As mais belas motos de GP, 9: A Honda NS500
A Honda NS500 é uma moto de 500 do início da década de 1980, criada como substituta da inovadora mas malograda NR500
A moto foi contra a preferência da Honda por máquinas de quatro tempos, mas provou ser muito eficaz e rapidamente venceu o Campeonato do Mundo de 1983 com Freddie Spencer a bordo.
Embora a Honda sempre tivesse feito motos a 4 tempos, em 1979, a RC500M de Motocross a 2 tempos ganhou a classe de 500 do Campeonato do Mundo e depois disso, as máquinas de motocross da Honda tiveram um bom desempenho um pouco por todo o mundo.
Nos GP do Mundial de 500, no entanto, a Honda estava a lutar com problemas na sua NR500 de 4 tempos. Para colocar em primeiro lugar a vitória que lhes vinha escapando, a opinião dentro da Honda mudou a favor de passar a motores de 2 tempos, já experimentados e testados, e a NS500 foi assim desenvolvida.
Assignado para lidera o projecto, Shinichi Myakoshi do HRC desenvolveu assim uma dois tempos em que o motor tinha uma configuração V-3 única, semelhante a três motores de motocross combinados num só, e era compacto e leve.
O conceito na Honda, baseado no facto de que as 350 eram pouco mais lentas que as 500, era combater as 4 cilindros da época, pontudas e pouco manobráveis, com uma moto mais leve e dócil de conduzir, de certo modo, reparando os erros cometidos com a NR…
Com uma cilindrada de 498,6cc e um peso de 113 Kg, o V3 a 112º, em que um cilindro apontava para baixo e os outro dois para cima, o motor desenvolvido com a experiência ganha no MX era alimentado através de admissão por pétalas e acoplado a uma caixa de seis velocidades.
A sua potência máxima atingia os 127cv às 11.000rpm, e a Honda aplicou toda a sua tecnologia e experiência na construção de uma grande máquina completa.
A NS500 estreou-se em 1982, com Freddie Spencer, Takazumi Katayama e Marco Lucchinelli como pilotos, e foi uma forte candidata ao campeonato desde a ronda inaugural. Ao mesmo tempo, o mítico Youichi Oguma ascendeu à direcção da HRC e nada seria igual a partir daí.
Spencer trazia consigo um grande engenheiro, o Nipo-Americano Erv Kanemoto, apoiado por dois mecânicos que se tornariam por sua vez famosos, Jeremy Burgess e George Vukmanovich.
Este último viria a desenvolver a Cagiva C594 que já cobrimos nesta série e Burgess, claro, a acompanhar Doohan e Rossi durante anos no Mundial.
Com esta experiência toda a apoia-lo, logo na 7ª ronda, no Grande Prémio da Bélgica, o jovem Freddie Spencer conduziu a NS500 à primeira vitória da Honda em 15 anos, e também venceu as rondas finais em S. Marino e na Alemanha, terminando a temporada com 3 vitórias, apesar de Uncini ter ganho na Suzuki.
Em 1983, o título de campeão era uma prioridade absoluta para a NS500, que foi modificada para ser mais leve e potente.
A saída do motor atingiu os 130 cv às 13.000rpm. A NS500 e Spencer lutaram pelo título em todas as 12 corridas com Kenny Roberts e a sua Yamaha, acabando cada um deles com 6 vitórias.
A NS500 e Spencer venceram o campeonato de construtores por apenas 2 pontos. A NS500 foi então lançada comercialmente em versão cliente como a RS500, com especificações em grande parte inalteradas, e foi recebida entusiasticamente por pilotos privados em todo o mundo.
Aqui estava uma 500, réplica da moto Campeão Mundial, dócil, leve, compacta e relativamente fácil de manter. Da equipa da Força Aérea Sueca com Peter Linden e Peter Skold (18 abaixo no GP Macau de 1986, foto arquivo Paulo Araújo), à poderosa Hein Gerricke Alemã, que alinhou com 3 motos com Klaus Klein, Manfred Fischer e Peter Rubatto, às Honda Itália, GB ou EUA, numerosas equipas de importador, semi-privadas, passaram a alinhar nos campeonatos locais, com RS500 ligeiramente modificadas, ajudando a encher as grelhas do Mundial fazendo uma perninha nos GP que lhes estavam ao alcance.
Nomes como Roger Marshall, Roger Burnett, Raymond Roche, Ron Haslam, Didier de Radigues, Fabio Barchitta ou Simon Buckmaster (sim, esse Simon Buckmaster, ex-manager da equipa Parkalgar nas Supersport) passaram correr com sucesso em Honda.
Quanto à moto oficial, o extraordinário talento de Spencer foi capaz de usar o peso mais baixo e o manuseamento superior da NS500 para alcançar velocidades em curva mais altas, e acelerar mais cedo à saída de curva, batendo as mais potentes no papel Yamaha ou Suzuki da altura.
Ron Haslam também venceu o Grande Prémio de Macau de 1983 com uma.
Após uma duração relativamente curta, e perante a escalda de potência das marcas concorrentes, a moto foi substituída pela NSR500 V4 de dois tempos mais bem sucedida, que não deixaremos de ver nesta rubrica noutra altura.