A demanda de D. Miguel. Por João Pais
Olhamos hoje as tropas oliveiristas e de imediato nos apercebemos de que grassa por ali uma crença advinda do guerreiro que lhes inspira aposta e confiança.
Quer dizer … para além do habitual desejo de ver um português no topo, condimento infalível na receita de recuperação da moral em tempos difíceis como estes que atravessamos, existe assim como uma espécie de fezada interior, de inexplicável e imediata aquiescência na afirmação proferida pelo mais rápido cidadão do Pragal e todos os arredores, quando nos diz que se vê um dia no trono do universo do MotoGP.
Ousada demanda, dir-se-ia!
Em tempos relativamente idos, não tão longínquos que tenha esquecido algo de precioso que um imperdível romance que li me trouxe, tive eu a fortuna de acompanhar a demanda de um outro homem, gente de Trancoso e de sua graça Fuas de Bragatela, que nos idos do século XIV buscando um simples mas valioso tesouro viria a encontrar o amor.
Perdoem-me esta alusão que poderá soar-vos estranha, mas tomem-na como a minha assumpção de que vos interessará a conclusão final, mais ainda tomando por certo que o saber não ocupa lugar.
De facto, apontando em direcção a apetecível e valioso retorno, sinuosos sendo os caminhos do destino, viria o principal personagem a ver-se recompensada com algo maior que um tesouro meramente terreno, tropeçando em algo simplesmente incomensurável como é afinal o amor.
Por isso mesmo, apenas e somente por tal, vos mencionei a imperdível jornada de Dom Fuas, porque olho a Oliveira e comparo-lhe sua demanda pelo título de campeão do mundo em MotoGP, coisa de inegável e incalculável dimensão, com a busca do tesouro que seduziu o nosso homem dos idos de mil trezentos e troca o passo, acabando ambos por receber em dádiva e recompensa por sua labuta recompensa maior ainda, se tal é possível quando falamos de proeza assim.
De que falo?
Mentalidades, senhor, é de mentalidades que vos falo.
Miguel, mais do que ser o mais rápido, para além de nos hipnotizar e deixar em êxtase com seu dom de chegar em primeiro lugar à bandeira de xadrez, traz em si a oportunidade maior de despertar de vez um povo que se foi deixando adormecer na monotonia de dias e dias a mastigar rivalidades assoberbadas e francamente dispensáveis.
Digamos que foi como pegar em tardes de repetidas exaltações domingueiras e transformá-las em longos fins-de-semana a começar às sextas-feiras ali pela fresquinha para terminarem dois dias depois a seguir ao almoço, tudo com o doce sabor da adrenalina instalando-se na corrente sanguínea e diluída em suspiros de deliciosa emoção.
Mantendo-nos neste amparo literário para nos ajudar a levar-vos a mensagem pretendida, dir-vos-ia que o Falcão, esse nosso enorme Miguel Ângelo, sintetiza a exaltação pátria, o fervor histórico e a comoção lusitana descrita por Luis Vaz de Camões em dez longos e irrepetivelmente belos Cantos, sintetiza tal dizia eu, em quatro sessões de treinos livres, uma warm-up e uma corrida, onde tomos velejamos bravos na conquista dos quatro cantos do mundo, assim a Dorna mantenha o calendário.
Dir-me-ão, o que aceitarei com a humildade e a certeza de que apenas com o debate nasce a luz, que exagero em minha análise.
Não o creio, no entanto.
Se vencer o Mundial de MotoGP elevará Miguel Oliveira à condição de ícone do desporto, já a possível cruzada de pegar em centenas, milhares, quem sabe até em milhões de portugueses, e levá-los à viagem maior que é a de acompanhar todos os lusos que em seu esforço, persistência, crença, trabalho e devoção elevam a condição de atletas de raríssima qualidade a exemplos de personalidades a seguir.
Não será Oliveira o primeiro a atingir patamares de elevada e altíssima exigência, mas não poderemos negar que ao actuar num espaço onde apenas cabem cerca de vinte dos mais refinados e dotados pilotos do mundo, do universo e de todos planetas em redor, então o predador almadense merecerá ao menos o crédito e a gratidão por ter escolhido ser grande numa modalidade que em Portugal é amada por milhares e desprezada por quem apenas se coloca em bicos de pés na hora de aplaudir à chegada e dividir as luzes da ribalta, luzes essas que são, ainda e esperemos que por pouco tempo, tão fugazes e pouco duradoiras para com heróis desta estirpe.
Olhamos hoje às tropas oliveiristas, como iniciei esta prosa, e nela vemos gente nova, que chegou com vontade de ficar e de fazer parte da história que agora se desenha com traços cada vez mais ousados, sem rebuço me incluo nos recém-chegados, com o orgulho e a certeza de em boa hora ter alargado meu horizonte de seguidor e apaixonado adepto.
