MotoGP, Tailândia: Márquez é Campeão a 4 corridas do final…mas como?
O título de Marc Márquez de 2019, o seu 8º de carreira e sexto quase sucessivo em MotoGP, (interrompido desde 2013 só pelo de Lorenzo) há algum tempo que parecia quase garantido… A confirmação prematura na Tailândia é que não era uma certeza, embora a missão de aumentar a vantagem sobre Dovizioso em 2 pontos sempre parecesse ao alcance do Nº 93 ao longo do fim-de-semana tropical de Buriram quando o rival da Ducati nunca esteve melhor do que 4º, aparte ter liderado a 3ª sessão livre de Sábado de manhã…
O peso do repto das Yamaha foi rejeitado por Márquez, que disse a propósito: “Há algum tempo que as Yamaha estão muito rápidas numa volta pontual, mas depois na distância de corrida é outra coisa!”
O joker no baralho, a Suzuki, parecia auto eliminar-se, Rins já a 144 pontos de Márquez e portanto sem palavra no desfecho, mas porventura capaz de atrasar a consagração do Campeão se pudesse ganhar aqui, mas a mostrar-se, ora rapidíssimo, ora afundado na classificação nos treinos.
Fica a certeza de que é Márquez e não a Honda, que ganha, com Cal Crutchlow, a Honda seguinte, em 9º, Takaaki Nakagami em 12º, embora todo o crédito ao Japonês, com uma RCV de 2018 e Jorge Lorenzo a agarrar-se ao Top 20 com unhas e dentes em 19º… Comparativamente, com apenas 4 GP corridos como Wild Card, Stefan Bradl está só 2 lugares abaixo da segunda moto da Repsol.
O facto é que Márquez faz coisas que nenhum outro consegue com a moto, tendo redefinido ao longo das 2 últimas épocas, não só como se guia uma máquina de MotoGP de 250 cavalos, mas mais especificamente, como se domina a temperamental e quase violenta Honda…
Há muito que a equipa pedia mais à HRC para extrair mais potência da RC213V, especialmente para lidar com a aceleração e velocidade de ponta estonteante das Ducati, mas por vezes aquilo que desejamos pode ser um presente envenenado… Ao dotar o motor da versão de 2019 com mais potência e velocidade, a HRC terá excedido a capacidade da limitada eletrónica de controlo da Dorna, igual para todas as motos do plantel, de ajudar o piloto em todas as situações… o controlo de tração não funciona bem em qualquer situação, há casos em que luta mesmo contra o piloto, e aqui é que Marc Márquez faz a diferença.
A sua capacidade extraordinária, sem par no resto dos pilotos na grelha, de antecipar e contrariar em tempo real as reações negativas da eletrónica faz a diferença e permite-lhe voar a caminho de vitória sobre vitória (9 esta época, incluindo esta que lhe deu o título prematuramente) quando os outros lutam por acabar sequer no Top 10…
A dica é dada por Crutchlow, que consegue resultados com a sua moto decorada com as cores da Castrol apesar da Honda, e não graças a ela… um vencedor de corridas em MotoGP na equipa LCR de Lucio Cecchinello, este ano o ex-campeão de Supersport de Coventry ainda só conseguiu dois terceiros, e luta sessão a sessão com uma moto que se torce e recusa a entrar em curva de forma estável e consistente… este fator por si só explica os maus resultados de Lorenzo, agravados pelas suas lesões, claro, pois o antigo Campeão das 250 dois tempos é um piloto de pura velocidade em curva e as Honda não permitem, simplesmente, conduzir assim…
Segundo Crutchlow, quando se trava no limite da moto, a traseira patina no ar uns segundos, até aqui nada de novo, mas a diferença com a Honda é que, ao aterrar, a eletrónica lê o regresso do pneu traseiro ao alcatrão como derrapagem e contraria a posição da moto para “ajudar”, fazendo-a saltitar ainda mais… é difícil colocar a frente numa curva fundo e rápido quando a traseira está a cabrear no ar e assim, Crutchlow, Lorenzo e até, ocasionalmente, Márquez, mas muito mais raramente, sofrem quedas, sempre à entrada de curva, se repararem…
Como é que Márquez contraria isto? Aparentemente, o catalão aterra a traseira de volta com o travão traseiro já pressionado ao máximo, antecipando e eliminando a reação adversa da eletrónica… é um facto que Ron Haslam ensina há anos no seu curso de pilotagem que quando somos nós a provocar uma derrapagem, por muito assustadora, conseguimos controlá-la… a extraordinária capacidade de reflexos de Márquez, que bate a normal reação de milissegundos da eletrónica, é um dos segredos da sua confiança…
Quando repetidamente temos de entrar a 240 numa curva a centímetros do alcatrão, confiança é tudo para uma volta rápida e consistente.
Como vimos antes com Lorenzo, Stoner, ou Rossi, voltas rápidas e consistentes dão corridas na liderança com relativa facilidade, corridas à frente dão vitórias, vitórias dão pontos e estes, resultam em campeonatos, e isso, mais que tudo, é a razão porque Márquez vence numa moto que outros mal conseguem pilotar!