apenas de somar mais dois triunfos, nas restantes cinco provas, para o garantir virtualmente.

Autor de um arranque desastroso, Carlos Checa não tirou partido do primeiro lugar na grelha, ocupando um inesperado 12º lugar na primeira passagem. A partir daí, o piloto da Yamaha encetou uma espectacular recuperação premiada com o segundo lugar, deixando Ukawa, terceiro classificado, a mais de dois segundos.

A grande desilusão da corrida foi rubricada pelo japonês Daijiro Katoh (Honda), o segundo mais rápido nos treinos, que se quedou por um modesto 12º lugar, incapaz desta vez de provar a rápida adaptação à Honda RC 211V que lhe permitiu o segundo lugar em Brno. Recorde-se que o piloto da Honda-Fortuna venceu a prova portuguesa em 2000 e 2001, então quando corria na classe de 250cc.

Classificação
500cc: 1º Valentino Rossi (Honda), 28 voltas em 54m12,962s, à média de 129,588 km/h; 2º Carlos Checa (Yamaha), a 22,200s; 3º Tohru Ukawa (Honda), a 24.220; 4º Kenny Roberts (Suzuki), a 40,832s; 5º Alex Barros (Honda), a 42,709s; 6º Max Biaggi (Yamaha), a 44,064s; 7º Norick Abe (Yamaha), a 1m49,012s; 8º John Hopkins (Yamaha), a 2m03,101s; 9º Jeremy McWilliams (Próton KR), a 1 volta; 10º Tetsuya Harada (Honda), a 1 volta.

250c:  Nieto um triunfo com sabor a lotaria 
À semelhança do que já tinha acontecido em 125cc, a corrida de 250cc, a segunda do programa, foi disputada toda ela debaixo de chuva, repetindo-se o festival de quedas, embora sem atingir os números registados na primeira corrida do dia. Uma corrida acidentada e atípica, em que o japonês Naoki Matsudo (Yamaha) aproveitou as condições do piso, para saltar do último lugar da segunda fila da grelha de partida, para o comando, mantendo-se aí com aparente facilidade e afastando-se dos seus adversários, muitos dos quais iam deixando por terra e asfalto os seus objectivos. Mas o sonho do piloto nipónico desfez-se a seis voltas do final, ao também ele, cometer um erro de palmatória, quando parecia ter tudo muito bem encaminhado para somar o primeiro triunfo da sua carreira.

Mas, o incrível – e aqui se poderá perceber a forma acidentada como se desenvolveu a corrida – é que o espanhol Fonsi Nieto (Aprilia) acabaria por chamar a si o triunfo, mesmo depois de  sofrer uma queda, quando ocupava o segundo lugar. Só que a sorte estava do lado do espanhol, que poucas voltas depois assistiu à queda do italiano Franco Battaini, então segundo classificado. Restava Matsudo que, poucas voltas depois, deixava via livre para o êxito do piloto espanhol, para grande alegria dos milhares de compatriotas espalhados pelas bancadas do Estoril.

Mais interessado em pontuar do que em arriscar uma queda, o líder destacado do campeonato, Marco Melandri (Aprilia), que já somou sete triunfos esta temporada (seis dos quais consecutivos) fez uma corrida inteligente, à campeão,  que o levou, sem pressas e consistentemente, até ao segundo lugar, permitindo-lhe reduzir ao mínimo a perda de pontos para o seu mais directo rival e dando mais uma indicação precisa, ainda que não fosse necessário, de que é o grande candidato ao título.

Depois do brilharete nos treinos, o argentino Sebastian Porto estava consciente de que nestas condições tinha poucas hipóteses de lutar pela vitória, daí que, muito inteligentemente, tenha optado por uma toada calma, mas muito regular, que lhe permitiu igualar o resultado de Brno.