No início dos escritos, com a ajuda preciosa de grupo de amigos que nisto andam há muito, fui tratando de absorver informação e, mais do que isso, muito mais mesmo, fui ganhando e criando meus tiques de imperdível estimação, como sejam o de sair à rua e tecer loas a um menino de sorriso voador, ângulos certeiros e um punho teimosa e certeiramente enrolado, desgastando pneus e pegando na brandura de nosso ânimo o levando ao rubro incandescente de soldados da fé.
Escreveria Camões, estou certo, assim estivesse por aqui:
‘E por curvas feitas com pundonor
Foste Oliveira o nosso vencedor’
Escreveria Paulo Moreiras, pai (salvo seja) do Dom Fuas de Bragatela:
‘E às curvas se atiraria desembestado e de coragens soltas o almadense, cuidando infinita sua certeza d’arribar d’antes c’os demais …’
Dezembro chegou, mais uns diazinhos e já se sabe, mete-se o Natal, depois o Ano Novo e então aí só lá para Janeiro, em chegado o ano da graça de 2021 vamos adiando, protelando, até que desmontamos e empacotamos a árvore, olhamos ao sapatinho a ver se o barbudo nos deixou ao menos a vacina, tempos loucos estes de pedir na chaminé uma pica, chegará logo Fevereiro e com ele os testes, correremos à cozinha a desempacotar a chávena da sorte e finalmente poderemos vislumbrar no calendário a primeira sexta-feira com horários de sagrada observação de cronos e de uma mancha alaranjada com o nº 88.
E eu, fiel escriba vosso e do Miguel Ângelo um singelo e apoiante de entre tantos, eu que já tanto vos macei por aqui trazendo coisas de mundos de aquém e de além motos, pois eu apenas me atreveria a puxar agora das palavras da canção e cantarolar um desejo.
‘O que faz falta é avisar a malta, o que faz falta … ‘
E assim seremos mais e mais a cada dia.
Até sermos todos, ou quase todos!
Vamos lá?
Como sempre. Excelente!!! Já só faltam 3 meses para voltar a sentir aquela adrenalina durante três dias consecutivos.
Passam num instante! 🙂
Fuas e Oliveira, grandes demandas. 🙂
Sem dúvida, grande dupla.
‘E por curvas feitas com pundonor
Foste Oliveira o nosso vencedor’
O maior…está top!
Por aqui todas as semanas à vossa espera!
Até Fevereiro vamos lendo umas notícias, mandando uns bitaites, fazendo umas apostas entre o tal grupinho de amigos e não vai umas almoçaradas e umas jantaradas porque estamos confinados e fora dos concelhos uns dos outros. Mas deixa lá vir as picas que fiquemos todos sãos e salvos a ver se lá para Abril do ano da Graça ( não era a Freitas) a ver se em Abril de 2021, se o campeonato passar pelo reino dos Algarves, não faremos uma patuscada com tudo a que temos direito, celebrando mais uma vitória do nosso Miguelito.
Marca lugar para mim. Garantido. Obrigado pelo comment e… para semana há mais.. 🙂
Bela crónica Janjan. Que a demanda do Falcão atinja a mais elevada glória e que a sorte esteja sempre com ele. Nós estamos!
Estamos sim. E cá te espero para a semana, obrigado pelo comentário.
Grande Miguel Oliveira.
Enorme mesmo! 🙂
Não sendo clérigos, o Oliveira e também o Pais vendem igualmente pedaços de céu. A enorme diferença é que não o prometem, antes concretizam. Ámen. 😉
Ahahahahahahaha… 😉 .. com essa deixas-me sem palavras. Obrigado!
Excelente….as usual….
Obrigado Renato. 🙂
Mais uma boa escrita que nos leva uma viagem espetacular…
Obrigado e um abraco
É uma viagem cada semana . .cá te espero Master Team Manager .. 🙂
Vamos!
Vamo que vamo ..
👏👏👏
😉
Fantástica crónica…! Um verdadeiro hino ao nosso MO. Mesmo quem possa não gostar deste desporto, passa a gostar, com este tipo de cronistas! Continua… Para bem de todos nós!
Assim a pessoa fica sem palavras. Cá te espero para a semana! 🙂
‘E por curvas feitas com pundonor
Foste Oliveira o nosso vencedor’
‘E às curvas se atiraria desembestado e de coragens soltas o almadense, cuidando infinita sua certeza d’arribar d’antes c’os demais …’
Senhor João Pais, quanta inspiração a nos contagiar! Assim não há quem suporte até as águas de março, a chegar!
#BrasilcomMiguelOliveira
Caríssimo Alessandro, é obrigação do escriba enaltecer Oliveira sem descurar o deleite dos leitores. Essa é a tarefa que me cabe. Essa e a de agradecer suas gentis palavras. prossigamos nossa luta e marquemos encontro para a próxima 3ª feira. Conto revê-lo!
