Miguel Oliveira: “Quero entrar no MotoGP pela porta da frente”
A época extraordinária de Miguel Oliveira não deixou ninguém indiferente e os convites para entrevistas sucedem-se a um ritmo frenético. Numa entrevista à Rádio Comercial, o piloto português falou da época transata, das primeiras impressões do novo desafio no Moto2 e nos objetivos que tem para esta época.
“É fantástico sentir o apoio dos portugueses”
Seis vitórias deram-lhe o vice-campeonato no Moto3, mas acima de tudo cimentaram um lugar no coração dos portugueses. O apoio sempre existiu, mas foi em 2015 que tomou proporções épicas. Miguel Oliveira é o primeiro a reconhecê-lo, sabendo que graças a ele muitas pessoas voltaram a acompanhar o Mundial de Velocidade de Motociclismo: “Sinto muito o apoio das pessoas e este ano então foi um crescendo brutal com as vitórias. Cada vez que encontro alguém dizem-me que estiveram coladas a televisão. Mesmo de madrugada levantam-se de propósito para ver as corridas e é fantástico sentir o apoio dessas pessoas e saber que por minha causa voltam a ver um desporto que não era assim tao visto em Portugal.”
“Jamais poderia desejar que um adversário caísse”
Para levar o título no GP de Valência, a última prova do campeonato, Miguel tinha de vencer a corrida e esperar que o seu principal adversário e agora companheiro de equipa no Moto2, o britânico Danny Kent, ficasse abaixo do 14º posto. Algo que acabou por não acontecer, apesar de o piloto português ter feito tudo o que estava ao seu alcance para manter ‘viva’ a esperança: vencer a prova! Questionado se chegou a desejar que acontecesse algum infortúnio ao rival, o piloto natural de Almada respondeu com um contundente “não!”: “Para ser honesto nunca pensei nisso, até porque para mim o que conta é ganhar na pista e em termos desportivos eu jamais poderia desejar que algum adversário caísse. Não me ficaria bem.”
Com uma maturidade e honestidades pouco comuns num jovem de 20 anos, Miguel fez a seguinte avaliação da temporada: “No final de contas, o Danny construiu aquele campeonato desde início. Eu falhei algumas provas no início da temporada, tive um azar na Alemanha porque parti a mão e, contas feitas, tirando esse azar poderia ter sido campeão do mundo com alguma vantagem”. O piloto disse ainda que durante a corrida decisiva pediu à equipa para não lhe dar qualquer informação sobre a posição do rival em pista: “A minha única preocupação era ganhar e foi o que fiz.”
Sobre o novo companheiro de equipa na Leopard Racing, Miguel diz que a relação é boa, até porque não existe rivalidade entre ambos: “Não há essa rivalidade porque o campeonato entre mim e o Danny foi uma coisa muito paralela, mas em alturas muito diferentes. Ele dominou a primeira metade do campeonato e eu dominei a segunda, e então os pontos quase que se cruzaram. Foi assim uma luta à distância e não deu para criar aquela rivalidade. Dentro da mesma box demo-nos bem. “Ele já tem um ano de experiência na categoria o que à partida lhe dá alguma vantagem, mas há sempre entre ajuda entre todos nesta fase do campeonato.”
Quanto às diferenças do Moto3 para o Moto2, Miguel refere as rodas, “mais largas”, até porque a moto pesa muito mais: “São cerca de 140 kg, enquanto a Moto2 pesa 80kg. Depois tem muito mais potência e é muito mais difícil de conduzir. Exige muita adaptação a nível físico. A cada volta a moto tem uma reação diferente e, por exemplo, o seu comportamento é totalmente diferente com o depósito cheio ou vazio. Quando terminamos é muito mais fácil.”
“Ficar nos cinco primeiros já seria muito positivo”
Nesse sentido, a preparação física é muito importante: “Para a maior parte das pessoas andar de moto é algo fácil. Mas a este nível requer muita preparação. Em cada travagem sofremos muitas forças, na aceleração também. Depois, a moto não é leve. Vai ficando pesada com a velocidade e exige muito esforço a nível do cardio porque vamos curvados – não temos uma posição favorável para respirarmos. Os nossos batimentos cardíacos também são elevados por causa da adrenalina e do nosso esforço, portanto eu preparo-me cerca de três dias por semana no ginásio, com treinos de duas horas, e depois nos outros dias corro ou faço natação para estimular o desenvolvimento cardiológico.”
Ciente de estar a um passo do MotoGP, a categoria-rainha do Mundial de Velocidade de Motociclismo, Miguel Oliveira assume que os próximos anos serão decisivos para concretizar esse objetivo de chegar à elite da modalidade: “O objetivo é num futuro muito próximo poder estar no MotoGP, mas isso vai ter de ser sustentado em resultados no Moto2. Eu diria que ficar nos cinco primeiros no campeonato seria já um resultado muito positivo. Se a partir da primeira corrida eu conseguisse fazer um top 10 e no final da temporada fosse capaz de ganhar uma corrida ou outra já seria muito positivo e irá obviamente ditar a minha entrada numa boa equipa do MotoGP. Não quero simplesmente entrar no MotoGP pela porta de trás e sim pela porta da frente.”