Crónica: A todo-poderosa KTM vira-se para o MotoGP
O anúncio da entrada da KTM no MotoGP e o feedback positivo que emana dos recentes testes de Hofmann e Kallio com a nova RC16 fazem-nos lembrar do enorme poderio que a marca austríaca tem em quase todos os campeonatos onde está envolvida. Falar da KTM é falar de offroad e basta recordar que mais nenhuma marca ganha o Dakar – ‘só’ a maior prova de TT do mundo – desde a vitória da BMW com o malogrado Richard Sainct… há 15 anos!
Mas também não podemos esquecer como a KTM e ‘Tony’ Cairoli dominaram uma era na classe-rainha do Mundial de Motocross. Ou como sete dos últimos 11 títulos mundiais de MX2 foram de pilotos da KTM. Ou até de como a marca austríaca conseguiu o sacrilégio de entrar nos Estados Unidos e bater as rivais japonesas no principal campeonato AMA de Motocross, com Ryan Dungey (campeão em 2012 e 2015) e Ken Roczen (2014) a serem liderados pelo antigo guru da Suzuki, Roger De Coster.
Por outro lado, se excetuarmos as classes mais baixas do Mundial – 125cc e Moto3 – a KTM não tem pedigree na velocidade e, ironia das ironias, até vai deixar de produzir a sua Superbike de estrada, a 1190 RC8. Stefan Pierer, CEO da KTM, defende que estas motos são demasiado perigosas para o uso público e a próxima Superbike da KTM será apenas um instrumento para pistas. Vai chamar-se RC16, precisamente o nome do protótipo de MotoGP…
Uma nova Honda?
Assim que Alex Hofmann testou a nova máquina no Red Bull Ring, logo surgiram opiniões sobre as semelhanças estéticas entre a nova RC16 e a Honda RC213V. Não é coincidência. Basta dizer que o ‘homem do leme’ no departamento técnico da KTM para o MotoGP é Mike Leitner, antigo piloto de 125cc e engenheiro de… Dani Pedrosa na Repsol Honda.
Em termos técnicos, Stefan Pierer revelou que o novo motor V4 com ângulo de 90º já debita qualquer coisa como 270 cv de potência, valores que deverão andar muito próximos dos da Yamaha e ligeiramente abaixo da Ducati e da Honda. Além disso, a KTM RC16 já tem uma caixa totalmente seamless, desenvolvida em conjunto com a XTrac, e as suspensões são feitas ‘em casa’ pela WP, marca propriedade da KTM.
Tanto Hofmann e Kallio como os porta-vozes da KTM referiram que os ensaios no Red Bull Ring e em Valência decorreram sem problemas de fiabilidade, e o finlandês – o piloto que terá maior noção da tecnologia moderna no MotoGP – elogiou amplamente o trabalho feito em Mattighofen. A continuar assim, é muito provável que a KTM receba um wildcard da Dorna para participar no último Grande Prémio de 2016, tal como a Suzuki fez em 2014, mas nada invalida que a estreia oficial da nova KTM até possa acontecer antes.
E, se a marca austríaca conseguir replicar a trajetória vista nas disciplinas offroad, é caso para dizer que a KTM será um caso sério no MotoGP. Ou, pelo menos, parece ter os meios e o mindset adequados…
Ricardo S. Araújo