Excelente e inspirada escrita. Parabéns por este artigo
Obrigado Nuno. E até 3ª feira que vem, espero!
Um deleite de leitura, como sempre! Continua, és um Miguel Oliveira da escrita!
Palavras amáveis de um colega de carteira e eterno amigo desde os tempos do Liceu. Pena não poder juntar as tuas fotografias à minha prosa! Aparece para semana também .. 🙂
Obrigado MotoSport por este update na vossa pagina! Viajar nas cronicas de João Pais sem sair de casa é impagável!
Como o teu nome indica, nem o Falcão desiste, nem nós deixamos de aparecer a relatar seus feitos. Até para a semana, assim conto!
O Miguel leva-nos nas suas asas mas tu levas-nos a todos na tua “caneta”!
O futuro é risonhamente promissor.
E o futuro é já na próxima terça-feira . .marcamos encontro?
Salve Jan, viajante de corpo e alma, sempre buscando qualidade, lirismo, precisão. Orgulho por vocês estarem curtindo um momento tão especial, vitórias, hinos, champanhe. Que venham novas conquistas em 2021, e obrigado pela carona nas celebrações em língua portuguesa, hehe. Abraçows cariocass, braaaaaaap!
Quanta honra recebê-lo por aqui Fausto, mais ainda sabendo-o apreciador da crónica. Posso convidá-lo desde já para um comentário na próxima terça-feira?Braaaaaaaaap!
Excelente crónica!
Lida a demanda de D. Miguel, fico a pensar o quão épica seria a de D. Quixote por Dulcineia, se em vez de montado no seu Rocinante, fosse numa KTM Tech3, e o seu acompanhante em vez de Sancho Pança, tivesse um João Pais como mind coach… mas afinal, D. Quixote era espanhol, lutava contra moinhos de vento e em 2021, D. Miguel montará cavalos de fábrica KTM, e poucos gigantes serão capazes de estar à sua altura.
Excelente, João País.
Obrigado!
Enorme Hélder, podias bem juntar-te no sofá do cronista e ir segredando dicas. Perfect comment. 😉
Grande como sempre na prosa abraço e continuação
Obrigado Miguel. Para a semana há mais… 🙂
Excelente crónica amigo, é sempre um prazer lê-las. Abraço
Obrigado André, comentário vindo de quem anda no asfalto dos Autódromos, sabe bem!
sempre em alta, e de um gosto enorme enorme ler as tuas cronicas.
Obrigado Nugas .. um destes dias temos de virtualizar uns escritos. 😉
👏🏻🙌🏻👌🏼
:-), para a semana há mais!
Bela crónica, Jan Jan. Abraço.
Thanks Big Peter.
Boa crónica:)
Obrigado Ana.
Bom dia, ler o JRP é como ler o diário de uma paixão sem a lamechice do Nicholas Sparks. Vê -se o crescendo de punho direito corrida a corrida. E o culpado é o MO88.
Não sou aficionado das motos, apenas gosto, e tenho o prazer de ver alguém no caminho mental para um stand.
Abraço.
Obrigado Francisco, por retirares os pôr-do-sol com um casal a correr na praia ao lado de um Golden Retriever ( ada contra uns e outros ) na comparação dos meus escritos. Significa que conto contigo por aqui para semana? 😉
sempre inspiradora essa tua escrita…nunca mais é dia para ver o nosso Falcao montado no novo touro 🙂 um forte abraço Jan Jan Pais 🙂 (de vasco para vasco)
;-). Para semana temos mais por aqui. 🙂
Excelente.
Ler estas crónicas é uma delícia.
Muitos parabéns João Pais pela belíssima escrita.
Obrigado motosport por tão nobre cronista.
Parabéns a ambos..
Obrigado Jorge. Marcamos encontro por aqui para a semana?
O que faz falta é avisar a malta.
Mas a malta tem nova nisto tem que se especializar neste desporto.
Se não passam a vida a debitar balelas.
Ler,ver, ouvir, para perceber.
Aí sim depois comentar.
Luis, creio que quem comenta por aqui, mesmo não sendo expert, vai respeitando e aprendendo com quem sabe. Thats the idea! 😉 Avise-se a malta…
Enquanto nos faltam as emoções que o Falcão nos faz viver, temos a emoção da tua prazeirosa e eloquente escrita que faz vibrar as tropas oliveiristas e todos aqueles que amam o motociclismo em geral. Que gosto em ler a forma como encadeias cada ideia, cada pensamento, acrescido de uma cultura histórica e literária imensa. És enorme!! 🙂
Muitoooo obrigado pelas tuas palavras Fernando.
Mais uma vez muito bom.
Obrigado.