Marc “Samurai” Márquez – Em Honra do Império
Muito se tem comentado e escrito sobre a actual situação que envolve o piloto Marc Marquez, seis vezes campeão do mundo, na sua relação com a Honda. Todo o tipo de críticas têm caído sobre o piloto espanhol, desde o excesso de agressividade do mesmo em pista, às sugestões de erradicação com que o mesmo deveria ser penalizado.
O certo é que o binómio piloto versus máquina não tem vindo a obter os resultados que habitualmente lhe são reconhecidos, com prejuízo para o piloto em consequência das quedas constantes de que o mesmo tem sido vítima. E digo vítima porque entendo que existe uma realidade que condiciona o sucesso de Marc Marquez na perseguição às Ducati e restantes motos europeias… a sua RC213 V.
E as estatísticas falam por si… vejamos:
- No que vai de Grandes Prémios este ano a Honda, apesar de ter apenas 4 pilotos versus os 8 pilotos da Ducati, é que tem um rácio de caídas mais alto do qualquer outra marca, ou seja , uma média de 5 caídas por piloto enquanto que a Ducati tem apenas uma média de 4,4 caídas/ piloto
- No último Grande Prémio da Alemanha 5 Ducatis classificaram-se nos 5 primeiros lugares e nenhuma moto japonesa se cklassificou no Top 10, realidade que não acontecia desde 1969, ou seja, há 54 anos.
- A última vez que a Ducati ganhou em Sachsenring foi em 2008 com Casey Stoner
- Sachsenring é um dos circuito preferidos de Marc Marquez, onde já venceu por 11 vezes e na última prova caiu 5 vezes, sendo que na última acabou por contrair nova lesão com fractura de um dedo na mão esquerda e uma contusão no tornoselo, facto que acabou por implicar a sua desistência, apesar de a equipa médiaca do circuito o ter dado como apto para correr ( loucura ).
- As corridas deste ano estão muito mais rápidas do que há 4 anos atrás, com tempos totais de 9s menos em Sachsenring, 16s menos em Mugello e 15s mais rápidos em le Mans.
- As únicas motos que vemos a acompanhar esta evolução têm sido as KTM e as Aprilia, com a Honda e a Yamaha a não conseguirem resultados positivos na evolução das suas motos.
- Desde o início do Campeonato de 2023 que ainda não houve nenhuma corrida em que tivessem os quatro pilotos da Honda. Com Mir e Rins fora por lesões graves, resta Marquez, também debilitado pelas constantes quedas, ( lembramos que desde 2020 o mesmo recuperou de uma gravíssima lesão no braço, que o obrigou a 4 cirurgias muito complicadas, seguidas de uma longa recuperação, colocando-se repetidamente a duvida se o mesmo voltaria a correr e que Marquez seria aquele que viria após a sua recuperação), o certo é que voltou com a mesma garra de sempre para encontrar uma moto que estagnou durante o período da sua recuperação, não evoluindo como as restantes. ( europeias )
- Está claro que Marquez tenta compensar a falta de competitividade da RC213 V procurando ainda mais rodar nos seus limites e nos da moto, sendo que a mesma se tem mostrado imprevisível quando atinge os mesmos ( o dedo do meio mostrado à mesma após uma quase queda em Sachsenring ilustra bem o seu desespero e inconformismo )
Para fundamentar e se perceber melhor o contexto da actual realidade temos que olhar para trás, para aquilo que nos últimos 4 anos a Ducati investiu em desenvolvimento das suas motos e a estratégia que a trouxe até ao sucesso dos dias de hoje.
Se olharmos para as Ducati de hoje e as colocarmos frente a frente com a sua versão de há 4 ou 5 anos constatamos que pouco ou nada se assemelham. No entanto, as Honda e as Yamaha numa apreciação rápida praticamente não diferem.