Classificação
250cc: 1º Fonsi Nieto (Aprilia), 26 voltas em 53m59,901s à média de 120,854 km/h; 2º Marco Melandri (Aprilia), a 0,684s; 3º Sebastian Porto (Yamaha), a 7,342s; 4º Roberto Rolfo (Honda), a 23,576s; 5º Roberto Locatelli (Aprilia), a 49,234s; 6º Emilio Alzamora (Honda), a 1m00,628s; 7º Leon Haslam (Honda), a 1m36,634s; 8º David Checa (Aprilia), a 1m39,550s; 9º Dirk Heidolf (Aprilia), a 2m12,740s; 10º Hector Faubel (Aprilia), a 1 volta.

125cc: Vincent… como “peixe na água”
A cilindrada de 125cc, que abriu o programa, foi a mais prejudicada pela bátega de água que se abateu sobre o Estoril poucos minutos antes de iniciar-se a corrida, deixando a pista inundada e muito escorregadia, o que explica o autêntico festival de quedas, protagonizada por mais de 20 pilotos, dos 35 que participaram na corrida, entre eles o campeão do Mundo e líder do campeonato, Manuel Poggiali (Gilera) e um dos principais candidatos ao título, o espanhol Dani Pedrosa (Honda).

Nestas condições, os prognósticos para a corrida foram por… água abaixo e passaram a ser os favoritos neste estado do piso que ditaram a lei, como foram os casos do francês Arnaud Vincent (Aprilia) e do alemão Steve Jenkner (Aprilia). Vincent agarrou com “unhas e dentes” a excelente oportunidade para, como “peixe na água”, brilhar e assumir a liderança no campeonato. A sua tarefa ficou facilitada porque o seu mais directo rival, Manuel Poggiali, teve uma jornada para a esquecer, iniciada com uma queda na volta de aquecimento, que o obrigou a sair das boxes e desde logo, salvo qualquer “milagre”, a ficar afastado da luta pela vitória. Mas o Campeão do Mundo estava mesmo em dia “não” e viria a repetir a graça a três voltas do final da corrida. Um erro de palmatória do piloto de São Marino que ocupava então o quarto posto, suficiente para conservar a liderança no campeonato.

Para o francês foi uma jornada de “ouro”, já que somou o quarto triunfo da época e desalojou Poggiali da liderança, resistindo muito bem aos ataques do italiano Simone Sanna (Aprilia) que, no decorrer da última volta, ainda ultrapassou o líder mas viria a cometer um ligeiro erro, terminando em segundo. O último lugar do pódio foi para o outro “especialista”, Jenkner, que esteve integrado no trio que lutava pela vitória, rodando grande parte da corrida no segundo posto, cometendo um ligeiro erro, logo depois de ceder aos ataques de Sanna, que o deixaram isolado no terceiro posto.

O espanhol Dani Pedrosa, mesmo com uma queda à mistura, foi o outro grande beneficiado com a queda de Poggiali, já que ao somar seis pontos ( 10º lugar) reduziu para cinco a distância que o separa do campeão do Mundo, o que deixa a luta do título mãos aberta do que nunca, embora com três claros candidatos: Vincent, Poggiali e Pedrosa.

Classificação
125cc: 1º Arnaud Vincent (Aprilia), 24 voltas em 49m05,300s, à média de 122,676 km/h, 2º Simone Sanna Aprilia), a 0,867s; 3º Steve Jenkner (Aprilia), a 2,600s; 4º Pablo Nieto (Aprilia), a 48,520s; 5º Masao Azuma (Honda), a 57,972s; 6º Lucio Cecchinello (Aprilia), a 1m10,035; 7º Gino Borsoi (Aprilia), a 1m14,682s; 8º Mika Kallio (Honda), a 1m27,994s; 9º Thomas Luthi (Honda), a 1m39,443s; 10º Daniel Pedrosa (Honda), a 1m50,519s.  

Campeonato – 500cc: 1º Rossi, 245 pontos; 2º Ukawa, 156; 3º Biaggi, 144; 4º Checa, 116; 5º Barros, 105. 250cc: 1º Melandri, 215 pontos; 2º Nieto, 183; 3º Rolfo, 140; 4º Porto, 110; 5º Elias, 105. 125cc: 1º Vicent, 194 pontos; Poggiali, 171; 3º Pedrosa, 166; 4º L. Cecchinello, 126; 5º Jenkner, 122

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