Miguel Oliveira: “Tive propostas para ir para o MotoGP”

Por a 5 Dezembro 2015 17:20

Com a humildade dos grandes campeões e os pés bem assentes na terra, mas sem esconder a ambição de subir ainda mais na carreira. Foi assim que Miguel Oliveira fez esta noite, em Lisboa, o balanço de uma temporada inesquecível, na qual obteve não só a primeira de seis vitórias no Moto3, como ainda se sagrou vice-campeão da categoria.

O palco estava montado com fatos, capacetes e motos diversas da juventude de Miguel Oliveira. Uma lembrança do caminho árduo e seguro que percorreu até finalmente se tornar num dos maiores valores do Mundial de Velocidade de Motociclismo. Em 2016, o piloto português irá enfrentar um novo desafio com a subida à categoria intermédia, representando, desta feita, as cores da Leopard Racing com uma Kalex/Honda e tendo como companheiro de equipa o atual campeão do Moto3 e grande adversário na luta pelo título de 2015, Danny Kent. Mas antes houve tempo para recordar os cinco anos em que esteve na divisão de acesso, classificados pelo próprio como um período de “muita progressão”, com “muitos altos e baixos”, mas cujo balanço final é positivo: “Os anos com a Mahindra foram de desenvolvimento e esta época foi muito positiva com a primeira vitória da minha carreira. Tive depois a lesão na Alemanha, que não ajudou, e algum sabor agridoce por não ter obtido o título por tão pouco. Mas estou muito contente com a minha evolução enquanto piloto e pessoa. Tive um final de época dominante, talvez o mais dominante da história do Moto3”, acrescentou.

 

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FORÇA DE VONTADE
Apesar dos extraordinários resultados obtidos em 2015, o início da temporada não foi o mais feliz, com Miguel Oliveira a admitir que sentiu, a partir da terceira prova, “pressão” para terminar uma corrida: “Entrámos com expetativas muito altas e faltava-me um bom resultado. Claro que uma queda por culpa de outro piloto também não ajudou, mas na quarta corrida, em Jerez, obtive o pódio que precisava e esse resultado libertou-me dessa pressão.” A primeira vitória chegaria duas corridas depois, em Mugello, no GP de Itália, mas uma queda no GP da Alemanha viria a comprometer esse sinal encorajador: “Esta temporada tive três quedas. Curiosamente penso que foi aquela em que caí menos vezes, mas na Alemanha tive o azar de partir a mão. Estamos preparados para estas situações enquanto pilotos, mas obviamente que custa a encarar o futuro quando nos lesionamos. Felizmente só perdi uma corrida”, recordou.

Sobre o impressionante final de época, em que venceu as três últimas corridas de forma consecutiva, Miguel Oliveira revelou que uma alteração na KTM, aliada à sua força de vontade e ao facto de ter acreditado “sempre que era possível” permitiu-lhe mostrar o seu verdadeiro ritmo: “Até Misano não conseguíamos fazer 23 voltas no limite. Era muito difícil aos pilotos da KTM aguentar as últimas voltas das corridas com os pneus usados e apenas em setembro conseguimos ter esse chassis que eu idealizei e tantas vezes pedi à KTM. Felizmente consegui tê-lo a tempo e a partir daí os resultados surgiram naturalmente.”

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Neste balanço de temporada não faltaram também as referências ao primeiro contacto com a nova moto da Leopard, em novembro, experiência que o piloto de Almada classificou como “estranha”: “A sensação foi totalmente distinta e tive que deitar fora o que aprendi em tantos anos em categorias de baixo peso. Com tantos cavalos e mais pesada, a diferença para o Moto3 é realmente grande na forma como trabalhamos o corpo. Ainda nem consigo suportar cinco voltas, quanto mais imaginar vinte…” A preparação física, por isso, será fundamental: “Tenho uma fisionomia muito leve, ideal para o Moto3 e que também foi trabalhada para isso, e agora vou precisar de aumentar em pelo menos 3 kg a minha massa magra e fazer com que os músculos cresçam mais um bocadinho para suportar a Moto2.”

PASSOS CORRETOS
Ainda sobre a próxima época, Miguel Oliveira diz que “um bom resultado será pontuar em todas as corridas” e completar o primeiro ano de experiência “sem quedas”: “Eu também já me habituei a ganhar e embora compreenda a expetativa das pessoas a verdade é que a categoria onde eu vou entrar é muito difícil”, referiu.

Quanto à opção pela Leopard, um acordo válido para o próximo ano, mas que pode vir a ser prolongado, o piloto português revelou que aceitou este desafio depois de a equipa lhe ter apresentado “pessoas muito interessantes” com quem irá trabalhar na próxima temporada e as garantias económicas de que iria ter “todas as condições e ferramentas” para poder vingar no Moto2. Sobre o facto de passar a trabalhar com Danny Kent, Miguel Oliveira afirma que espera até “aprender dele” dada a anterior experiência do britânico na categoria, esclarecendo ainda que não o vê como um rival. “A experiência dele será valiosa no desenvolvimento da equipa”, salienta.

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A terminar a sessão, Miguel Oliveira garantiu que teve convites para ir para o MotoGP, mas que dar esse salto seria prematuro. Espera antes ter oportunidade de sobressair na nova categoria e que irá trabalhar para então depois agarrar as oportunidades: “As centralinas são iguais para todos, os motores também e a Kalex é o construtor de chassis dominante, portanto é uma categoria com menos variáveis e nesse sentido é o piloto quem sobressai. Vou trabalhar para isso porque é tudo uma questão de trabalho. Eu próprio vou aprender a guiar a moto e quantos mais quilómetros percorrer com ela melhor será para poder tratá-la por ‘tu’. Depois espero então chamar a atenção do MotoGP. Tive propostas para subir diretamente, mas penso que é necessário dar os passos corretos”, afirmou.

Sobre os apoios das empresas portuguesas, Miguel Oliveira acredita que estas “acabaram por se aperceberem do potencial e dos valores que eu defendo” e que os resultados desportivos “ajudaram muito”, abrindo as portas a novos contactos. No entanto, o piloto português admite que, “felizmente”, não precisa de grandes apoios para correr neste momento: “Os meus resultados e o meu profissionalismo têm-me mantido no Mundial e levado às melhores equipas do paddock.”

 

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