Crónica: Rossi retira apelo mas… o MotoGP ganhou ou perdeu?

Por a 10 Dezembro 2015 18:35

Valentino Rossi decidiu retirar o apelo que tinha no Tribunal Arbitral do Desporto, na Suíça, contra a penalização que o levou a sair do último lugar no famigerado GP de Valência de MotoGP. Apesar da intenção inicial ser a de impedir a efetivação da penalização pós-Sepang – algo recusado logo na primeira fase pelo TAS -, esta decisão do italiano e dos seus advogados não era totalmente óbvia, já que Rossi poderia ter deixado que a acção seguisse o seu curso normal e ver qual a decisão final emanada de Lausanne. Por muito inócua que ela fosse.

Só que as instâncias judiciais dificilmente dariam a Rossi – um animal competitivo que aos 36 anos continua a recusar ceder um milímetro na sua postura – o título que ele perdeu em pista, apesar da notável recuperação do piloto da Yamaha na corrida de Valência e da eterna dúvida sobre se Márquez terá, de facto, ‘escoltado’ Lorenzo até ao final.

Mas com a retirada do apelo no TAS, Rossi encerra formalmente um capítulo que trouxe para o Campeonato do Mundo uma atenção inusitada, diríamos mesmo inédita. Abriram-se noticiários generalistas com o episódio na Malásia, até em quadrantes normalmente insensíveis ao MotoGP. Escreveram-se milhões de caracteres na imprensa e nas redes sociais sobre a triologia Rossi-Márquez-Lorenzo. Extremaram-se posições e chegou-se, até, a um ponto amplamente critícável, como o incidente na casa de Márquez com uma equipa de comediantes italianos, ou as alegadas ameaças de morte ao piloto catalão.

O elemento humano

Mas como em qualquer outro momento significativo na história do desporto, o episódio entre Rossi e Márquez mostrou-nos pela enésima vez que, em última análise, é o elemento humano que nos faz orbitar o desporto motorizado. É o romance e é o drama. É a adversidade e a superação. É a oposição de duas fações e a glória de uma delas.

Tal como aconteceu nos tempos de Ayrton Senna e Alain Prost na Fórmula 1, ou com Sébastien Loeb e Sébastien Ogier no WRC, quem ganhou verdadeiramente com o romance literário em que se transformou a época de 2015 foi o MotoGP.

Subitamente, o Mundial de Motociclismo deixou de ser um fenómeno de nicho e ganhou espaço em círculos onde antes não entrava. As personagens deste enredo tornaram-se em heróis ou vilões, sem um espaço pelo meio. E com milhões em todo o mundo à espera dos próximos capítulos…

Ricardo S. Araújo

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