O que têm então as motos de Bolonha de diferente para em poucos anos terem este domínio no MotoGP ? Porque a estratégia traçada para a sua evolução é totalmente diferente daquela que as marcas nipónicas seguiram ( Honda e também Yamaha … será que a Suzuki se retirou a tempo para não passar vergonhas e após uma vitória no Campeonato do Mundo de MotoGP em 2020 ? )
A Ducati para fazer evoluir as suas motos foi inteligentemente buscar tecnologia à Fórmula 1, contratando um corpo de técnicos da Ferrari altamente especializados em aerodinâmica e introduzindo a tecnologia de “Downforce” na concepção das suas motos ( a Aprilia e a KTM seguiram o mesmo caminho, daí os resultados que estão a obter este ano ).
A tecnologia de “Downforce” utilizada na F1 passou a condicionar o desenvolvimento de todo e qualquer componente das novas Ducati, o motor, o chassi, as suspensões, as rodas e os travões, a electrónica com funções que sobem e baixam a moto e logicamente toda a aerodinâmica da carroceria e respectivos “ apêndices” onde as asas e ailerons passaram a integrar todo o conjunto no sentido de garantir maior aderência e por conseguinte maior capacidade de ir mais rápido, explorando novos limites no seu desempenho, onde a Honda de Marquez ou a Yamaha de Quartararo nunca chegarão, pois estão anos luz em termos do seu desenvolvimento.
A Ducati tem neste momento 8 motos a correr e aposta em pilotos jovens com potencial para aprenderem a pilotar as novas Ducati, ao contrário da Honda que desenvolve a sua moto em função de um único piloto. Enquanto que as Ducati aprendem-se a pilotar e obrigam a ser pilotadas de uma determinada forma, a Honda está especialmente formatada para um único piloto, piloto que teve um período longo de recuperação e que acabou por criar um fosso de desenvolvimento da sua moto.
Face a esta realidade é fácil percebermos que os pilotos das máquinas nipónicas, apesar de Marquez e Quartararo serem reconhecidos pela grande maioria dos pilotos e equipas no Paddock como sendo os melhores pilotos de MotoGP, são obrigados a ir além dos seus próprios limites e das suas motos, para se chegarem às europeias.
Enquanto Quartararo na sua Yamaha YZR-M1 mantém uma postura mais sóbria, talvez por a sua moto ser mais previsível, Marc Marquez, dada a sua personalidade combativa e ao estatuto de 6 vezes Campeão do Mundo que entendemos ser difícil de abdicar, não “atira a toalha” e vai à luta com as consequências que conhecemos.
Mas então que cenário podemos esperar daqui para a frente…. ?
Apesar da muita especulação que tem existido sobre esta realidade, da hipotética pressão que Marquez está a fazer sobre a Honda, possivelmente ameaçando com a sua saída ou com uma atitude mais à Quartararo, com resultados mais humildes e áquem de todo o seu potencial o certo é que ou a Honda “tira um coelho da cartola” ou arrisca-se a ficar sem pilotos, sobretudo devido às suas lesões.
Está a chegar o Grande Prémio de Assen na Holanda, já este fim de semana e Marquez confirmou que irá alinhar, será que a atitude de pilotagem agressiva ao limite se mantém correndo o risco de agravar as suas lesões ou terá uma atitude mais conservadora mantendo alguma frieza face ao desempenho superior das Ducati ( e KTM e Aprilia ) já que o preço a pagar poderá ser demasiado alto.
Tal como os Samurais do Império do Sol Nascente, sabemos que Marquez continuará fiel aos seus ideais e à sua postura de guerreiro, defendendo ( não com a vida esperamos ) o seu estatuto de piloto Campeão do Mundo e a imagem dos seus “Senhores Nipónicos”.
Assen poderá ser esclarecedor e esperemos que esta história não termine de forma trágica, ( com dispensa dos rituais de hara-kiri ) pois não queremos em absoluto que a Marc Marquez seja recordado como “ O Último Samurai “…